Quem sou eu

Minha foto
Maringá, Paraná, Brazil
Às vezes se faz necessário caminharmos contra a corrente para descobrirmos a nós mesmos. O exercício se resume em olhar nos olhos daquele que vem ao nosso encontro!

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

VOCÊ É UM ANJO?


Estava atrasado. As horas passaram tão rapidamente naquela manhã que quando me dei por conta o relógio já batia quatorze horas.
Entrei no escritório. Sobre a escrivaninha, uma pequena boneca parecia fitar-me. Parei à sua frente. Minhas mãos tocaram seus cabelos como se fossem de uma criança que, à espera de um carinho, adormecera.
No ímpeto daquele instante, sem nenhum motivo aparente, apanhei-a, coloquei-a em minha bolsa e saí.
No carro, a caminho da escola, alojei a bolsa sobre o banco do passageiro. De minuto a minuto meus olhos se desviavam para certificar-se que estava ali. Impaciente, abri a bolsa e apanhei a boneca, que parecia querer dizer-me algo. Acomodei-a sobre o volante de forma que pudesse vê-la enquanto dirigia. Seus longos cabelos negros esvoaçavam com o vento que invadia o automóvel. Por um momento meus pensamentos voaram sem destino, para um mundo de fantasias, onde as bonecas tinham vida; enquanto o carro invadia a pista contrária. O som de uma buzina fez-me voltar a atenção à estrada. Voltei a si e coloquei-a novamente na bolsa e fechei o zíper, tentando dizer-lhe: ‘fique quieta! Não saia daí’. Fez-se silêncio em minha alma, mas nem por isso o tempo parou.
No pátio da escola, crianças corriam por todos os lados, aproveitando os minutos do recreio. O barulho era ensurdecedor. Desci do carro e tomei o corredor principal que dava para a sala dos professores. Algo ainda me inquietava o coração. Antes que eu pudesse tocar a maçaneta da porta uma pequenina mão segurou a minha, tendo como fundo um grito estridente: ‘professor! Professor!Tem uma menina chorando. Chorando muito! Tentei falar com ela, mas ela não para de chorar. Acho que ela brigou com alguém. Vem vê...vem vê’.
Tomado pela surpresa deixei-me levar. A menina aparentava oito anos. Estava sentada num banco rústico, feito do tronco de uma árvore, num canto isolado do pátio. Seus cabelos negros caíam por sobre a face, ocultando o choro, enquanto o soluço e as lágrimas se faziam eminentes. Abaixei-me. Minha presença parecia insignificante. O soluço aumentava, amparando o desespero daquele choro sentido. A criança chorava com a alma, alheia ao resto do mundo.
Minha mão roçou-lhe os cabelos e parou em seu queixo. Suavemente, levantei-lhe a cabeça, tentando ver seus olhos. A criança desesperou-se. Ajoelhei-me e abracei-a em silêncio, apertando-a contra meu peito. Ficamos assim por um instante, até que uma frase, intercalada de soluços, rompeu os dentes cerrados: ‘eu...não sou o que...aquele menino disse! Eu não sou! Não sou’!
Apertei-a ainda mais contra meu peito, como se confirmasse suas palavras: ‘tenho certeza que não é’! Aos poucos, a criança foi se acalmando. Antes, porém, de um último soluço, outra frase apunhalou-me os ouvidos: ‘eu não sou como minha mãe! Eu não vou fazer o que ela faz...’!
Estremeci, enquanto o desespero saltou novamente sobre a menina. Meus olhos transbordaram o que meu coração sentia. Nem mesmo era necessário compreender suas palavras. Bastava-me compreender seu sofrimento. Sofri com ela. Abracei-a! Era como se sua dor fosse minha dor. Era como se sua mãe fosse minha mãe. Era como se aquela coroa de espinhos que estraçalhava seu pequenino coração pudesse coroar o também o meu. Suportei em silêncio aquela dor, enquanto, aos poucos, aquela criança se abandonava no meu colo...por um imenso segundo...interrompido pela sirene da escola.
Levantei-me e com os polegares enxuguei-lhe as lágrimas, que ainda escorriam, em silêncio. Ajoelhei-me novamente, abri minha bolsa e apanhando a boneca sorri-lhe: ‘eu trouxe pra você’! Entre as lágrimas, a garotinha deixou escapar um sorriso. Apanhou a boneca, abraçou-a e apertando-a contra seu colo inclinou a cabeça. Seus cabelos longos caíram sobre sua face, e, ocultando parcialmente a boneca, revelou uma incrível semelhança: pareciam gêmeas! Levantou a cabeça lentamente e, enquanto segurava a boneca com uma das mãos, a outra procurava meu pescoço. Abraçou-me com confiança, enquanto seus lábios pronunciaram as palavras mais doces que já ouvi: ‘você é um anjo’?

...e a sirene tocou novamente, chamando-a para a sala de aula.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

DÊ O MUNDO DE PRESENTE


Muitos são aqueles que nos enviam congratulações nesta época natalina, desejando-nos alegrias e felicidades mil.
Uma grande maioria destes, são pessoas que durante o ano inteiro passaram quase que desapercebidas ao nosso lado, e que agora, imbuidos de um espírito de fraternidade, procuram de alguma forma propagar o amor entre as pessoas.
Muito mais são os que, excluídos do convívio familiar e carentes de amigos e dignidade, são esquecidos pelos 'Papais Noel' do mundo.
Sejamos então, nós mesmos, de corpo e alma, os melhores 'presentes', fazendo-nos presentes!
O MELHOR PRESENTE É O JESUS QUE PODEMOS SER PARA O OUTRO.
DÊ O MUNDO DE PRESENTE À ALGUÉM, PROMOVENDO SUA DIGNIDADE, ACOLHENDO-O COM CALOR HUMANO EM SUAS REAIS NECESSIDADES.
DOE-SE NESTE NATAL!!!!
SEJA VOCÊ O 'JESUS' DE ALGUÉM!!!

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

A CRIANÇA, O HOMEM E O VELHO


A mesa para o café estava posta. Tudo parecia impecavelmente organizado e limpo. Sentei-me. Após alguns segundos de espera resolvi num impulso de amor, prepara-lhe o lanche.
Tomei o pão e cuidadosamente cortei-o. Passei-lhe manteiga e coloquei-o no prato, sobre o guardanapo de papel. Repeti a cena e servi-me, enquanto a aguardava. Entretido, não a percebi aproximar-se. Ela abaixou-se e recolhendo algo do chão quebrou o silêncio: ‘êh, meu velho! Voltou a ser criança mesmo! Veja quantas casquinhas de pão você já esparramou pelo piso’.
Tomado pela surpresa, sorri marotamente, enquanto suas palavras faziam eco em minha consciência. A crítica não tinha um tom de ofensa, nem poderia, pois tenho apenas cinqüenta anos e de forma alguma me considero velho. Pelo menos eu não! No entanto, penetrou em minha alma e, num flash de segundos arrancou-me uma profunda reflexão que me levou a responder-lhe com uma indagativa: ‘e você, sabe por que o homem quando fica velho volta a ser criança?’ Fez-se novamente o silêncio. Nossos olhares se encontraram na tentativa de alçar uma resposta, que nem mesmo eu sabia. Nunca havia pensado nisso. Ela voltou o olhar para o chão, apanhou a última migalha de pão e murmurou, balançando negativamente a cabeça: ‘não! Eu não sei a resposta. Você sabe?’
Foi incrível. A imagem de Cristo tomando uma criança no colo surgiu como num passe de mágica em minha mente, enquanto a resposta soava instantaneamente em minha boca: ‘quando ainda criança, o homem vive a pureza de coração. Tem sua alma livre das coisas do mundo e vive cada momento em plenitude. Não julga, não deseja o mal, não se preocupa com o amanhã. Vive a fantasia da vida no momento presente, sem vínculos com o passado ou com o futuro. Quando cresce, pensa ter consciência de si mesmo e quer usufruir de tudo que o mundo lhe oferece, como se fosse o dono de todas as coisas. Acumula bens materiais, planeja seu futuro tendo como base o que viveu no passado. Preocupa-se com o amanhã e se esquece muitas vezes de viver o dia de hoje. Trabalha e estuda freneticamente. Ocupa todo seu tempo com a correria da vida moderna onde o que mais importa é o conjugar do verbo Ter, na primeira pessoa. Quando a idade chega e ele envelhece, percebe que sua vida foi uma tremenda ilusão. Na busca do Ter, deixou de Ser. Então, volta a ser criança, na tentativa de ainda poder resgatar um pouquinho da dignidade que a ambição lhe tomou e o impediu de ser feliz. Quem sabe assim, como criança, ainda possa sentar-se novamente no colo do seu criador e, desapegado das coisas deste mundo, possa sonhar com seu pedacinho de céu’.
Novamente nossos olhares, agora molhados, se cruzaram. Ela sorriu-me, e pude perceber Jesus refletido em seus olhos.

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

O PREÇO DA VIDA


Hoje,alguém estendeu-me a mão.
Pude perceber, transfigurada em sua face,
a solidão em que o mundo vive.
Ouvi o tilintar das moedas sucumbindo-lhe as mãos,
sem, no entanto, estancar-lhe o sangue das feridas.
É Jesus, crucificado e abandonado que grita:
Tenho fome,
Tenho sede,
Tenho frio!



