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Maringá, Paraná, Brazil
Às vezes se faz necessário caminharmos contra a corrente para descobrirmos a nós mesmos. O exercício se resume em olhar nos olhos daquele que vem ao nosso encontro!

domingo, 23 de outubro de 2011

ENTRE NÓS





Mesmo que eu conheça
Todas as Psicologias,
Mesmo que domine todas as abordagens,
Técnicas e conceitos;
Mesmo que eu possua
A mais fina habilidade prática
E fale a linguagem de todas as teorias;
Sem o Outro, nada serei!
É no Outro que me constituo humano;
É no ‘Entre’ que encontro
O verdadeiro Amor.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

O VERDADEIRO ENCONTRO








Antes de nos encontrarmos com o 'si mesmo',
torna-se impossível o encontro com o Outro.
O verdadeiro encontro
é aquele onde duas 'totalidades' conscientes de 'si mesmo'
despem-se do seu 'Eu' e,
acolhendo o Outro,
deixa-o livre para 'Ser-no-Mundo'.

É deste encontro que provém a felicidade!



sexta-feira, 2 de setembro de 2011

O ENCONTRO






Na tarde ensolarada eu caminhava. Ao calor escaldante dei minha resposta: um sorvete! Atravessei a rua e entrei na sorveteria. A senhora que ali estava atendeu-me sorridente: ‘pois não’?! O sorriso, maior que sua alma, arrancou-me uma recíproca: ‘um sorvete, por favor... de ameixa, se tiver’. Outro sorriso e uma afirmação: ‘huuummm! É o meu preferido. Só um minuto e já lhe atendo’.

A senhora afastou-se e em segundos retornou trazendo-me o pedido: ‘aqui está, de ameixa’. Meus olhos mergulharam na gélida e suculenta paisagem, enquanto minha boca banhava-se em salivas. Por entre sorrisos, paguei-lhe e saí.

Na calçada, em frente a uma lixeira estava o menino. Nossos olhos se encontraram ao acaso e arrancaram-me um outro sorriso. Instintivamente levantei a mão que segurava o sorvete e lhe ofereci: ‘quer um sorvete’? Levantando as mãos mostrou-me o palito e a embalagem de um picolé e respondeu: ‘não, obrigado. Acabei de chupar um’.


O menino caminhou até a lixeira e depositou ali o lixo. Virou-se e quando se preparava para seguir seu caminho um senhor, já de meia idade, cortou-lhe o caminho, apressado. Levou a mão à boca deixando ver o cigarro. Tragou rapidamente e jogou a bituca no chão. A resposta do menino foi imediata: ‘senhor? Senhor’? O homem parou bruscamente e voltou-se para o menino que, mais veloz que meus pensamentos soltou a bomba: ‘o senhor ama a Deus’? O homem olhou-o em silêncio. Parecia estar como eu: estarrecido. A resposta não veio em palavras. O menino replicou: ‘o senhor ama a Deus’? O homem abaixou-se e passando a mão sobre a cabeça do menino perguntou: ‘por que me perguntas’? O menino repetiu pela terceira vez: ‘você ama a Deus’? O silêncio parecia eterno entre eles.

O senhor abraçou o menino, que por segundos ficou inerte. Passou novamente a mão por sobre seus cabelos. Apanhou a bituca do chão e, abrindo o bolso do paletó pegou a carteira de cigarros. Amassou-a fortemente e a jogou na lixeira. Olhou para o menino e, sorrindo, retomou seu caminho.


Meus olhos o acompanharam vendo-o sumir por entre as pessoas que passavam. Não sei por quanto tempo fiquei parado naquela posição. Quando me dei conta o sorvete havia derretido e o menino não mais estava ali. Corri até a esquina e nada! Voltei à sorveteria e um senhor me atendeu: ‘pois não’? Seu sorriso, embora cativante, de nada lembrava a doce senhora que minutos atrás me atendera. Hesitei em perguntar. Sem palavras, gesticulei timidamente e tomei a calçada.


Na mente, uma pergunta ecoava sem resposta: você ama a Deus?

Hoje, quase trinta anos depois, pareço estar mais próximo desta resposta: ‘não é possível ao homem amar o Criador sem amar sua criação. Não é possível chegar ao criador sem estar em relação íntima com o homem, imagem e semelhança do Pai, e com a natureza - frutos do amor eterno'.


