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Às vezes se faz necessário caminharmos contra a corrente para descobrirmos a nós mesmos. O exercício se resume em olhar nos olhos daquele que vem ao nosso encontro!

domingo, 24 de abril de 2011

TÁCITA PENA EM BRANCAS PÁGINAS






TÁCITA PENA EM BRANCAS PÁGINAS

Uma fétida espada transpassa meu ser, e o árido deserto se faz em minha alma.
Imerso nas coisas do mundo, já não vivo. Sou o retrato da multidão que não ama: um morto que caminha*.
A tácita pena jaz sobre a página em branco; enquanto no tinteiro a vida se cala, sem palavras.
O frágil corpo ainda resiste, mas a alma se queima: sou algoz de mim mesmo.
O último golpe! O corpo estremece, enquanto os joelhos se dobram. As forças se esvaem por entre as linhas da página em branco, que se impõe. E a pena, dá pena de se ver!
A luminária, no canto da escrivaninha pisca, como se em curto retratasse aquele momento: doa à vida seu último facho de luz.
Silêncio e penumbra.
Da alma proscrita, o último fôlego de vida se faz pensamento: “amarás teu Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a ti mesmo”.

No silêncio, o pulsar do coração cansado se faz reticências...(...)...(...)...e da alma, a aridez se esvai.
Na penumbra, a vida retoma sua luz. O pensamento embotado rompe o deserto e proclama: “És Tu Senhor meu único bem!”
A mão trêmula retoma a pena, e do tinteiro pulsa a vida em doces palavras; enquanto a página em branco doa seus signos às almas que jorram por entre suas linhas.


(*Expressão utilizada por Igino Giornadi . Diário de fogo. Editora Cidade Nova. São Paulo, 1986).

quarta-feira, 20 de abril de 2011

O DESAPARECIMENTO DA INFÂNCIA - Resenha





O professor titular do Departamento de Comunicação da Universidade de Nova York, Neil Postman, retrata neste livro, não só o tema determinado como o desaparecimento da infância, como também, de forma clara e concisa, documenta historicamente o surgimento e a consagração da infância como etapa importante do desenvolvimento humano.
Postman mostra claramente, que a infância como fase de desenvolvimento humano, da forma que a vivenciamos hoje, é uma descoberta recente, que surgiu na Renascença, após a revolução promovida pela palavra impressa que socializou a necessidade de alfabetização e hierarquizou o conhecimento por faixas etárias.
Essa demarcação do território do conhecimento dificultou o acesso a diversas etapas de informação à criança, de forma a ‘excluí-la e protegê-la’ de conhecimentos que só se destinava ao homem adulto, dando origem à infância.
A criança como é vista hoje não existia na idade média. Naquela época, eram vistas como homens em miniatura e eram expostos ao convívio de todo tipo de comportamento adulto, desde palavrões, assédios sexuais, enforcamentos e trabalhos forçados. Na outra extremidade, no entanto, haviam os homens-infantilizados, incapazes de se desenvolverem plenamente pela falta de acesso ao conhecimento escrito.
Mas não foi sempre assim. Na Grécia antiga e depois no Império romano, as crianças gozavam de tratamentos diferenciados e havia uma certa preocupação com sua formação moral, embora o conhecimento da linguagem escrita não fosse acessível a todos.
Com a invasão dos bárbaros do norte, o colapso do Império Romano, o sepultamento da cultura clássica e a imersão da Europa na chamada Idade das Trevas e depois na Idade Média, o conceito de criança deixou de existir por mais de trezentos anos.
No período a qual permaneceu extinta, a infância foi vítima de quatro aspectos importantes: o primeiro é o desaparecimento da capacidade de ler e escrever da população, devido ao uso restrito do alfabeto grego. O segundo ponto é o desaparecimento da educação, restrita aos escribas. O terceiro é o desaparecimento do sentido de vergonha, que com isso, passou a expor a criança a todo tipo de comportamento adulto, sem restrição. E o quarto, conseqüência dos três primeiros, é o próprio desaparecimento da infância, na idade média.
Com a invenção da tipografia de caracteres móveis, por Gutenberg, houve uma revolução e disseminação de toda forma de conhecimento escrito, através da publicação de livros e jornais, que determinou a necessidade de se criar escolas para dar aos jovens uma nova perspectiva do saber e do desenvolvimento humano.
O surgimento do conceito de criança, segundo Postman, trouxe consigo, inevitavelmente, o conceito de adulto e suas definições: adulto é aquele que possui o conhecimento. Criança é aquele que, protegido, ainda não alcançou o desenvolvimento necessário para apossar-se de todo conhecimento exposto ao adulto.
O conhecimento descrito nos livros era facilmente ordenado, de forma a ocultar dos mais jovens os segredos pertinentes ao mundo dos adultos, criando assim, etapas de desenvolvimento onde os jovens tinham acesso, na grande maioria das vezes, ao saber destinado à sua faixa etária. Surgiu assim o conceito atual de criança, jovem e adulto. Ser adulto significa então, ter acesso a segredos culturais codificados em símbolos não naturais.
No mundo letrado as crianças precisam transformar-se em adultos, apossando-se paulatinamente dos significados desses símbolos, de forma a terem ‘o tempo suficiente para deglutirem’ esse significado, criando assim, quando adultos, suas próprias convicções a respeito do conhecimento.
No mundo não letrado não há distinção de conhecimento, portanto, não há distinção entre criança e adulto, visto que, não há segredos a serem desvendados: a criança vivifica constantemente o mundo dos adultos, sendo ignorada por eles, como criança, deixando assim de existir.
O conhecimento exposto à criança através da forma escrita, paulatinamente ordenada, desenvolve sua capacidade de reflexão e de imaginação, criando um mundo particular, onde conhecer os segredos dos adultos aguça a curiosidade e cria o conceito de vergonha, sem o qual, não existe infância.
No período de 1850 a 1950 a infância se fortalece e se define, ocupando seu lugar na família e na sociedade.
No entanto, Postman defende neste livro a idéia de que, nesse mesmo período a ambiência simbólica que deu vida à infância começou a ser desmontada vagarosa e imperceptivelmente, determinando o início do seu fim.
Mais uma vez, a infância está desaparecendo. Postman aponta como ponto principal uma outra revolução: a da comunicação elétrica/eletrônica, iniciada com o telégrafo de Samuel Morse, onde a informação ganhou a velocidade da luz, culminando na televisão e em todos os meios eletrônicos de comunicação hoje existentes.