Infelizmente, na grande maioria das vezes, passamos pelos nossos irmãos sem percebê-los. Olhamos, mas não os vemos. Damos-lhes roupas, cestas básicas, brinquedos, mas não os enxergamos na sua real miséria. Não me refiro somente à miséria material, mas também, e principalmente, à miséria espiritual e intelectual, capazes de transformar um ser humano num ser sem alma (1).
Pobre daquele que estende a mão somente para atirar moedas ao próximo, sem ao menos tocar-lhe a face. É como pagar uma dádiva (a vida) com falsas moedas. Muitas vezes nos preocupamos tanto em saber o que o outro faria com nossas míseras moedas, que nos esquecemos de suas principais necessidades: calor humano e dignidade.
Lembro-me que certa vez, quando me dirigia a uma escola de periferia para iniciar um projeto voluntário, eu me encontrava tomado pela ansiedade e pelo medo. Ansioso devido às situações que poderia ali encontrar, e com medo de não ter a mínima capacidade de fazer alguma coisa, ou ao menos ser provedor de qualquer ajuda.
Enquanto fazia o trajeto até o local, procurei desfazer-me desses sentimentos concentrando-me naquilo que julgava ser o mais importante: a vontade de Deus para mim naquele momento. Em oração pedi-Lhe que se fizesse em mim o instrumento necessário para a realização daquele projeto, e que, encontrasse ali as pessoas necessárias para auxiliar-me, de acordo com o ‘Seu projeto’.
Quando lá cheguei, fui recepcionado por um garoto que correu para abrir-me o portão. Agradeci-lhe e passando a mão em seus cabelos perguntei-lhe o nome. Ele me respondeu e logo indagou sobre o que eu estava fazendo ali e se era vendedor de livros. Respondi-lhe amorosamente, enquanto meus braços tocavam seus ombros e de sua face via-se brotar um sorriso.
Enquanto caminhávamos para o interior da escola, um segundo menino apareceu e, vendo a cena, perguntou se nos conhecíamos. Respondi-lhe que ‘ainda não!’, mas que já éramos bons amigos. Imediatamente o garoto ‘entregou a ficha’ do colega: ‘este é o fulano. É o chefe da gang. Tudo que acontece por aqui é ele quem manda’. O outro retrucou: ‘não me entrega assim, ôo dedo duro!’ Sustentei a conversa em tom de brincadeira e procurei manter-me próximo daqueles dois, pois via ali o retrato das dificuldades que encontraria naquele lugar.
Semanas mais tarde reencontrei-os na sala de aula onde iniciamos o projeto e pude perceber que ‘a vontade de Deus’ se fazia mesmo sobre eles. Não nos afastamos mais. Laços cada vez mais fortes garantiam nossa unidade, que crescia na medida em que me aprofundava nas suas reais necessidades.
Cerca de dois meses depois, já com um pequeno grupo de pessoas, visitamos a família de um deles, onde nos deparamos com uma realidade ainda mais penosa, compartilhada com cinco irmãos que tinham entre um e onze anos. Sentimos na pele seu cotidiano, e, ‘ouvindo o silêncio do seu coração’ entendemos o que fazer e por onde deveríamos começar.
Ouvimos também, gratificados, o testemunho de sua mãe que nos relatou: “(...) ele está mesmo diferente. No fim da semana passada ele ajudou o avô e ganhou dez reais. Chegando em casa me deu o dinheiro e disse que era para ajudar nas despesas da casa. Passados alguns minutos ele me perguntou se aquilo era um ato de amor para com os irmãos (...) agora compreendo o que ele queria dizer”.
Imediatamente veio-me à mente uma reflexão de Chiara Lubich(2) onde ela nos fala, complementando um dito popular, que ‘não devemos dar o peixe, nem tão pouco ensinar a pescar, mas pescar com o outro’.
Compreendo, portanto, que é mergulhando na verdade do outro, vivenciando sua realidade, compartilhando seus momentos de fraqueza e de glória que o conhecemos em sua ‘unicidade’ e nos habilitamos para amá-lo concretamente.
Um amor com intensidade e profundidade, capaz de ‘abalar as estruturas’ do outro, que, sentindo-se amado, também ama e, retribuindo o amor recebido, gera a reciprocidade. Uma corrente de amor que vai e vem, e que, envolvendo o meio que o cerca, transforma-o. Um amor que não cabe em si, e transborda; e que, invadindo a comunidade, gera mais amor, constituindo a unidade, a fraternidade universal.
Parece utopia, mas não é! Somos capazes de prover a necessidade íntima do outro. Basta amá-lo em sua necessidade, doando-lhe o amor que esperamos nós recebermos.
Parece um grão de areia em meio a um oceano, mas não é! E mesmo que fosse já vi muitos grãos de areia que se transformaram em verdadeiras pérolas.




(1) Incapacitado para o amor.
(2) Fundadora do Movimento dos Focolares - Obra de Maria. (Itália, 1920 – 2008).

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

O QUE QUERES DE MIM?!





A vida em comunidade representa muito na construção do testamento de Cristo:
“Que todos sejam um“.
É a semente que selecionada na cruz, deve morrer para gerar a vida. Se não morremos, não construímos unidade. Se não deixamos nosso “eu” para trás, somos impossibilitados de viver o outro. Sem viver o outro, não constituímos a vontade de Cristo.
Devemos repensar, com muito cuidado, qual é a vontade de Deus para cada um de nós. Não podemos viver de renda, muito menos, nos escondermos atrás de um amor morno, incapaz de germinar qualquer semente.
Quer saber o tamanho do seu Amor?
Basta olhar quantos frutos já produziste para Cristo.
Olhe em volta de sí. Olhe para seu interior e pergunte:
- O que queres de mim, Senhor?
Ele vos responderá, com certeza:
- Eu vos quero Santos!
Eu vos quero santos, refletidos e mergulhados no irmão. Eu vos quero “um”, tal qual Eu e o Pai somos um.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

VITRINE DE NATAL














Hoje eu vi Jesus.
Ele estava em pé, em frente a uma vitrine, no centro da cidade. Reconheci-O imediatamente. Trajava uma túnica de linho branco e calçava sandálias de couro cru. Seus cabelos eram longos e por sobre sua cabeça reluzia uma coroa de espinhos. Seus braços, estirados em direção ao personagem central daquela cena, pareciam implorar por algo infinitamente impossível. Em suas mãos, duas chagas eram visíveis: inconfundível marca da cruz!
Seus olhos, refletindo tristeza no vidro da vitrine, brilhavam tal qual as luzes que enfeitavam o cenário. Seu semblante parecia suplicar: eis-Me aqui!

Crianças brincavam dentro da vitrine. Flashs e mais flashs registravam em máquinas digitais a branca barba do homem, que vestindo vermelho e branco, distribuía balas e sorrisos. Pilhas e mais pilhas de presentes caminhavam nos braços dos transeuntes que atropelavam-se no interior do loja.

Do lado de fora, a noite caía, enquanto a multidão ia e vinha sem se perceberem. Aproximei-me devagar. Pude notar que em sua túnica branca havia também o vermelho: gotas de sangue que escorriam pelos cabelos e manchavam suas vestes. Aproximei-me ainda mais, até o ponto de fixar meus olhos nos Seus, refletidos na vitrine. Percebi então, que o brilho dos seus olhos eram lágrimas. Estendi minhas mãos e toquei-lhe as vestes, que imediatamente foram ao chão, deixando transparecer as marcas do mundo. Também foi ao chão a coroa de espinhos. Recuei! Apagaram-se todas as vitrines. Somente a intensa luz que exalava do manto de linho branco se fazia ver. Meus olhos queimavam de medo e dor. Tapei-os com minhas mãos e, por entre os dedos vi o milagre: do breu da noite surgiu uma virgem de olhar terno e sorriso manso. Com os braços abertos, caminhou em direção às vestes que jaziam no chão; enquanto um menino renascia num facho de luz.

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

NOITE DE AUTÓGRAFOS


O AMOR É UMA ARTE - A Fraternidade como Instrumento Pedagógico
Uma experiência fantástica, que vivenciada por trinta e cinco alunos de uma escola no interior do Paraná, está transformando suas vidas e suas comunidades.
Mas este é só o começo desta grande aventura!
A prática da Arte de Amar, proposta por Chiara Lubich, através do seu instrumento de socialização, o Dado do Amor, tem comprovado entre as crianças de várias partes do mundo que a Fraternidade Universal não é uma Utopia!
Vem viver com a gente esta experiência e comprove sua veracidade.
Dia 12 de dezembro de 2009
Às 19:30h
No Anfiteatro Santo Carraro, em Mandaguaçu-PR.
ESPERAMOS VOCÊ DE BRAÇOS ABERTOS!

O AMOR É UMA ARTE



Este não é um livro comum, desses que se encontra em livrarias, bancas de revistas e supermercados. Este é um livro muito especial, diferente em todos os aspectos que o envolve, e que envolve seus escritores.
Para escrevê-lo, antes de tudo, se fez necessário vivê-lo. Experienciar a veracidade dos fatos. Submetê-los à prática do cotidiano, de tal modo que não houvesse mais dúvidas (não que houvesse!) quanto à sua eficácia na vida dos autores e das pessoas com as quais se relacionam.
Esta é uma obra que nasceu da vida para a vida. Uma experiência que ficará marcada para sempre na memória daqueles que, crianças(*) ou não, tiveram a coragem de dar o seu sim e comprovar que o amor é um instrumento poderosíssimo, capaz de transformar as pessoas e o meio onde vivem.

Portanto, não o convido a lê-lo somente. Convido-o a experienciá-lo, a vivê-lo, tal qual fizeram seus autores: derramando sobre o mundo que o cerca pequenas gotas de amor, que para muitos, significará um oceano.