O amor é um fio de ouro que perpassa toda criatura e a une ao Criador. Para encontrá-Lo, basta caminhar por este fio, na direção do Outro. O verdadeiro amor exige que nos conheçamos a nós mesmos e, de posse do ‘si mesmo’, intencionalmente, busquemos no Outro, fora de nós, a presença do Eterno: Amor que nos restaura e nos plenifica. O amor reside também em nós, mas quando o encontramos em nós mesmos, sem passar pelo outro, nos tornamos egoístas, possessivos, e excluímos o Outro das nossas vidas; impedimos que o amor frutifique e se espalhe.

É no Outro que mora a felicidade’.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

O SILÊNCIO TERAPEUTICO







O silêncio do outro
É sempre maior que as palavras que ele produz.
Portanto, cala-te!
Somente de posse do teu silêncio conseguirás penetrá-lo.
Ouças, pois, o silêncio daqueles que te cercam.
Há nele um grito que ecoa.
Se ouvires,
saberás exatamente como proceder em teu auxílio.
Se não ouvires, é por que ainda não fizeste o silêncio necessário.


(Nivaldo Mossato)




sexta-feira, 26 de agosto de 2011

O AMOR CEGO






Eu não acredito no Amor...
...no Amor cego!

O Amor, quando cego, ou seja, quando não respeita a individualidade do Outro,

não cria reciprocidade, cria o sentido de ‘poder’, de posse sobre o ser ‘amado’.
Na verdade, este tipo de amor nem mesmo poderia ser entendido como amor;

ele não humaniza, escraviza! Dilacera!

É cárcere da alma, prisão do espírito.
Todo sentimento que não dá ao Outro o sentido de liberdade, não é Amor.

Quem ama, promove o crescimento do ser amado;

capacita-o a realizar seus sonhos e desenvolver suas potencialidades.

Quer vê-lo feliz e realizado.
O amor cego aprisiona o ‘Eu’ e desqualifica o ser amado.

É como se você, ao ouvir o canto matinal de um pássaro,

colocasse um alçapão na sua janela para ‘aprisioná-lo’,

julgando que, preso em sua gaiola você o estaria ‘protegendo’

das intempéries da natureza.

O amor cego suprimi a liberdade!

Erradica a personalidade! Deturpa o ser!
Ninguém gosta de ser usado.

O Amor cego, por torná-lo egoísta,

faz com que você não perceba a pessoa amada como pessoa humana:

torna-a objeto!
O Amor é dádiva que liberta, é alma livre que penetra o Outro

e nele se realiza, realizando-o.
O Amor cego é cisão!

É corte!

É prisão!

É morte!

terça-feira, 16 de agosto de 2011

UMA SANTA VIAGEM










Aquela pulseirinha era mesmo especial. Cada pedrinha colorida tinha um significado também especial: era o registro visível dos pequenos atos de amor que fazia cotidianamente. Era instantâneo: terminava de praticá-los e deslocava uma pedrinha da esquerda para a direita das amarras da pulseira como se dissesse a si mesmo 'pronto! Aqui eu amei'.



Não poucas vezes, as pedrinhas que se acumulavam de um lado da pulseira era um desafio para os seus seis anos de idade: 'tenho que amar'!






Lembro-me do seu sorriso angelical ao correr à minha frente para abrir a porta do elevador. Assim que entrava, olháva-me e sorrateiramente deslocava a pedrinha. Às vezes, na dúvida, perguntava-me: 'pai, abrir a porta do elevador para alguém é um ato de amor'? Sim! Eu lhe respondia. No entanto, o que ela não sabia é que o sorriso estampado em seu rosto era ainda um dom maior de amor. Vê-la sorrir era o grande presente que Deus nos permitia naquele momento de nossas vidas.






Aquela pulseira guardava em seu bojo um verdadeiro exemplo de vida. Passa-me à memória nesse instante os pequenos cartões de visita que desenhava e vendia a R$ 1,00 para as pessoas que vinham lhe visitar, para que, com o dinheiro arrecadado, pudesse ajudar os coleguinhas que também estavam internados na mesma enfermaria do 'Pequeno Príncipe', em Curitiba. Amar era seu lema!






No entanto, o que mais me impressionou foi a força de amor contida naquele pulseira. Depois de uma crise, nosso anjo foi internada na UTI. Seu quadro era bastante grave, mas a esperança era ainda maior.



A hora de visitas se aproximava e nós nos preparávamos para mais um dia de batalha. Minha sogra e minha cunhada sairam na frente para alcançarem o elevador. Eu fui logo atrás, esperando minha esposa que terminava de se arrumar.



