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Maringá, Paraná, Brazil
Às vezes se faz necessário caminharmos contra a corrente para descobrirmos a nós mesmos. O exercício se resume em olhar nos olhos daquele que vem ao nosso encontro!

terça-feira, 16 de agosto de 2011

UMA SANTA VIAGEM










Aquela pulseirinha era mesmo especial. Cada pedrinha colorida tinha um significado também especial: era o registro visível dos pequenos atos de amor que fazia cotidianamente. Era instantâneo: terminava de praticá-los e deslocava uma pedrinha da esquerda para a direita das amarras da pulseira como se dissesse a si mesmo 'pronto! Aqui eu amei'.



Não poucas vezes, as pedrinhas que se acumulavam de um lado da pulseira era um desafio para os seus seis anos de idade: 'tenho que amar'!






Lembro-me do seu sorriso angelical ao correr à minha frente para abrir a porta do elevador. Assim que entrava, olháva-me e sorrateiramente deslocava a pedrinha. Às vezes, na dúvida, perguntava-me: 'pai, abrir a porta do elevador para alguém é um ato de amor'? Sim! Eu lhe respondia. No entanto, o que ela não sabia é que o sorriso estampado em seu rosto era ainda um dom maior de amor. Vê-la sorrir era o grande presente que Deus nos permitia naquele momento de nossas vidas.






Aquela pulseira guardava em seu bojo um verdadeiro exemplo de vida. Passa-me à memória nesse instante os pequenos cartões de visita que desenhava e vendia a R$ 1,00 para as pessoas que vinham lhe visitar, para que, com o dinheiro arrecadado, pudesse ajudar os coleguinhas que também estavam internados na mesma enfermaria do 'Pequeno Príncipe', em Curitiba. Amar era seu lema!






No entanto, o que mais me impressionou foi a força de amor contida naquele pulseira. Depois de uma crise, nosso anjo foi internada na UTI. Seu quadro era bastante grave, mas a esperança era ainda maior.



A hora de visitas se aproximava e nós nos preparávamos para mais um dia de batalha. Minha sogra e minha cunhada sairam na frente para alcançarem o elevador. Eu fui logo atrás, esperando minha esposa que terminava de se arrumar.



Já no corredor escutei um grito. Voltei correndo e me deparei com minha esposa, estarrecida, com as mãos na face e olhos fixos no chão. Ela tremia. Assustado, perguntei-lhe o que acontecera. Ela olhava fixamente para o chão. Foi então que percebi a pulseira caida. Suas mãos trêmulas agora tentavam dar suporte à sua voz, que não se houvia. 'O que foi'? Perguntei-lhe novamente.



Ainda trêmula, balançava a cabeça num esforço sobrenatural de comunicação: 'a... pulseira... ela saltou sozinha da bolsa! Ela saltou... da bolsa...






O pavor estava estampado em seus olhos, mas a certeza foi ainda maior em seu coração: 'Ela esteve aqui! Veio se despedir... era ela, tenho certeza!






Era 22 de setembro de 2.002.



A primavera se abria lá fora.



Em meu peito, uma certeza: o céu estava em festa!

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