Ouça o silêncio daqueles que te cercam;
Há nele um grito que ecoa.
Ao ouvi-lo, entenderás como deves proceder em teu auxílio.
Caso não o ouças, faças tu o silêncio necessário’.

Nivaldo Donizeti Mossato
Coordenador e organizador


(*) Todas as crianças (co-autores) que participam desta obra foram devidamente autorizadas pelos seus respectivos pais, e/ou responsáveis, preservando assim, seus direitos e cidadania.


Transformar a escola num lugar de aprendizado para a vida é o grande desafio de todo educador. O ‘Projeto Dado do Amor’, criado por Chiara Lubich e desenvolvido nesta escola pelo empresário e acadêmico em psicologia Nivaldo Donizeti Mossato e sua equipe, é uma ferramenta pedagógica que resgata a capacidade do ‘relacionar-se com o próximo’ de forma a restituir a dignidade, o amor próprio e o direito ao aprendizado.
O presente livro é um mosaico de experiências díspares, sobre “atos de amor” realizados por alunos da 5ª série G, do período vespertino, da Escola Estadual Professor Francisco José Perioto.
Os textos aqui reunidos acentuam as marcas do já vivido, dos percursos feitos e do resgate a valores esquecidos ou pouco praticados como respeito e amor ao próximo.
Trata-se de uma obra que não deixará leitor algum indiferente, pois mostra que é possível estimular o amor ao próximo através de ações simples, a fim de traçar com firmeza os caminhos do futuro, superando desafios que fortaleçam a conquista de uma pedagogia que preconize a união, o afeto e a grandeza de viver para além do individualismo.
Esperamos que apreciem o resultado.


Professora Sandra Freitas de Carvalho
Diretora da Escola Estadual Prof. Francisco José Perioto
Município de Mandaguaçu - Paraná

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Algumas percepções dos professores que atuam na sala de aula do projeto
No início do ano letivo nos deparamos com uma realidade muito difícil
entre os alunos (...).
Eles eram agressivos, indisciplinados, desobedientes, não tinham limites e recusavam contatos físicos: carinho, abraços ou um simples toque.
Gritavam, falavam muito alto e podíamos perceber que havia sentimentos de muita rejeição e auto-imagem negativa.
Era quase impossível falar com eles, dar um recado, e dar aula com qualidade.
Tanto que as notas do 1º bimestre foram um arraso, muito baixas.
No início do 2º bimestre, já havíamos conquistado um pouco da confiança de muitos, e eles já estavam mais acessíveis, começando a ouvir.
Após o inicio do ‘Projeto Dado do Amor’,
fomos percebendo grandes melhoras nas notas,
na confiança e o comportamento em sala mudou consideravelmente.
Eles estão mais amorosos, carinhosos e também mais estudiosos.
É visível a melhora no desempenho,
nos relacionamentos e no comportamento de muitos alunos.

Cilene Gomes Bonilha e Claudete Marques Arnout
Equipe pedagógica
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O projeto “Dado do Amor” tem como objetivo melhorar a auto-estima dos alunos e promover a socialização mínima necessária para uma convivência harmoniosa, em que a pratica pedagógica seja eficiente.
As mudanças comportamentais esperadas virão a longo prazo, mas algumas atitudes favoráveis já foram percebidas, tais como companheirismo, solidariedade e a cooperação no trabalho em grupo.
E com certeza com a continuidade do projeto todas as perspectivas serão alcançadas.


André Alexandre Valentini
Professor de História
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Algumas experiências que marcam as páginas deste livro e a vida dos seus autores
Moro com minha avó há dez anos.
Eu não sabia o valor de um ato de amor até que comecei a praticá-los.
Percebi que estava acordando muito tarde, e não sobrava tempo para ajudar minha avó.
Resolvi então acordar mais cedo.
Confesso que foi um pouco difícil, pois sou um pouco preguiçosa.
Mas por outro lado está sendo muito bom para mim e para ela,
pois estou conseguindo ajudá-la.
Toda vez que a ajudo, sinto uma paz imensa no meu coração.
Foi então que percebi que um pequeno ato de amor pode mudar muitas coisas em nossas vidas.
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Todo ano eu ganho muitos brinquedos e roupas da patroa da minha mãe
e não tinha o costume de ‘partilhar’.
Compreendendo a necessidade de colocar as coisas ‘em comum’,
resolvi fazer diferente.
Peguei duas sacolas e coloquei as roupas em uma e os brinquedos em outra
e doei para uma menina que sempre encontro na igreja.
Ela gostou muito e eu pude exercitar na prática o ‘amor ao próximo’,
principalmente por que dei o que mais gostava para Jesus naquela menina.
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Minha mãe trabalha na casa de uma vizinha dois dias na semana.
Para ajudá-la vou buscar minha irmãzinha na escola, e às vezes, também vou buscar o leite. Sempre que vou ajudar meus pais eu me lembro de fazer por amor.
Faço tudo com muita alegria sabendo que isso é um ato de amor para com eles.
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Moro num sítio com meus pais e vou à escola de ônibus.
Conheci dois irmãos, um de dois anos e um de cinco.
O mais novo sempre acaba caindo quando vai descer do ônibus.
Então, todos os dias eu pego o menino no colo e desço com ele.
Fazendo este ato de amor para Jesus naquele menino, me sinto muito bem.
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Eu havia comprado dois pacotes de Chips,
um para comer na escola e outro para levar para casa.
Quando abri o primeiro pacote vi que um menino ficou olhando.
Ofereci a ele com a intenção de fazer um ato de amor.
Ele aceitou rapidinho, mas pegou um ‘pouquinho de nada’.
Disse-lhe que poderia pegar mais porque eu não conseguiria comer sozinho. Ele gostou da ‘idéia’ e acabamos por repartir o pacote todo.
Acredito que esse ato de amor tenha sido muito ‘gostoso’ para ele.
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Meu irmão estava com dificuldades em fazer as tarefas da escola.
Resolvi ajudá-lo, pois queria fazer um ato de amor para ele.
Foi muito difícil por que ele não aceitava minha ajuda.
Minha mãe falou com ele, então deu tudo certo.
Às vezes precisamos ‘insistir muito’ para poder amar.
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O LIVRO
A idéia de escrevermos um livro, relatando as experiências propostas pela Arte da Amar, vivenciadas pelas crianças da escola, reascendeu a chama do amor no coração dos alunos. Resgatou a possibilidade de realizarem um projeto que, até então, em seus pensamentos, só era possível para ‘gente grande’, ou seja, pessoas adultas com um certo grau de estabilidade econômica/financeira, que pudessem bancar a edição, ou aqueles que, de um jeito ou de outro, eram patrocinados.

Tal como a boa semente plantada em terreno fértil, em uma semana as experiências começaram a brotar: pequenos atos de amor eram vivenciados, e a luz, comunicada através de pequenos escritos. Viver e comunicar passaram a ser as palavras de ordem. Em pouco mais de sessenta dias já tínhamos o material suficiente para organizarmos o livro. Material colhido de inúmeras experiências de amor ao próximo, vivenciadas pelos alunos da quinta série ‘G’, que foram aos poucos transformando a realidade da sala de aula, proporcionando um ambiente mais tranqüilo e organizado, propício ao aprendizado.

Experiências que, muito além das paredes ou muros da escola, emergindo entre os familiares, amigos e até mesmo inimigos, fizeram surgir um novo estilo, uma nova forma de se relacionar com o outro: vê-lo como um igual, com novos olhos, sob um novo prisma. O próximo deixou de ser um obstáculo, um empecilho, um inimigo a ser vencido. Passou agora a ser uma meta, um objetivo a ser alcançado. Não mais um obstáculo, mas um instrumento de amor. Não mais um empecilho, um fardo a ser carregado, mas um trampolim, uma alavanca, uma força que nos impulsiona em direção ao nosso objetivo maior: realizar a unidade entre os homens.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