Já no corredor escutei um grito. Voltei correndo e me deparei com minha esposa, estarrecida, com as mãos na face e olhos fixos no chão. Ela tremia. Assustado, perguntei-lhe o que acontecera. Ela olhava fixamente para o chão. Foi então que percebi a pulseira caida. Suas mãos trêmulas agora tentavam dar suporte à sua voz, que não se houvia. 'O que foi'? Perguntei-lhe novamente.



Ainda trêmula, balançava a cabeça num esforço sobrenatural de comunicação: 'a... pulseira... ela saltou sozinha da bolsa! Ela saltou... da bolsa...






O pavor estava estampado em seus olhos, mas a certeza foi ainda maior em seu coração: 'Ela esteve aqui! Veio se despedir... era ela, tenho certeza!






Era 22 de setembro de 2.002.



A primavera se abria lá fora.



Em meu peito, uma certeza: o céu estava em festa!

quarta-feira, 1 de junho de 2011

O PAPALAGUI - Um novo olhar sobre o mundo





Uma profunda reflexão pautada na simplicidade do olhar de um nativo


em relação a forma de vida escolhida pelo


homem moderno.



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(...) Diz o Papalagui:


¨A palmeira é minha¨, só porque está na frente da sua cabana. É como se ele próprio tivesse mandado a palmeira crescer. Mas a palmeira nunca é dele, nunca. A palmeira é a mão que Deus nos estende de sob a terra. Deus tem muitas mãos, muitas mesmo. Toda árvore, toda flor, toda grama, o mar, o céu, as nuvens que o cobrem, tudo isso são mãos de Deus. Podemos pegá-las e nos alegrar, mas não podemos dizer: ¨a mão de Deus é minha mão¨.
Tuiávii.


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Nesta obra, o autor Erich Scheurmann traduz os escritos de Tuiávii, um nativo da ilha de Upolu, na Polinésia, que em viagem pela Europa do século XIX sofre o impacto da diferença cultural existente entre o Papalagui (homem branco) e seu povo. O indígena escreve aos integrantes da sua aldeia (Tiavéa) contando suas experiências (aventuras) na convivência com os europeus e traça um perfil, a seu ver, de como é o mundo do homem branco, como ele vive, quais suas crenças, seus costumes, sua cultura e sua religião.

Com muita sabedoria e discernimento, tomando como base a cultura indígena e o aprendizado obtido junto aos missionários maristas, o protagonista faz um comparativo entre a forma de usufruir a vida adotada pelos papalaguis e a forma adotada pela tribo de onde se originou, levando-nos a uma reflexão profunda sobre a “verdadeira função” do homem sobre a terra.

Tuiávii não conseguindo reconhecer em que se baseiam os valores da comunidade européia descreve com autenticidade, veemência e convicção, o vestir, o morar, a forma de trabalho, de relacionamento e de comunicação adotada pelo papalagui. Descrição essa, que nos faz penetrar num mundo reflexivo, onde a ação humana exercida sobre seus semelhantes e sobre a natureza é, a seu ver, realmente questionável, pois aliena o homem a si mesmo, distanciando-o da sua essência: Deus!

Um choque cultural, que nos leva a rever nosso relacionamento com o trabalho, com os meios de comunicação, com o tempo, com o próximo e, principalmente, conosco e com Deus. Uma lição de vida, baseada na simplicidade de um coração autêntico, sem malícias, como o de uma criança, que perdida em seus sonhos, vendo um mundo novo surgir à frente de seus olhos, volta-se ao Pai e se lança em seus braços buscando refúgio e segurança.


Mesmo que, imersos no contexto desta obra, o “novo” lhe tenha causado “estranheza”; mesmo que a cultura do Papalagui seja completamente diferente da forma de Tuiávii ver o mundo, mesmo que o homem branco tenha o mesmo sentimento de estranheza em relação ao nativo e o choque cultural tenha provocado em ambos uma relativa “repulsão” aos seus costumes, vale a pena refletirmos sobre alguns conceitos, impregnados no cotidiano de nossas vidas, que muitas vezes nos leva ao ponto de nos abdicarmos de nós mesmos, dos nossos sonhos e, principalmente, da plenitude das relações com o outro, com a natureza e com Deus!


Pensemos nisso!

terça-feira, 31 de maio de 2011

O QUE É POSITIVISMO - Resenha Crítica




RESENHA CRÍTICA

Nivaldo Donizeti Mossato



RIBEIRO JÚNIOR, João. O que é positivismo. São Paulo: Brasiliense, 2003.