Até então, o conhecimento disseminado nos livros obrigava a criança a desenvolver sua capacidade de reflexão para compreendê-los, de forma a utilizar-se de todos seus aparatos de percepção e raciocínio lógico, numa forma sequencial e ordenada, distribuídos ao longo da vida por faixas etárias.
Isso não acontece quando uma criança assiste televisão. A TV utiliza-se do processo visual, o qual não necessita desenvolver nenhuma forma de conhecimento para usufruí-lo. Ela entrega tudo pronto, numa quantidade e velocidade em que é impossível para o ser humano criar e desenvolver qualquer conceito a respeito do que foi mostrado.
Outro ponto crucial é a não determinação de que tipo de conhecimento é apropriado para a criança ou para o adulto, eliminando assim, ‘os segredos’ dos adultos, sobre os quais as crianças só tinham acesso no decorrer do seu crescimento intelectual, não distinguindo o mundo dos adultos do mundo das crianças. Sem essa distinção, perde-se novamente o conceito de infância.
Postman exemplifica muito bem esse desvendar dos mistérios do adulto, pelos meios eletrônicos de comunicação quando afirma: que a mídia desempenhou importante papel na campanha para apagar as diferenças entre a sexualidade infantil e adulta. A televisão, em particular, não só mantém toda a população num estado de grande excitação sexual como também sublinha uma espécie de igualitarismo do desempenho sexual; de obscuro e profundo mistério adulto o sexo é transformado em produto disponível para todos – digamos, como um anti-séptico bucal ou desodorante para axilas.
A obrigatoriedade do consumo infantil, imposto pelos apelativos comerciais, os jogos de sedução, a exclusão do sentimento de ingenuidade e, por conseqüência, a adultificação da criança mostrada como pequenos adultos em diversas propagandas, a abolição tanto da moda infantil como também das canções e brincadeiras inerentes à idade, a ausência da mãe na educação dos filhos – imposta pelo mercado de trabalho feminino - a participação cada vez maior de menores em crimes, o constante crescimento do uso de drogas e de armas de fogo entre os mais jovens, a antecipação da puberdade feminina e a precoce iniciação sexual, a institucionalização e a profissionalização dos jogos infantis, a homogeneidade da linguagem, entre tantos outros motivos, comprovam que a infância está desaparecendo.
No entanto, não se faz necessário sermos doutores, psicólogos ou pedagogos para termos tal percepção. Basta-nos abrir as janelas e termos um olhar um pouco mais aguçado para nossas crianças para compreendermos o quanto as adultificamos com nossos atos cotidianos, ou até mesmo, e principalmente, com nossa indiferença.

“Ouça o silêncio daqueles que te cercam;
Há nele um grito que ecoa.
Ao ouvi-lo, entenderás como deves proceder em teu auxílio.
Caso não o ouça, faças tu o silêncio necessário.”
(Nivaldo Donizeti Mossato)


POSTMAN, Neil. O desaparecimento da infância. Rio de Janeiro: Graphia Editorial, 2006.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

MASSACRE - Mostra sua cara!





MASSACRE

A juventude se cala,
Enquanto a vida pede socorro!

Sob a mira da morte,
A roleta da sorte
Escolhe seu par.

E no click do controle
A Tv explora
A dor de quem chora
A morte dos seus...

Até quando, meu Deus!!!

E do outro lado da telinha,
O alienado se alinha
À espera do jornal;
E sem questionar, engole,
Pobre coitado,
A notícia de que o culpado
É o ‘fulano de tal’.

Pobre ‘massa’ alienada,
Sociedade massacrada
Pelo capitalismo brutal!!!

+ IN MEMÓRIAN DE UMA SOCIEDADE ALIENADA.