UM DADO, UM MENINO E O PERDÃO

Copyright Movimento dos Focolares / Direitos reservados

Bato a porta.
A penumbra do quarto do meu filho reflete bem meu estado de espírito: árido e escuro. Há um silêncio mórbido. As paredes impõem os limites do meu universo. Estou só. Meus pensamentos restringem-se à caixa preta de minha própria ‘aeronave’, onde divido o comando comigo mesmo.
Ligo a tv. O som alto faz estremecer as janelas e as notícias do mundo incomodam meus ouvidos: ‘carro-bomba explode no Líbano, trinta e seis pessoas morrem’. Abaixo o som. As notícias continuam: ‘sem-terras invadem propriedade improdutiva. O tumulto acaba em tragédia. Duas pessoas morrem’. A voz do ‘âncora’ do telejornal é agora minha companheira de quarto. Mais duas notícias. Desligo a tv. De novo o silêncio. O computador está ligado. Na tela de LCD alguém chama no MSN: ‘oiêêeeee! Vc ta aí?’ Não respondo. Olho fixamente para a tela na esperança de não mais ver o recado. Ele insiste: ‘Oooiiiii, tem alguém aí?’ Novamente o silêncio. Pego o controle. Ligo a tv. O telejornal continua. Mudo de canal. Abaixo ao máximo o volume. A luz das imagens faz colorir o quarto. Ligo o aparelho de som. A música tênue dá ao ambiente um pouco de paz. As imagens da tv agridem meus olhos: ‘polícia e traficantes trocam tiros na favela. Bala perdida atinge criança de oito anos’. A notícia é muda, mas as imagens falam por si. O desespero se reflete nos olhos dos entrevistados, embalado pelo ‘Jazz’ que escorre do cd. Desligo a tv. Dos olhos, duas lágrimas ganham o infinito espaço até alcançarem o chão.
Ouço passos. Desligo o som e apuro os ouvidos. Aproximam-se. Enxugo meus olhos e caminho em direção à porta, que se abre abruptamente. Uma voz gritante rompe o silêncio: ‘vôôo! Ô vôo’!
A mochila vai ao chão, enquanto a criança corre em minha direção e alça vôo em meu colo. O abraço é apertado e o beijo molhado. Numa das mãos, um pequeno dado colorido deixa transparecer uma frase escrita em seu vértice: ‘amar a todos’. Os joelhos vão ao chão. O abraço continua. Agora mais frouxo, embora não com menor avidez. A pequena mão desliza sobre a barba branca. A criança se vira e aconchega a cabeça em meu colo, assentando-se sobre meu joelho. Beijo-lhe os cabelos. As pequeninas mãos se juntam sobre o dado. Um só balanço e o brinquedo toma altura e desce. A criança pula do meu colo, apanha o dado e exclama: ‘amar por primeiro, vô! Agora é a sua vez’!
Tomei o dado nas mãos. Meus olhos se ergueram e a branca pintura do teto me fez lembrar uma tela de cinema. Numa fração de segundos as notícias do mundo tomaram vida. Olhei o dado e joguei-o longe. A criança tomou o corredor de acesso aos quartos e aproximando-se do brinquedo gritou: ‘amar os inimigos, vô’. Nossos olhos se encontraram. O silêncio se fez palavras.
As pernas trêmulas se levantaram. O corpo parecia pesar toneladas. Com passos lentos desci as escadas que davam para a cozinha. O garoto segurava minha mão, molhada pelo suor frio que escorria. Meu coração carregava o peso do remorso. À minha frente, ‘meu inimigo’ aguardava meu pedido de perdão. A criança não se deu por vencida. Soltou o dado no chão, e segurando-lhe a mão exclamou: ‘vó, o vô quer falar com você’!
Com um último esforço, a criança uniu nossas mãos, e apanhando o dado gritou: ‘vôôo, vóóo, amor recíproco! Vamos jogar de novo’?!



Texto inspirado na ‘Arte de Amar’, de Chiara Lubich, onde o ‘Dado do Amor’ é seu instrumento de socialização. O Dado traz impresso em seus vértices os principais aspectos desta maravilhosa Arte.

domingo, 15 de novembro de 2009

UM GRANDE TESOURO



Eis um grande tesouro: a sabedoria!
Por si, a sabedoria é sábia; provém de Deus.
Nem todo homem a possui, por mais inteligente que seja, por mais cultura que tenha.
A sabedoria é um dom gratuito do criador, e, para possuí-la, não basta conhecer o caminho;
é preciso estar a caminho.
A sabedoria é sábia, é a própria essência do Divino imersa no humano.
Quem a possui é o escolhido entre os escolhidos. É o iluminado, é aquele que ama!
É um tesouro inesgotável. Uma riqueza incalculável. O poder dos poderes.
O sábio é humilde, conhece seu próximo e o ama como ama a si mesmo.
Vive as dores do outro como se fossem suas próprias chagas.
Alegra-se com a alegria do irmão e é servo de todos.
Não desdenha a vontade alheia e não a sobrepuja com sua própria vontade.
Sabe que a vida está naquele que ama, e, quem ama, dá a vida pelo irmão.
A sabedoria é sábia. O sábio é assim: conhece a si, tal qual conhece cada um dos seus.
Não mede o amor com suas medidas, nem o ódio com seus próprios pesos.
Não julga para não ser julgado; ama, para não ser amado; ama, por que é amor.
Ama para santificar o outro. Ama para construir um mundo melhor.
Ama para gerar a unidade entre os homens, e, no outro, saciar-se a si próprio, imagem de Deus.
A sabedoria é sábia. Humildade das humildades. Tesouro dos tesouros.
Quem a possui não envelhece, não tem depressão, não adoece, não morre do coração.
A sabedoria é assim: eterna como o Eterno. Justa como o Justo. Calma como o Cordeiro.
Íntegra como a semente que dá-se à Terra, em silêncio de morte, para gerar a vida!
A sabedoria é sábia. O sábio é assim: homem que ama, que ama, que ama.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

NA RESSURREIÇÃO


Deus, ao conceber-nos em sua criação, tornou-nos sua imagem e semelhança e nos deu a postura de filhos do criador. Filhos D’Aquele que no amor, constituiu todas as coisas e nos permitiu chamá-lo de ABBA, que significa Pai, Paizinho. Posteriormente, vendo que a família não estava completa e que o homem distanciava-se da sua origem, presenteou-nos com seu Unigênito, Trino de Amor.
Jesus por sua vez, momentos antes de nos doar sua vida, aos pés da cruz, deu-nos a mais sublime das criaturas: Maria. Olhando para o apóstolo que amava exclamou: “- Mãe eis seu filho. Filho, eis aí sua Mãe”. Neste momento, a família universal estava constituída.
Cristo abdicava-se de toda sua santidade e entregava-se como homem nos braços do Pai. Preparava-se para o abandono total que consumou-se no grito: “Pai, porquê me abandonaste?”. Momentos depois suspirou para a morte, mostrando o quanto foi Deus-Homem e o quanto foi Homem em Deus.
Mas, Cristo não é a morte. Cristo é a vida, a ressurreição. As cruzes são como o fogo que purificam o ouro. A pedra bruta guarda sua beleza em suas entranhas. O ser humano, também precisa ser lapidado para mostrar sua beleza. Não somos perfeitos em nossa fé, mas podemos ser lapidados pelas cruzes que transpassam nosso ser e fazem morada em nosso coração.
A escolha de Cristo é sem dúvidas a escolha da vida. Não se escolhe Cristo, sem escolher a cruz. O Crucificado estará sempre na cruz pagando por todos e por tudo. Cabe a cada um de nós, entendermos nossas cruzes e valorizá-las no amor. Não se ama a cruz, ama-se o crucificado. Não se valoriza o pecado, ama-se o pecador. Ele nos quer santos, refletidos e mergulhados no irmão.
Santos naqueles que impossibilitados pela dor, não conseguem transpassá-la para encontrá-lo vivo, ressuscitado e livre, do outro lado da cruz.
Lancemo-nos nesta via de amor. Façamos jorrar na cruz de cada um que passa ao nosso lado, doados por Cristo, uma fonte de amor que aos poucos cobrirá a terra e frutificará.
Devemos crer nesta promessa e esperar no salvador. Com toda nossa fraqueza, com todo nosso pecado, com todo nosso orgulho de homens, pois assim o seremos até a consumação dos tempos.
Mergulhemos então, no sabor da Paz, no verdadeiro sentido da vida, buscando a santidade mesmo que tenhamos que recomeçar a cada segundo, descobrindo nossas fraquezas e nos fortalecendo na fonte de vida, que brota do outro lado da cruz, no ressuscitado.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

COMUNIDADES ESTIGMATIZADAS


Quem de nós, não carregou consigo durante parte da sua vida, ou ainda carrega o peso de uma marca indesejada? Quantas vezes, deliberadamente, não julgamos uma ação, rotulamos, manipulamos, deixamos marcas profundas, conscientes ou inconscientes naquelas pessoas que convictamente amamos?
Um simples apelido que para muitos poderia ser até carinhoso, para outros pode carregar um peso insuportável, uma marca profunda que inevitavelmente irá abalar de alguma forma seu estado psíquico. Fatos como esses ocorrem diariamente na vida de muitas pessoas.
Não muito diferente, a estigmatização de uma comunidade, pode ocorrer a partir da confirmação, consciente ou não, de algum fator, que por um motivo ou outro, a marque ou distinga negativamente das demais. Marcas que podem transformar-se na sua própria identidade: um estigma que dificilmente poderá ser anulado.
Há incontáveis comunidades espalhadas pelo mundo que carregam consigo estigmas sociais que as marcam e identificam negativamente, promovendo a exclusão social e rotulando seus habitantes. Diariamente inúmeras manchetes escritas, faladas ou televisionadas, expõem inescrupulosamente essas feridas, reafirmando coletivamente esses estigmas, criando uma incontestável barreira social para as pessoas que, escolhendo ou não, residem nesses bairros.
Muitas vezes, ao buscar somente uma solução política para uma realidade social não é o suficiente para transformá-la, principalmente quando, mergulhado neste problema, encontra-se estereótipos, paradigmas, crenças populares que sustentam a manutenção dessa realidade.
Uma visão ampla do processo de estigmatização pode, entre outras coisas, traçar um mapa da mesma realidade comungada por outras comunidades, visto que, na base deste processo estão os baixos índices de escolaridade, a falta de preparo para o mercado de trabalho, a exclusão por anos a fio da comunidade dos programas de reabilitação do poder público, e, acima de tudo, como resultado da soma destes fatores, o alto índice de criminalidade envolvendo crianças, jovens e adultos. Índices estes que, expostos diariamente pela mídia, demonstram que mesmo a maioria dos crimes ocorrendo em outras regiões da cidade, grande parte dos envolvidos residem em bairros estigmatizados.
Outro fator relevante para a manutenção do estigma de uma comunidades, além da exposição diária dos seus pontos fracos pela mídia, é a continuidade, a repetição do processo já existente, pelas novas gerações que despontam como filhos da exclusão social. Um processo que avança de geração em geração e que precisa ser contido de imediato, não só pelo poder público, mas primordialmente pelo engajamento da própria comunidade em programas de resgate cultural, de alfabetização, preparação para o mercado de trabalho através de treinamentos específicos e de inclusão digital e o resgate da dignidade através de projetos promoção humana e de auto-estima.
A união de esforços entre o poder público, entidades assistenciais e empresas privadas, com uma participação maciça da sociedade parece ser o caminho mais curto para reverter a condição social dos bairros mais carentes. No entanto, o estigma que os acompanha só poderá ser vencido com a mudança do enfoque dado pela própria população residente nesses bairros ao resultado dos programas implantados e à forma com que são divulgados nos meios de comunicação de massa.
Projetos existem, mas precisam ser levados a sério tanto pelo poder público quanto pela população a quem se destina. Muitas vezes a falta de profissionais compromete o programa, outras, a própria comunidade não o valoriza em sua plenitude. Sem apoio e participação adequada qualquer projeto perde seu sentido e deixa de prover resultados satisfatórios. É necessário conhecer e participar para poder dar o devido valor às iniciativas que já existem e que buscam transformar essa triste realidade de estigmatização e exclusão social.
O primeiro passo da transformação pode ser dado na própria família, quando a mesma voltar o olhar sobre si, descobrindo e trabalhando suas próprias necessidades e, remeter seu apoio ao ambiente escolar e aos projetos sociais.
Romper com um estigma, com um paradigma social significa transformar a referida comunidade, em sua totalidade, em uma nova concepção comunitária. Vai muito além de asfaltar ruas, dar condições de transporte, trabalho, escola e saúde. O estigma está enraizado na mente e na cultura do povo.
Faz-se necessário mudar o olhar com o qual vemos tal comunidade de forma a fazê-la atuar com um novo olhar sobre si mesmo. É preciso fazer cicatrizar suas feridas psíquicas rompendo o círculo vicioso que promove a reprodução de um estado de estagnação e repetição da mesmice cultural que a aliena e a identifica. É necessário prover a cada indivíduo a condição ideal que o faça ver-se como pessoa humana, resgatando sua dignidade.
No entanto, os estigmas continuam. As manchetes de jornal continuam a mostrar a realidade nua e crua, através da visão ideológica que o convém: é preciso vender a notícia. Enquanto isso, as comunidades estigmatizadas tentam ocultar as veias expostas das suas feridas, na esperança que um dia cicatrizem. É preciso virar a página deste jornal.