O autor João Ribeiro Júnior aborda neste texto, de forma expositiva, não só a história do positivismo e suas correntes de pensamento, ou seja, seus aspectos principais, como também a “religião da humanidade”, fundada pelo filósofo francês Augusto Comte, e, suas principais influências no mundo moderno.

Augusto Comte nasceu em Montpellier em 1798 e faleceu em Paris, em 1857, após ter desenvolvido metodicamente a teoria positivista e a ter registrado em volumosos compêndios, influenciado pelo progresso contínuo da ciência, onde doutrinava que o que é possível conhecer são unicamente os fenômenos e as suas relações, não a sua essência, as suas causas íntimas, quer eficientes, quer finais, pois é impossível ao homem alcançar noções absolutas.
Em sua concepção filosófica, Comte delineava que a essência do pensamento positivista baseava-se na humanidade, na ciência, síntese e fé, dominando desta forma, como método e como doutrina, o pensamento típico do século XIX. Como método, embasado na certeza rigorosa dos fatos de experiência como fundamento da construção teórica; como doutrina, como revelação da própria ciência, conteúdo natural de ordem geral que ela mostra junto com os fatos particulares, como caráter universal da realidade, como significado geral da mecânica e da dinâmica do universo.
Não procurar o “ porquê as coisas acontecem”, mas compreender “como elas acontecem”. Conhecer o mecanismo do mundo, ao invés de inventá-lo. Saber que a ciência não é mais que a sistematização do bom senso, que acaba por nos convencer de que somos simples espectadores dos fenômenos exteriores, independente de nós, e que não podemos modificar a ação destes sobre nós, senão submetendo-nos às leis que os regem.
O Positivismo é, portanto, uma filosofia determinista que professa, de um lado, o experimentalismo sistemático e, de outro, considera não científico todo estudo das causas finais, admitindo que o espírito humano só é capaz de atingir verdades positivas ou de ordem experimental, e que, não resolve questões metafísicas, não verificadas pela observação e pela experiência.
Estabelece a máxima unidade na explicação de todos os fenômenos universais pelo emprego exclusivo do método empírico, ou da verificação experimental, não assinalando à ciência mais do que o estudo dos fatos e suas relações, percebidos pelos sentidos exteriores.
Pode-se dizer que o positivismo é um dogmatismo físico, pois afirma a objetividade do mundo físico; e é um ceticismo metafísico, porque não quer pronunciar-se acerca da existência da natureza dos objetos metafísicos, pois é no estado positivo que o espírito humano reconhece a impossibilidade de obter noções absolutas.
Para embasar sua explicação da história, Comte fundamenta-se na “lei dos três estados”: o teológico-fictício, no qual o ser humano explica os fenômenos por meio de vontades transcendentes ou agentes sobrenaturais; o metafísico-abstrato, onde explica-se os fenômenos por meio de forças ou entidades ocultas e abstratas, como o princípio vital; e o positivo-científico, onde se explica os fenômenos subordinando-os às leis experimentalmente demonstradas.
Todas as ciências passaram pelos dois primeiros estados e só se constituíram ao chegar ao terceiro, pois o estado positivo é o termo fixo e definitivo no qual o espírito humano descansa e encontra a ciência, distinguindo assim, as ciências abstratas (matemática, astrologia, física, química, biologia e sociologia) das concretas (mineralogia, botânica e zoologia).
A doutrina positivista pode ser considerada sob os seguintes aspectos:
1- Psicológico: Inicialmente a psicologia, para Comte, fazia parte da biologia. Depois, destacou-a da biologia e a denominou de “moral teórica”, reputando a alma como sendo um conjunto de funções cerebrais.
2- Ontológico: Nega as causas eficientes e finais, o infinito e o absoluto. Reconhece apenas o relativo, o sensível, o fenômeno, o útil.
3- Sociológico e Religioso: Divisão dos poderes sociais em material, intelectual e moral, segundo uma nova classe social: os dirigentes (aqueles que influem na educação e na cultura: os sacerdotes, filósofos, cientistas,jornalistas, professores, etc.) e os dirigidos (aqueles que acatam essas influências).
Para Comte, as partes que compõem uma sociedade são heterogêneas, no entanto, solidárias, pois se orientam para a conservação do todo, do conjunto. Possui um ritmo evolutivo incompatível com a revolução violenta, e classifica sua estrutura social em dois campos principais:
1- Estática Social: Estudo da ordem social. O organismo social e suas relações com as condições de existência (Teoria da Ordem).
2- Dinâmica Social: Estudo da evolução social. Parte do conjunto para as particularidades e determina o progresso geral da humanidade.
Para Comte, nenhuma estrutura social é possível sem que esteja previamente determinada nos fatores biológicos, condicionados em cada indivíduo.
O Positivismo passa a enfrentar a sociedade individualista e liberal, partindo do princípio da “Ordem e Progresso”, e adotando a noção de solidariedade, substitui a idéia sobrenatural do “Direito” pela idéia natural do “Dever”, não reconhecendo nenhum direito além do de “cumprir o dever”, negando categoricamente a própria existência do “direito” como tal.
Para o positivismo de Comte, o homem não existe como individualidade, mas sim, como sociedade. A consciência não determina sozinha o modo de existência prática, como também, não bastam as condições materiais da vida para definir a consciência. Sua orientação é embasada no altruísmo: moral que nasce da fraternidade universal e se funda nos instintos, inclinando-nos para os outros.
A humanidade só pode viver em sociedade e só progride pelo sacrifício e pela dedicação; de forma que a lei que rege a existência humana é aquela que se resume em “viver para outrem”, onde a moral consiste na preponderância dos instintos altruístas sobre os egoístas, resultantes da educação e da ciência.
Para Comte, a humanidade é o Grande Ser, é o motor imediato de cada existência individual ou coletiva que inspira a fórmula máxima do positivismo: “O amor por princípios, a Ordem por base; o Progresso por fim”. Princípio este, decomposto em duas frentes usuais:
1-Moral e estética: Viver para outrem, onde o indivíduo é subordinado à família, e esta à pátria e a pátria à humanidade.
2-Política e científica: Onde a organização é a orientação ética da vida social.
Na dialética positivista, o amor procura a ordem e a impele para o progresso; a ordem consolida o amor e dirige o progresso; o progresso desenvolve a ordem e reconduz ao amor.
Desta inspiração altruísta, Comte criou a religião da humanidade, puramente natural, racional, científica e humana, que não admite mistérios, revelação, vontade sobrenatural e crença, cuja razão não lhe tenha podido demonstrar. Portanto, baseia-se no conhecimento do mundo, concorrendo para o aperfeiçoamento moral, intelectual e prático da humanidade, que é composta pelos mortos que adquiriram a vida subjetiva, pelos vivos que se esforçam para adquiri-la, e dos não-nascidos, que se supõe, devam adquiri-la.
Assim, une-se o passado (a humanidade que trabalhou), o presente (a humanidade que trabalha) e o futuro (a humanidade que trabalhará), representando a comunhão de todos os homens em contínua solidariedade no tempo e no espaço, pois, é na humanidade que o homem irá satisfazer sua necessidade real de um Deus, e seu desejo de imortalidade, realizando, acima de tudo, seu destino moral que é servir.
Na religião positivista a mulher é excluída da humanidade divinizada, ocupando uma função moderadora e uma única missão: a de amar. Ela é tida como uma providência moral que sustenta todas as demais providências.
A força geral da sociedade é o proletariado, que forma a opinião pública e se liga à força espiritual do sacerdócio, classe mais importante do Estado positivista, que não são teólogos, e sim, sociólogos.
No sacerdócio há três estágios determinados por idades:
1- Os aspirantes: Com no mínimo 28 anos.
2- Os vigários ou suplentes: Com pelo menos 35 anos
3- O sacerdotes, acima de 42 anos, que exercem o tríplice ofício de conselheiro, consagrador e regulador nas famílias e cidades.
O casamento é obrigatório, pois, não se pode ser dignamente preenchido sem a influência contínua da mulher sobre o homem.
O patriciado é a classe detentora do poder temporal, dominando a capacidade industrial e suas diversas divisões, tais como: banqueiros, comerciantes, fabricantes e agricultores, respeitando essa classe hierárquica.
O sumo sacerdote delega a conduta material ao patriciado e este dispõe obediência à direção do sacerdócio, de modo que o indivíduo não possui a liberdade de julgar o comportamento político-social, devendo confiar nas exortações morais do sacerdócio, substituindo seus direitos por deveres.
Há dois tipos de culto na religião positivista:
1-O culto privado: Compõe-se de duas partes distintas; uma pessoal e outra doméstica.
2-O culto público: Realizado na igreja positivista.
Há nove sacramentos na religião da humanidade:
1- A apresentação do recém-nascido.
2- A iniciação, quando com 14 anos passa-se da educação materna à instrução sacerdotal.
3- A admissão, aos 21 anos autoriza-se a servir a humanidade.
4- A destinação, aos 28 anos ocorre a outorga da investidura do ofício especial.
5- O casamento, que é obrigatório e indissolúvel, mesmo com a morte de um dos cônjuges.
6- A maturidade, aos 42 anos o homem entre em plena posse das suas forças físicas e mentais, tendo mais 21 anos para realizar seu destino.
7- O retiro, aos 63 anos, o homem é retirado da sociedade ativa e terá direito ao repouso.
8- A transformação ou purificação, que vem a facilitar a incorporação.
9- A incorporação, que é a recompensa do fiel positivista, composta somente por “mortos dignos de sobreviver”.
Assim, a religião positivista parte do concreto para o concreto, e não do concreto para o abstrato, para fornecer os princípios da regeneração das sociedades, propondo não o devotamento a outros homens, mas a um fim superior a qualquer individualidade: o Grande Ser, a humanidade.