Autores:
André Seles
Marilene Salviano
Miriam Franco Santos
Nivaldo Donizeti Mossato
Raquel Borges
(Acadêmicos de Psicologia da Faculdade Ingá – Uningá).
Orientação e supervisão:Profª Ms. Joselene Miriani

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

COM OS OLHOS DA ALMA


Quando olhamos o ser humano com os olhos da carne, o vemos despido de suas qualidades, de suas virtudes. Em relevo, destaca-se todas suas imperfeições. Mas, se o olhamos com os olhos da alma, vemos transbordar um turbilhão de motivos para amá-lo. A alma rejubila com a criação divina. Quando privada do mal, a alma abandona-se na beleza do divino, essência da criatura. Criador e criatura reencontram-se, formando um elo de amor em duas vias: - O criador ama. E por seu amor, gera a vida. A criatura, sentindo-se amada, retribui. Um vai-e-vem de amor se estabelece e proporciona o encontro com o próprio vínculo, que é o amor.Deus é amor!
Ninguém é perfeito. O próprio Cristo ao interceder pela mulher adúltera disse: “- Quem não tiver pecado algum que lhe atire a primeira pedra”.As veias do bem e do mal circundam nosso corpo levando o mesmo sangue. Sangue este, que alimenta nossas escolhas.Temos em nós dois eternos lobos. Sobreviverá aquele que melhor alimentarmos. Alimentando o lobo bom, este se sobrepujará sobre o mal. Toda vez que alimentarmos o mal, ele aniquilará o bom.Olhemo-nos com novos olhos; com olhos de Cristo. Sintamos o sabor da alma de quem nos é dado gratuitamente por Deus. Sejamos aquele que separa o pecado do pecador. Sejamos aquele que ama, sem importar-se com qual lobo se deparará.Olhemos profundamente cada criatura com os olhos do Criador. Assim, veremos refletir em nossa alma toda a essência do verdadeiro relacionamento embasado no amor. Um vai-e-vem de amor, capaz de gerar uma nova vida. Capaz de transformar a própria criatura.
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terça-feira, 3 de novembro de 2009

ADOLESCÊNCIA: IDADE DA SOLIDÃO



ADOLESCÊNCIA: IDADE DA SOLIDÃO

É muito difícil para um jovem atravessar a adolescência sem deixar que a solidão impregne profundas marcas em seu psíquico, contribuindo negativamente na construção do seu caráter. As cicatrizes deixadas pela solidão no psiquismo do adolescente, distanciam-no das suas raízes familiares destruindo, na maioria das vezes, uma construção psíquica e cultural proposta desde os primeiros dias da infância, pelos pais e pela sociedade a qual pertence.
Entre as tantas fases do desenvolvimento humano, a adolescência é a mais conflitante. Inicia-se por volta dos dez ou onze anos, estendendo-se até a pós-puberdade, que tem sua conclusão aproximadamente aos vinte anos. No entanto, a adolescência pode ser vista em seus múltiplos vértices: psicológico, cultural, social, biológico e tantos outros que se inserem em um processo que assume peculiaridades de acordo com a cultura vigente.
Para Ariès (1981) a infância, como período evolutivo e com necessidades específicas, é uma invenção da modernidade, tendo cerca de 150 a 200 anos: a adolescência é ainda mais recente referindo-se a um período entre a Primeira e a Segunda Guerra Mundial (1918 e 1939). Até então se passava da infância para a idade adulta em um curto espaço de tempo, após breves rituais de iniciação, tanto que Freud, pai da psicanálise, nunca usou a palavra adolescência, pois esse termo não existia na língua alemã de seu tempo. Referia-se a esse período como juventude ou puberdade.
As variantes deste desenvolvimento humano, através dos séculos, oscilaram em suas visões e necessidades, culminando em uma nova definição, onde a adolescência surge como um importante período de transição entre a infância e a fase adulta, tanto no fator psíquico, como também físico, no aspecto de amadurecimento dos órgãos genitais e do aparecimento de caracteres sexuais secundários.
Para Outeiral (2008), a adolescência é composta de três etapas que se misturam em suas características enquanto se processam e se alteram, num constante vai e vem, determinando-se como: adolescência inicial (entre 10 e 14 anos), tendo como características básicas as transformações corporais e alterações psíquicas derivadas destes acontecimentos; adolescência média (dos 14 aos 17 anos) tem como seu elemento importante as questões relacionadas à sexualidade, em especial, a passagem da bissexualidade para a heterossexualidade, e adolescência final (de 17 a 20 anos), sendo caracterizada pelo estabelecimento de novos vínculos com os pais, a questão profissional, aceitação do novo corpo e dos processos psíquicos do mundo adulto.
Já para D’Andrea (2006), considerando os aspectos fisiológicos como ponto de referência, estas etapas são definidas como pré-puberdade, puberdade e pós-puberdade, registrando que uma divisão por idade é totalmente arbitrária, pois defrontamos com adolescentes antes dos 10 anos, assim como após os 20 anos.
Essa difícil fase do desenvolvimento humano encontra suas barreiras em conflitos emocionais relacionados à reorganização do aparelho psíquico e ao reencontro deste ser na sociedade a que pertence, visto que deixou de ser criança e ainda não atingiu a sua maturidade, deparando-se com o medo da nova realidade a ser assumida: um novo padrão de comportamento e relacionamento que o projete no mundo adulto. Esse período de contestação gera uma situação conflitante que por sua vez pode levar esse jovem a reprimir-se ou isolar-se num sentimento de solidão.
Este sentimento relacionado aos conflitos provenientes do medo do novo, do desconhecido caminho a seguir, pode ser visto sob dois aspectos: o positivo, quando promove o crescimento e o desenvolvimento do ser humano como pessoa; e o negativo, quando o leva a um sentimento de rejeição tanto de si mesmo, quanto do mundo que o cerca, projetando-o ao egocentrismo e a auto piedade, culminando na autodestruição.
A infância é um período onde se constrói o companheirismo, a confiança e o respeito entre pais e filhos. A comunicação é de extrema importância nesta construção. Quando esses fatores falham ou ocorrem de maneira inadequada, essa criança chega à adolescência desestruturada, podendo assim, proporcionar motivos para levá-lo à solidão.
A indecisão entre a vontade da independência e o medo da responsabilidade, faz com freqüência exigências e reivindicações ambivalentes. Os pais sentem-se desconcertados e confusos por suas imposições e protestos contraditórios, gerando assim, certa incompreensão e sensação de estranheza, freqüentemente recíprocos. O adolescente sente-se inseguro em papéis que não lhe correspondem, percebe imposições intoleráveis, sente alteradas as suas mensagens e suas exigências.
Para Miceli (2006) na adolescência o jovem se projeta fora da família. O pai e a mãe deixam de ser referências para este jovem. Os personagens e ídolos servem agora como modelos para ele. Por outro lado, os relacionamentos com os colegas se tornam mais destacados: o adolescente tem necessidade extrema de ser acolhido pelo grupo do mesmo sexo, e começa a se firmar também nos relacionamentos com o sexo oposto.
Entretanto, o sentimento de solidão pode estar presente em qualquer lugar ou situação. Ocorre até mesmo durante uma festa com os amigos, no trabalho ou dentro de casa com a própria família. Pode existir o medo da intimidade, de deixar-se conhecer, de ser rejeitado, por haver timidez, incompreensão e desejo de possuir um relacionamento que muitas vezes não acontece.
Para Levy (2001), o adolescente oscila entre quatro ambientes que funcionam como refúgios psíquicos que podem ajudá-lo a organizar seus sentimentos de forma construtiva ou fazê-lo mergulhar na solidão e no abandono. Estes ambientes, a família, o mundo adulto, os grupos de adolescentes e o isolamento, são caminhos que quando percorridos na normalidade promovem um amadurecimento mais tranqüilo. No entanto, quando percorridos de forma que o adolescente promova uma fixação rígida em uma dessas comunidades torna-se uma psicopatologia.
Esses grupos são caminhos pelo qual o adolescente terá que passar para concluir sua caminhada rumo à maturidade. A forma pela qual será conduzido por eles é que fará a diferença entre ser um individuo normal ou problemático.
No adolescente mais próximo à normalidade, observa-se a utilização desses grupos como refúgios psíquicos que o auxiliam a conquistar um espaço mental com maior adequação que poderá induzi-lo a sobrepujar a ansiedade, amenizando o sentimento de solidão. Por outro lado, quando fixa-se em demasia, em qualquer um desses grupos, pode absorver experiências que o conduzirá com freqüência a uma expectativa solitária.
Outro fator relevante que conduz à solidão é a baixa estima, pois tendo pouca confiança em si mesmo é difícil sentir-se apto para criar relacionamentos com outros de sua idade. Esse sentimento surge muitas vezes das avaliações físicas, sendo a aparência e o comportamento questões protuberantes na sociedade, provocando assim um retraimento.
O aumento nas atividades e a obsessão pela eficiência geram sentimentos de inferioridade e inutilidade. A modernidade e a tecnologia levam o jovem a alienar-se do mundo cada vez mais, incapacitando-os de amadurecer através das experiências que o contato social proporciona.
Contudo, ao invés de enfrentar a solidão, há uma busca desenfreada para afastá-la, na ilusão de que algo ou alguém possa livrá-lo desse sentimento. Essa busca acaba levando-os a caminhos negativos e, muitas vezes, querem libertar-se através de bebidas, drogas, ou até mesmo tornando-se dependentes de alguém próximo. Os adolescentes, muitas vezes, descrêem da sua capacidade de cuidar da própria vida emocional e esperam que os outros supram suas necessidades; e estes, por sua vez, sentem-se sufocados e tendem a se afastarem ainda mais destes jovens.
Nesta fase da vida o adolescente promove, devido aos seus sentimentos ambivalentes, uma verdadeira busca do outro, fora do seu ambiente familiar. No entanto, sempre retorna às suas raízes para certificar-se de que não houve um rompimento definitivo com seus pais e para reabsorver seus padrões de relacionamento.
Quando a família estrutura-se de forma a promover esse relacionamento de confiança com o jovem adolescente, dá a ele condições de, na medida em que evolui em seus questionamentos, encontrar subsídios para enfrentá-los de forma condizente a um amadurecimento adequado, fazendo com que o sentimento de solidão, tão presente nesta fase do desenvolvimento, seja amenizado, interferindo de forma menos agressiva no ambiente psíquico deste jovem.
Não é nada fácil, tanto para o jovem adolescente quanto para sua família lidar com estes conflitos, pois, ambas as partes perdem-se em meio a estes paradigmas e sentimentos, de forma a, muitas vezes, desestruturar-se em suas crenças e convicções.
No entanto, quando a troca de experiências entre o jovem e a família tende a estruturar, ao longo dos anos, uma relação de confiança mútua, criará no adolescente a certeza que, mesmo em meio a tantos questionamentos e à vontade de buscar lá fora, longe do seio da família, o conhecimento do mundo dos adultos, mais cedo ou mais tarde poderá retomar esta relação sem que as perdas sejam tão significativas para seu mundo psíquico, reiterando para si mesmo um amadurecimento mais seguro, onde a solidão terá uma breve e natural passagem.
Pesquisa realizada pelos acadêmicos em Psicologia da UNINGÁ -Unidade de Ensino Superior Ingá:
Franciele Monik Zanutto
Isabela Cristina Bonadia Veroneze
Nivaldo Donizeti Mossato
Rodrigo Robson Lolatto
Orientados e supervisionados pela Professora - Ms. Patrícia M. de Lima Freitas