No Brasil, a nossa bandeira, com seu “Ordem e Progresso”, mostra o quanto a doutrina positivista teve aceitação, mesmo entre nossos republicanos históricos, devendo ainda a reestruturação do ensino, a separação da igreja e do Estado, a liberdade de cultos e a semente da legislação trabalhista, repercutindo e influenciando nossa cultura literária e científica.

Completando o incurso que o autor promove em seu texto sobre o positivismo de Comte, a religião da humanidade e suas correntes de pensamento, observamos a performance literária descrita de forma a se posicionar a um público mais específico, restrito à formação superior, embasada em uma linguagem não popular, que requer uma visão reflexiva para seu entendimento.
Embora não traga em si uma linguagem de senso comum, o autor não permite que a temática se perca ao longo do texto, e, procura justificá-la com embasamento científico, deixando transparecer a idéia central do pensamento a quem se refere, citando de forma original parte dos escritos Comtinianos, refletindo seus principais pensamentos.
Desta forma, há uma seletiva em seu enfoque, sendo a leitura destinada ao estudo de um contexto histórico, num processo de formação complementar, onde o leitor, de forma a agregar em si o conhecimento, possa ampliar a visão do positivismo em relação ao mundo social proposto por Augusto Comte.

visite o site: www.nivaldomossato.com.br

segunda-feira, 2 de maio de 2011

GANHADOR DO LIVRO DO MÊS DE ABRIL


Ao final de cada mês, sorteamos um livro entre os seguidores deste blog.
Para participar é muito simples: acesse o blog e cadastre-se como seguidor e/ou amigo.
Quer aumentar suas chances de ganhar? Então leia os artigos e dê sua opinião. A cada dois (2)comentários feitos nos artigos do blog você DOBRA suas chances de ganhar e receber o livro inteiramente grátis em seu endereço.


Ganhadora do mês de abril/2.011: Keyla Carvalho.


Keyla, por favor, entre em contato conosco para receber seu brinde: O AMOR É UMA ARTE - A fraternidade como instrumento pedagógico.


Este livro relata as experiências de um grupo de adolescentes numa escola pública, onde, vivenciando os aspectos da "Arte de Amar", transformaram vários aspectos de suas vidas. Vale a pena conhecer!


O livro sorteado no final do mês de maio será: A clara LUZ de Chiara Luce; de Michele Zanzucchi. Editora Cidade Nova, 2004.


Aguardo vocês!




domingo, 24 de abril de 2011

TÁCITA PENA EM BRANCAS PÁGINAS






TÁCITA PENA EM BRANCAS PÁGINAS

Uma fétida espada transpassa meu ser, e o árido deserto se faz em minha alma.
Imerso nas coisas do mundo, já não vivo. Sou o retrato da multidão que não ama: um morto que caminha*.
A tácita pena jaz sobre a página em branco; enquanto no tinteiro a vida se cala, sem palavras.
O frágil corpo ainda resiste, mas a alma se queima: sou algoz de mim mesmo.
O último golpe! O corpo estremece, enquanto os joelhos se dobram. As forças se esvaem por entre as linhas da página em branco, que se impõe. E a pena, dá pena de se ver!
A luminária, no canto da escrivaninha pisca, como se em curto retratasse aquele momento: doa à vida seu último facho de luz.
Silêncio e penumbra.
Da alma proscrita, o último fôlego de vida se faz pensamento: “amarás teu Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a ti mesmo”.