A SOLIDÃO DO MUNDO


Hoje,alguém estendeu-me a mão.
Pude perceber, transfigurada em sua face,
a solidão em que o mundo vive.
Ouvi o tilintar das moedas sucumbindo-lhe as mãos,
sem, no entanto, estancar-lhe o sangue das feridas.
É Jesus, crucificado e abandonado que grita:
Tenho fome,
Tenho sede,
Tenho frio!
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sexta-feira, 30 de outubro de 2009

A LUZ DO MUNDO


Esta noite eu tive um sonho: Caminhava eu pela praia, quando percebi uma luz ao meu lado. Parei e a Luz parou junto a mim, e, uma voz soou-me aos ouvidos:- Vem Comigo! Sem exitar, caminhei com Ele por um longo tempo. Então lhe perguntei: - Senhor, para onde vamos?- Vou mostrar-lhe o portal da Vida e da Morte, para que creiais!Caminhamos lado-a-lado, como velhos e bons amigos, procurando nos conhecer. Paramos diante de uma grande escadaria, de construção muito antiga, mas bem conservada. As portas eram grandes e altas. Subimos num passe de mágica.Corri de lado a lado, observando cada detalhe, cada centímetro daquele lugar. Quando já estava quase exausto, o Senhor tomou-me pela mão, abriu o portal e disse: - Venha!Entramos em um imenso corredor. Ao fundo, uma Luz intensa irradiava vida e energia ao lugar. Jamais vira antes uma luz tão clara de brilho tão forte. Perguntei-lhe: - Senhor, que luz é essa? - Sou Eu. Respondeu-me. Eu sou a luz do Mundo, a verdadeira luz da vida. Quem crê em mim, será iluminado e estarei com ele para sempre.Percebi então, que havia muitas portas que davam para aquele corredor. Perguntei-lhe novamente: -Senhor, que são estas portas? - São os caminhos que todos precisam percorrer. São vossas escolhas do dia-a-dia. O livre arbítrio foi vos dado por amor para que sejam donos de sua escolha. - Senhor, Percebo que as portas são divididas ao meio, uma superior e outra inferior e suas fechaduras são ambas do lado direito. Qual a razão? - Filho, não basta escolher o caminho. Precisas caminhar sobre ele. Todas as portas levam a mim tal qual caminhos iluminados pelo amor. O Amor precisa ser amado. Assim, estas portas, superior e inferior, só poderão ser abertas ao mesmo tempo, com a mão direita. - Senhor, só temos uma mão direita! Como poderemos abri-las ao mesmo tempo?- Os Esposos perante Deus são Um. No entanto possuem duas mãos direita. Os solteiros, virgens, consagrados, viúvos poderão ser um com o seu próximo. Desta forma a porta escolhida se abrirá. A porta superior é a sua. É a cabeça. A inferior é a do próximo. São as pernas. Se abrires somente a superior, serás tomado pela luz da sabedoria e do entendimento. Compreenderás o caminho, mas não andarás sobre ele. Suas pernas ainda estarão nas trevas. Se abrires somente a inferior, seu caminho será iluminado, mas suas pernas obedecerão uma cabeça sem luz. Seja luz e sabedoria, assim, caminharás com segurança na direção certa e jamais estarás só. - Senhor, percebo vários fachos de luz que dividem estas portas como se fossem quarteirões. Eles não têm a mesma intensidade da Vossa luz. Quem são? - A escolha do caminho é tão somente a primeira escolha. Muitos alcançam a luz eterna. Outros perdem-se ao longo da caminhada. Estas luzes são os caminhos de volta para aqueles que precisam recomeçar. Todos os caminhos dão a mim. Uma vez feito a escolha, estarei contigo. A intensidade da tua luz depende da proximidade que manténs da fonte eterna.- Senhor, se são caminhos de volta, por que vejo pessoas tentando sair por eles? - Estão perdidos. Alguém precisa tomar-lhes pelas mãos e mostrar-lhes novamente o rumo certo. Assim, manifestar-me-ei neles e farei deles minhas testemunhas para que se cumpra o que foi escrito: “ Eis que bato à tua porta. Se abrires, entrarei e em ti farei morada. Comerei contigo e o sangue do Cordeiro será derramado sobre tua Cruz. Se creres em mim, nova Criatura serás.”
Eis então o tempo que vos anuncio o novo Caminho!

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

A FAMÍLIA E A COMUNHÃO DE BENS


A verdadeira família, instituída segundo os moldes de Deus em sua magnitude de amor, gerada em consequência de um matrimônio de comunhão e partilha - [Por isso o homem deixará pai e mãe e se unirá à sua mulher e os dois serão uma só carne - Mt 19,5] - só tem razão de ser e existir se em sua plenitude estiver inserida a comunhão total dos bens. Sem esse aspecto, vivido primeiramente pelo casal e posteriormente estendido aos filhos através do exemplo contido na relação construída entre os cônjuges, não se poderá falar em comunidade de amor.
A comunhão dos bens, não só na família, mas em toda comunidade cristã, tem uma relação muito mais ampla que somente a questão financeira ou o ato de se colocar algo em comum. Comunhão é partilha. E para partilhar, tanto no âmbito material quanto espiritual, o primeiro passo é acreditar e vivenciar a presença de Deus naquele ato. É preciso ter a consciência de que se constrói muito mais quando dividimos (no verdadeiro sentido de partilha) o que temos, sem a medida humana de querer presenciar ou obter o resultado imediato, esperado ou planejado.
A comunhão dos bens passa antes de tudo pela comunhão de almas. E é vivenciando o amor recíproco que construímos essa comunhão. É impossível compartilhar o que não temos. É impossível viver em unidade, sem construir a unidade. É impossível gerar comunhão, sem gerar Jesus em meio, ou seja, gerar a presença D’Ele entre nós.
Para colhermos o fruto se faz necessário, antes de tudo, plantar a árvore. Mas plantá-la somente não basta. Bons frutos dependem de boas sementes, de terra fértil, de cuidados diários e, acima de tudo, de uma boa poda. Uma árvore que sofre uma poda no tempo certo perde o galho ou o ramo cortado, mas ganha na qualidade do fruto que certamente virá.
A comunhão dos bens inicia-se na percepção do tudo que podemos perder em benefício daqueles que estão à nossa volta. Um perder do ter para construir um ser comunhão e um estar em comunhão.
A simplicidade da comunhão dos bens, se vivida com amor, pode transformar a vida de famílias inteiras, como a de um casal que compartilhou sua experiência num encontro de famílias que participei recentemente: “Procuro valorizar ao máximo o trabalho de meu esposo. Sei o quanto custa a ele o esforço cada vez maior em trazer o sustento para cada um dos cinco membros da família. Quando vou à cozinha preparar o almoço, meço com cuidado cada porção a ser feita. Peço a Deus que seja sempre o suficiente para que todos comam à vontade, mas que não seja nada desperdiçado. Não jogo nada fora, reaproveito as sobras usando a criatividade em novas receitas de bolinhos, tortas etc. Não é avareza. Preparo com amor toda a comida e agradeço por tê-la em casa.
Quando vou lavar a alface, por exemplo, procuro abrir a torneira o mínimo possível para que não haja desperdício, sei quantas pessoas não tem o que comer ou beber. Aproveito ao máximo as folhas da verdura, até mesmo o talinho, aquela parte mais durinha. Para minha surpresa, um dia à mesa, meu filho de cinco anos testemunhou: - Mamãe, a salada está uma delícia! Mas a parte que eu mais gosto é o durinho da folha. Faz um barulhinho quando a gente come”.
O marido completou: “Percebo o quanto é difícil para ela o trabalho doméstico e o quanto ela se coloca no amor para dar conta de tudo. Consideramos tudo que temos como se nos fosse emprestado por Deus por um determinado tempo, e que, tivéssemos de devolver a Ele, a qualquer momento, na pessoa de um irmão próximo. Ao comprar uma roupa, por exemplo, pensamos também em quem a poderia usar, quando não mais nos servisse. Assim, por entendermos que o bem não é nosso, o valorizamos muito mais ao colocá-lo em comum. E somos felizes por isso”.
A harmonia criada quando colocamos em comum o fruto do nosso esforço, gera no outro uma reciprocidade, que quando verdadeira, autêntica, leva-nos até ao sacrifício, superando tanto os problemas causados pela falta de dinheiro quanto pelo excesso. Este amor que nos capacita a dar a vida pelo outro, transborda do casal para os filhos, que entendendo os limites financeiros dos pais, tornam-se solidários com os irmãos. Não há desperdício e o que sobra é partilhado, observando a dignidade de quem recebe. Vivendo esta perspectiva do amor recíproco (a comunhão total dos bens) até mesmo os momentos mais difíceis são enfrentados corajosamente, compartilhando o peso da cruz com Jesus Abandonado(*).
A abundância não se acumula e mesmo grandes quantias são generosamente cedidas a quem mais precisa. Aquele mesmo Pai que socorre na pobreza, recompensa com o cêntuplo esta generosidade. Quando procuramos viver a comunhão dos bens, inspirados na vontade de Deus, reflete-se em nossa família o retrato da primeira comunidade cristã, que colocando tudo em comum, faziam circular um amor recíproco contagiante capaz de mudar tudo ao seu redor (At 4,32-37).
É necessário então sermos fiéis nas pequenas coisas, para realizarmos esta comunhão. É preciso renunciar ao consumismo proposto pela sociedade moderna, avaliando em unidade com o(a) esposo(a) o que realmente é prioritário como necessidade básica da família. É indispensável uma previsão de gastos mensais e o compromisso de todos em não ir além desta previsão, e se possível, constituir um modelo de poupança adequado à realidade de cada família. Adequar-se a estas despesas e proporcionar aos filhos a chance de demonstrar que também fazem parte deste comportamento é ponto fundamental para a construção da partilha.
De fato, cada vez mais, no mundo de hoje, se faz necessário a educação da vontade dos nossos filhos. O autoritarismo dos pais no passado deu lugar hoje à permissividade sem limites. Essa atitude tem formado jovens frágeis e inseguros.
A arte de educar consiste em fazer a criança descobrir todos os dons escondidos nas suas pequenas renúncias. Ela, de fato, não renuncia facilmente a uma satisfação se não for por outra ainda maior. Não se trata de dizer não e basta; mas de estimulá-la com a perspectiva de um bem maior. Dizer um não custa tanto àquele que o diz quanto a quem o escuta. Como pais e educadores, devemos estar firmemente convictos do bem que esse esforço faz na educação das crianças. O não é um dom necessário! É ele que constrói os limites dos nossos filhos e dá a eles a sã possibilidade de escolhas futuras.
Lembro-me perfeitamente de um dia em que estávamos em um supermercado, eu e minha filha Maria Clara, de seis anos, fazendo a compra para o fim-de-semana. Ela pegou um pequeno carrinho e o encheu com muitos brinquedos, doces e revistas. Vendo aquilo, aproximei-me carinhosamente e disse-lhe que naquele momento não tínhamos condições de comprar tudo aquilo. Na sua posição de criança quis saber por que não podia.
Disse-lhe: “filha, olha essa boneca. Você tem uma muito parecida com ela e só tem uma na prateleira do mercado. Se você comprar essa, uma outra criança que não tem nenhuma, não vai poder comprá-la. Não seria um ato de amor deixar essa boneca para uma outra criança? O mesmo acontece com todas essas revistinhas, não é mesmo?” Dizendo isso, fui para a fila do caixa. Minutos depois ela chegou. Percebi que havia devolvido muitas coisas na prateleira.
No caminho de volta para casa, após alguns minutos de silêncio, ela chamou-me olhando pelo retrovisor interno do carro e disse:
- Papai, você não precisa comprar um monte de presente para mim.
- É filha, por quê? Perguntei-lhe.
- Por que você já é o meu presente!
Meus olhos encheram-se de lágrimas e percebi então o quanto é verdadeiro o amor de Deus por nós. Ele não deixa passar em vão um esforço de amor. Ele não se deixa vencer em generosidade. A recompensa por tê-la amado em um pequeno gesto de comunhão, foi capaz de gerar entre nós a presença extraordinária de um Jesus que jamais nos abandonará.



(*) Expressão utilizada por Chiara Lubich (1920 - 2008) fundadora do Movimento dos Focolares – Obra de Maria, para significar o sofrimento de Jesus quando se sentiu abandonado pelo Pai. (Mt 27,46).



Nivaldo Mossato

SILVIA FLOR DE TRENTO



Oh! Longínqua Trento.
Levantai-vos de vossas cinzas.
Não mais há bombardeios,
Nem rugem as devassas metralhadoras.
As sirenes se calaram,
Tão quanto se calaram
As vozes do teu povo.


Levantai-vos, oh! Trento.
Sob seus escombros
De aço e cimento
As luzes se acendem,
Os olhos se abrem,
E uma Sílvia Flor desponta!


Levantai-vos, oh! Trento.
Há uma nova estrela
Em teu céu cinzento.
Abri-vos os olhos,
E olhai com vossos corações:
Uma nova Fênix alça vôo
Por sobre vossas colinas.


Levantai-vos, oh! Trento.
Não mais há razões
Para teu sono profundo:
Mais forte que teu choro
E teu lamento,
É o bálsamo
Do sangue de seu rebento,
Que hoje jorra
Sobre as chagas deste mundo!



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DO OUTRO LADO DA CRUZ

INÉDITO
À Chiara Lubich e Igino Giordani
por acreditarem na unidade entre os homens
e doarem suas vidas
ao construtor desta unidade:
Jesus Abandonado.
____________
Senhor, dá-me todos que estão sós...
Senti no meu coração a paixão que invade o teu,
pelo abandono em que se acha imerso o mundo inteiro.
Amo todo ser doente e só.
Quem consola o teu pranto?
Quem se compadece da sua morte lenta?
E quem estreita ao próprio coração um coração desesperado?
Faze, ó meu Deus, que eu seja no mundo o sacramento tangível do Teu amor,
que eu seja os Teus braços, que estreitam a Si e consomem em amor toda a solidão do mundo.


Chiara Lubich (1920 * 2008)
Fundadora da Obra de Maria (Movimento do Focolares)
________________
As desilusões e os sacrifícios não são nem desilusões e nem sacrifícios:
são modos para redescobrir a realidade das relações.
Deus e tu; são esvaziamentos de matéria humana para que,
no caminho aberto, penetre o espírito divino.

Os homens te deixam para que Deus te retome.