No silêncio, o pulsar do coração cansado se faz reticências...(...)...(...)...e da alma, a aridez se esvai.
Na penumbra, a vida retoma sua luz. O pensamento embotado rompe o deserto e proclama: “És Tu Senhor meu único bem!”
A mão trêmula retoma a pena, e do tinteiro pulsa a vida em doces palavras; enquanto a página em branco doa seus signos às almas que jorram por entre suas linhas.


(*Expressão utilizada por Igino Giornadi . Diário de fogo. Editora Cidade Nova. São Paulo, 1986).

quarta-feira, 20 de abril de 2011

O DESAPARECIMENTO DA INFÂNCIA - Resenha





O professor titular do Departamento de Comunicação da Universidade de Nova York, Neil Postman, retrata neste livro, não só o tema determinado como o desaparecimento da infância, como também, de forma clara e concisa, documenta historicamente o surgimento e a consagração da infância como etapa importante do desenvolvimento humano.
Postman mostra claramente, que a infância como fase de desenvolvimento humano, da forma que a vivenciamos hoje, é uma descoberta recente, que surgiu na Renascença, após a revolução promovida pela palavra impressa que socializou a necessidade de alfabetização e hierarquizou o conhecimento por faixas etárias.
Essa demarcação do território do conhecimento dificultou o acesso a diversas etapas de informação à criança, de forma a ‘excluí-la e protegê-la’ de conhecimentos que só se destinava ao homem adulto, dando origem à infância.
A criança como é vista hoje não existia na idade média. Naquela época, eram vistas como homens em miniatura e eram expostos ao convívio de todo tipo de comportamento adulto, desde palavrões, assédios sexuais, enforcamentos e trabalhos forçados. Na outra extremidade, no entanto, haviam os homens-infantilizados, incapazes de se desenvolverem plenamente pela falta de acesso ao conhecimento escrito.
Mas não foi sempre assim. Na Grécia antiga e depois no Império romano, as crianças gozavam de tratamentos diferenciados e havia uma certa preocupação com sua formação moral, embora o conhecimento da linguagem escrita não fosse acessível a todos.
Com a invasão dos bárbaros do norte, o colapso do Império Romano, o sepultamento da cultura clássica e a imersão da Europa na chamada Idade das Trevas e depois na Idade Média, o conceito de criança deixou de existir por mais de trezentos anos.
No período a qual permaneceu extinta, a infância foi vítima de quatro aspectos importantes: o primeiro é o desaparecimento da capacidade de ler e escrever da população, devido ao uso restrito do alfabeto grego. O segundo ponto é o desaparecimento da educação, restrita aos escribas. O terceiro é o desaparecimento do sentido de vergonha, que com isso, passou a expor a criança a todo tipo de comportamento adulto, sem restrição. E o quarto, conseqüência dos três primeiros, é o próprio desaparecimento da infância, na idade média.
Com a invenção da tipografia de caracteres móveis, por Gutenberg, houve uma revolução e disseminação de toda forma de conhecimento escrito, através da publicação de livros e jornais, que determinou a necessidade de se criar escolas para dar aos jovens uma nova perspectiva do saber e do desenvolvimento humano.
O surgimento do conceito de criança, segundo Postman, trouxe consigo, inevitavelmente, o conceito de adulto e suas definições: adulto é aquele que possui o conhecimento. Criança é aquele que, protegido, ainda não alcançou o desenvolvimento necessário para apossar-se de todo conhecimento exposto ao adulto.
O conhecimento descrito nos livros era facilmente ordenado, de forma a ocultar dos mais jovens os segredos pertinentes ao mundo dos adultos, criando assim, etapas de desenvolvimento onde os jovens tinham acesso, na grande maioria das vezes, ao saber destinado à sua faixa etária. Surgiu assim o conceito atual de criança, jovem e adulto. Ser adulto significa então, ter acesso a segredos culturais codificados em símbolos não naturais.
No mundo letrado as crianças precisam transformar-se em adultos, apossando-se paulatinamente dos significados desses símbolos, de forma a terem ‘o tempo suficiente para deglutirem’ esse significado, criando assim, quando adultos, suas próprias convicções a respeito do conhecimento.
No mundo não letrado não há distinção de conhecimento, portanto, não há distinção entre criança e adulto, visto que, não há segredos a serem desvendados: a criança vivifica constantemente o mundo dos adultos, sendo ignorada por eles, como criança, deixando assim de existir.
O conhecimento exposto à criança através da forma escrita, paulatinamente ordenada, desenvolve sua capacidade de reflexão e de imaginação, criando um mundo particular, onde conhecer os segredos dos adultos aguça a curiosidade e cria o conceito de vergonha, sem o qual, não existe infância.
No período de 1850 a 1950 a infância se fortalece e se define, ocupando seu lugar na família e na sociedade.
No entanto, Postman defende neste livro a idéia de que, nesse mesmo período a ambiência simbólica que deu vida à infância começou a ser desmontada vagarosa e imperceptivelmente, determinando o início do seu fim.
Mais uma vez, a infância está desaparecendo. Postman aponta como ponto principal uma outra revolução: a da comunicação elétrica/eletrônica, iniciada com o telégrafo de Samuel Morse, onde a informação ganhou a velocidade da luz, culminando na televisão e em todos os meios eletrônicos de comunicação hoje existentes.

Até então, o conhecimento disseminado nos livros obrigava a criança a desenvolver sua capacidade de reflexão para compreendê-los, de forma a utilizar-se de todos seus aparatos de percepção e raciocínio lógico, numa forma sequencial e ordenada, distribuídos ao longo da vida por faixas etárias.
Isso não acontece quando uma criança assiste televisão. A TV utiliza-se do processo visual, o qual não necessita desenvolver nenhuma forma de conhecimento para usufruí-lo. Ela entrega tudo pronto, numa quantidade e velocidade em que é impossível para o ser humano criar e desenvolver qualquer conceito a respeito do que foi mostrado.
Outro ponto crucial é a não determinação de que tipo de conhecimento é apropriado para a criança ou para o adulto, eliminando assim, ‘os segredos’ dos adultos, sobre os quais as crianças só tinham acesso no decorrer do seu crescimento intelectual, não distinguindo o mundo dos adultos do mundo das crianças. Sem essa distinção, perde-se novamente o conceito de infância.
Postman exemplifica muito bem esse desvendar dos mistérios do adulto, pelos meios eletrônicos de comunicação quando afirma: que a mídia desempenhou importante papel na campanha para apagar as diferenças entre a sexualidade infantil e adulta. A televisão, em particular, não só mantém toda a população num estado de grande excitação sexual como também sublinha uma espécie de igualitarismo do desempenho sexual; de obscuro e profundo mistério adulto o sexo é transformado em produto disponível para todos – digamos, como um anti-séptico bucal ou desodorante para axilas.
A obrigatoriedade do consumo infantil, imposto pelos apelativos comerciais, os jogos de sedução, a exclusão do sentimento de ingenuidade e, por conseqüência, a adultificação da criança mostrada como pequenos adultos em diversas propagandas, a abolição tanto da moda infantil como também das canções e brincadeiras inerentes à idade, a ausência da mãe na educação dos filhos – imposta pelo mercado de trabalho feminino - a participação cada vez maior de menores em crimes, o constante crescimento do uso de drogas e de armas de fogo entre os mais jovens, a antecipação da puberdade feminina e a precoce iniciação sexual, a institucionalização e a profissionalização dos jogos infantis, a homogeneidade da linguagem, entre tantos outros motivos, comprovam que a infância está desaparecendo.
No entanto, não se faz necessário sermos doutores, psicólogos ou pedagogos para termos tal percepção. Basta-nos abrir as janelas e termos um olhar um pouco mais aguçado para nossas crianças para compreendermos o quanto as adultificamos com nossos atos cotidianos, ou até mesmo, e principalmente, com nossa indiferença.

“Ouça o silêncio daqueles que te cercam;
Há nele um grito que ecoa.
Ao ouvi-lo, entenderás como deves proceder em teu auxílio.
Caso não o ouça, faças tu o silêncio necessário.”
(Nivaldo Donizeti Mossato)


POSTMAN, Neil. O desaparecimento da infância. Rio de Janeiro: Graphia Editorial, 2006.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

MASSACRE - Mostra sua cara!





MASSACRE

A juventude se cala,
Enquanto a vida pede socorro!

Sob a mira da morte,
A roleta da sorte
Escolhe seu par.

E no click do controle
A Tv explora
A dor de quem chora
A morte dos seus...

Até quando, meu Deus!!!

E do outro lado da telinha,
O alienado se alinha
À espera do jornal;
E sem questionar, engole,
Pobre coitado,
A notícia de que o culpado
É o ‘fulano de tal’.

Pobre ‘massa’ alienada,
Sociedade massacrada
Pelo capitalismo brutal!!!

+ IN MEMÓRIAN DE UMA SOCIEDADE ALIENADA.