Igino (Foco)Giordani ( 1894 * 1980)
Escritor, político, bibliotecário do Vaticano
e co-fundador da Obra de Maria
( Movimento dos focolares)
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O autor me faz sentir nestas poucas linhas, o amor de Deus por mim e por você, como pílulas do cotidiano, que nos capacita amar e ser amados. Na dinâmica do amor se sente a cruz, não como um peso insuportável, mas como caminho no seguimento de Jesus. “Quem quiser ser meu discípulo, toma a sua cruz, cada dia, e siga-me”. Ninguém pode dizer que é missionário e discípulo de Jesus se não assumir com coragem a própria cruz do dia a dia. Vale a pena mergulhar neste mundo como se mergulha na água, uma criança que, sem temor, deixa cativar-se pelo desejo de uma experiência diferente.

“Do outro lado da cruz” está Jesus, não tenhas medo.


Dom Anuar Battisti
Arcebispo de Maringá
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DO OUTRO LADO DA CRUZ

Olho neste momento para dentro de mim, como se olhasse um espelho capaz de refletir toda minha alma, mergulhada e manchada pelas coisas do mundo, por todos os pecados que cometi e ainda mais, pelos que sei que na minha fraqueza de homem, cometerei.
Olho as pessoas à minha volta, vejo seus problemas e suas fraquezas. Vejo suas virtudes e seus defeitos. Cada vez mais me convenço que a cruz abraçada por Cristo é nosso único caminho. A cada instante, vejo refletido neste espelho a minha, a sua, a nossa vida! Qual o caminho a seguir? Onde depositaremos nossas esperanças de mudar o que já está definido por nossos atos passados?
Nada poderá mudar o que está feito, embora possamos recomeçar a cada segundo. Nossos erros já foram pagos pelo crucificado. O que nos acompanhará, serão as conseqüências destes erros. Deus, ao nos constituir do livre arbítrio deu-nos os caminhos e o mapa do tesouro. Agora, cabe a cada um de nós, descobrirmos onde está e qual valor daremos a ele. Ao escolhermos a cruz, O encontraremos nela, crucificado e abandonado, todos os dias de nossas vidas. Não tenhamos medo. Jamais estaremos sozinhos, mesmo no abandono dos homens: “Os homens te deixam para que Deus te retome”. (Igino Giordani) Nós e Ele. Ele crucificado. Nós, tentando na nossa imperfeição de amor, galgar o outro lado da cruz: ressuscitar no Ressuscitado.
Tenhamos a certeza deste dia. Vivamos pela certeza desta promessa testemunhando com nossas vidas que a unidade não é utopia. Ela é possível se começarmos a vivê-la dentro de nós e fazê-la refletir, cada vez mais, no espelho do outro.
A escolha de Cristo é única, individual e intransferível. Deve ser refeita a cada segundo, após cada gesto, depois de cada batida do nosso coração. O pecado é meu. A dor é minha. É minha a busca do Cristo.
No entanto, a luz deste encontro, Eu e Cristo, deve-se doar à humanidade para a construção do testamento do Cordeiro: “Que todos sejam um!” Ele nos quer santos, misturados a esta multidão que parece ser esquecida, mas não é. Ele está presente em cada um, em cada ato, em cada folha que cai. Nada acontece sem o Seu consentimento ou sua vontade, mesmo que não consigamos entender Seus desígnios. Mesmo que pareça não existir Sua presença.
Busque-O. E O encontrará refletido em cada um que por vontade ou desígnio Dele, cruza o teu caminho. Nada é em vão. Tudo faz parte de um tesouro escondido em nós, do outro lado da cruz, onde mora a Vida!

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

SANTOS NO OUTRO


A busca de cada um de nós está intrinsecamente mergulhada na verdadeira razão do existir do homem. E a razão do homem, a sua estrutura, o seu ser, mergulhado na única via capaz de nos levar à realidade e realização plena, ainda em vida: - Deus!
Somos constituídos de duas faces, duas partículas distintas que livres no pensar e agir podem transformar um só ato no bem ou mal. Cabe a nós, que ainda temos um pouco de coerência no amor, decidir por milhões de pessoas que ainda nem se quer nasceram. O futuro é construído no agora. Em cada passo, em cada gesto, em cada palavra. O livre arbítrio nos dá acima de tudo, a liberdade de errar. E se errar, reconhecendo o erro, temos a liberdade, em Deus, de recomeçar. Somos novos no amor. Basta darmos o passo.
“Quem crê, nova criatura é.” A razão humana, não nos leva muito longe. Ou quando leva, não nos plenifica. Somos plenos só em Deus.
O passado, mesmo o de um minuto atrás, deve apenas nos servir de guia para que não cometamos os mesmos erros, no presente e no futuro. As amarras devem ser cortadas, mesmo que nos custe noites e noites de sono ou abandono. Não importa o quanto somos santos ou pecadores. Importa sim, estarmos sempre à caminho da santidade. Renovados Naquele que confiou uma grande missão à cada um de nós: “Que todos sejam um!”
Não importa o credo, a profissão, a cor. Sermos Um! Construir com cada um que cruza nosso caminho, uma edificante relação de amor. As cruzes são como Ouro virgem. Os sofrimentos, como diamantes brutos. O Ouro é purificado com o fogo. Os diamantes, lapidados retirando a robustez da pedra, deixando transparecer todo seu brilho, sua essência. O sofrimento lapida nossa alma. A cruz, vivida em Cristo, nos purifica e nos aproxima do oráculo do Senhor. Ele nos quer santos, refletidos e mergulhados no irmão.
Não santos do acaso. Não santos no isolamento dos conventos. Não santos, mártires da humanidade. Santos no outro. Santos do dia-a-dia dos nossos filhos. Das necessidades da nossa esposa, da nossa família. Santos dos pequenos atos de amor que transformam as pessoas que mesmo ao nosso lado, se isolam do mundo. Santos do ombro-a-ombro, misturados na multidão. Santos que caminham contra a corrente, tentando vencer a si mesmos para perder-se no outro. Mergulhemos então, no sabor da Paz, no verdadeiro sentido da vida.
Amemo-nos verdadeiramente em Cristo, deixando para trás o nosso “eu” tão mesquinho que nos obriga a cada momento ser o que não queremos ser. Somente após sentirmos a verdadeira proximidade com Ele é que poderemos valorizar as pessoas que nos são caras. Não deixemos que nossa vontade seja maior que nossa razão. Não deixemos que nossa razão seja maior que o testamento que Ele nos deixou: “- Amarás o Senhor teu Deus acima de todas as coisas e ao teu próximo como a ti mesmo.”
Estejamos sempre a caminho!

domingo, 18 de outubro de 2009

UM EMPRÉSTIMO DE DEUS

Tenho refletido muito sobre a nossa responsabilidade em relação aos nossos pais e filhos. Este é um círculo da vida no qual estamos inseridos e somos responsáveis diretos. Se olharmos para trás, vemos que somos uma continuidade da vontade de Deus para com nossos pais, e, nossos filhos, a renovação desta vontade. Temos muitas vezes a certeza que nossos filhos são nossa propriedade e os educamos como tal. Com certeza, estes serão filhos do mundo. Se somos vontade de Deus, nossos filhos são frutos desta mesma vontade. Um empréstimo por tempo determinado. E como todo empréstimo, um dia teremos que efetuar a devolução deste capital. Podemos fazê-lo crescer e multiplicar-se; Podemos simplesmente ignorá-lo, ou pior ainda, deixá-lo deteriorar-se, imerso nas coisas do mundo.
Mas, repito: - Um dia teremos que devolvê-lo!
Alguns efetuam a devolução mais cedo, outros mais tarde. Outros, são devolvidos mesmo antes de verem suas espigas repletas de grãos.
Haverá com certeza a hora da colheita. Ela será feita, e, as espigas serão ceifadas de modo que algumas servirão de sementes para um novo plantio; assim, darão novamente frutos na terra. Outras, servirão de adubo para que a terra tenha força para uma nova colheita. Mas, ai daqueles que forem jogados aos porcos!
Um bom pai planta em seus filhos uma boa semente. Semente que se bem preparada, retorna à terra para dar frutos em novas espigas. Espigas que repletas de boas sementes, serão novamente semeadas em terra fértil, continuando o círculo da vida, em Deus.
Uma boa semente precisa de bons cuidados. Um bom plantio depende de um bom clima, de uma boa terra, adubada e preparada. Depende também, da proteção contra “as pragas” que com certeza, encontraremos pelo caminho até a época da colheita.
Tem a hora certa e o tempo certo do plantio, da poda, da capina e da colheita.
É necessário proteger a semente!
Embora proteger, não significa “ocultá-la” das intempéries da vida.
Não se protege uma semente do frio, ocultando-a no calor. A proteção vem da “climatização”, ou seja, pouco a pouco fazemos com que a semente adapte-se à nova situação climática, tirando dela a melhor produtividade. É assim com nossos filhos.
Um bom pai, protege seu filho.
Não ocultando-o das “coisas” do mundo ou dizendo “Sim” para todas as suas vontades. Quem ama, diz “não”! Toda hora e vez que se fizer necessário.
Uma boa árvore dá bons frutos quando se faz a poda no momento certo.
A semente (o filho) depende de uma perfeita interação entre a qualidade do solo (o pai ) e a harmonia do clima ( a mãe ) para ter reais chances de transformar-se em boa espiga. Não é o pai ou a mãe que educa. É o resultado do relacionamento entre os dois (unidade) que irá incutir na criança a exemplificação do que se pode ou não fazer.
A verdadeira educação se faz em primeiro plano com atitudes. Posteriormente, com palavras. Vive-se, e raramente será preciso corrigir. Embora, na hora da poda, se faz necessário arrancar com convicção alguns galhos, para que possamos ver, no futuro, uma frondosa árvore dando bons frutos. E esta convicção é que nos dará respaldo para respondermos quando indagados por Deus:

“O que fizeste com as sementes que lhe dei?”