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Às vezes se faz necessário caminharmos contra a corrente para descobrirmos a nós mesmos. O exercício se resume em olhar nos olhos daquele que vem ao nosso encontro!

domingo, 18 de agosto de 2013

WORKSHOP - ESCOLA E RELAÇÕES HUMANAS: UMA INTERFACE PSICOLÓGICA COM O SABER E A AÇÃO

Mais de oitenta professores da rede estadual de ensino das cidades de Flórida e Lobato-PR participaram do Workshop ‘Escola e Relações Humanas: Uma Interface Psicológica com o Saber e a Ação’.
              Integrando a Semana Pedagógica, o evento ministrado pelo Psicólogo Nivaldo Mossato foi realizado durante todo o dia 26 de julho de 2013 nas dependências do Colégio Estadual Professora Denise Cardoso de Albuquerque, em Flórida-PR, que, atendendo ao convite da professora Rosalina Moreira, teve como objetivo motivar e instrumentalizar os professores, através de vivências relacionais, a buscarem um novo e possível caminho nas relações intra e interpessoais. 
         Para Martin Buber, filósofo judeu (1878 – 1965), o “processo educativo deve privilegiar a conversa e a cooperação entre as pessoas. Saber se relacionar é mais importante do que ser individualmente bem-sucedido. A relação Eu-Tu é um ato essencial do homem, atitude de encontro entre dois parceiros na confirmação mútua (...). Essa união tem como pressuposto o nós e só existe se houver diálogo”.


Esses foram os princípios norteadores do workshop que trouxe, através de dinâmicas de interação e introspecção, a possibilidade de que os professores pudessem vivenciar dois grandes encontros: consigo e com o Outro; como relata a professora Maria Andreia Vicentim Cesnik do Colégio Estadual Professora Denise Cardoso de Albuquerque, de Flórida-PR: “O encontro foi muito significativo, através dele pude enxergar o outro com um novo olhar. Estou colocando em prática tudo o que aprendi. Aprendi a me relacionar melhor com todos inclusive com minha família. Levou-nos a refletir sobre a vida, sobre o novo e sobre as mudanças do mundo e, desta forma, somente ampliando nossa visão é que poderemos nos relacionar melhor com os outros”.

O evento foi desenvolvido de forma a promover a construção de um pensamento que, aos poucos, foi sendo experienciado e compartilhado. Assim, cada participante pode, além da própria vivência, penetrar na experiência do Outro, ampliando sua compreensão sobre o ‘todo’ do universo ali criado, suplantando sua percepção e, dialeticamente, contribuindo para o desenvolvimento dos demais participantes.
A professora Erlines Aparecida Geraldo de Lima avaliou o encontro como uma “reflexão para que pudéssemos mudar a nossa prática pedagógica. O palestrante conseguiu prender a atenção do público e mostrou que nós temos que nos colocar no lugar do outro para entendê-lo. Precisamos nos conhecer melhor para termos um bom relacionamento com as outras pessoas”.
O psicanalista, educador, teólogo e escritor brasileiro Rubem Alves descreve o processo de aprendizagem como sendo a “educação dos sentidos”, processo pelo qual “captamos” o mundo exterior e o transformamos no nosso mundo interior. Quando esse processo não se desenvolve adequadamente, criamos no educando barreiras ao aprendizado, bloqueando suas potencialidades e suas possibilidades de aprender. Para o autor, desenvolver os sentidos é o primeiro passo para o bom aprender. Ensinar a ‘ver’ é a tarefa primeira do educador. A criança que não vê, não ouve, não sente, não capta o mundo exterior e não o decodifica.
O workshop levou os professores a compreenderem que a criança não é um ‘ser’ na sala de aula, ela é um ‘ser-no-mundo’. O mundo do educando não se resume às paredes da escola, e, é preciso compreendê-lo nesse ‘todo’ que o envolve e que o  transcende. É tarefa do professor ir além do que vê e percebe em sala de aula. É preciso criar na relação com o aluno um vínculo que o permita ‘alcançar’ as necessidades do educando, sem que se perca a postura de educador; e isso só é possível quando estamos adequadamente preparados para delimitar os espaços Eu-Outro, Eu-Mundo, numa atitude acolhedora do Outro como um todo, não como um fragmento idealizado de realidade.
A Pedagoga Silvia Gomes Davidoski da Escola Estadual Osvaldo Aranha de Lobato-PR assim descreveu o evento: “O Workshop superou todas as minhas expectativas. Aprendi muito sobre relacionamentos e vou levar para a minha vida profissional e particular. Foi um dia agradável de muita interação, reflexão e aprendizagem. (...) os ensinamentos e exemplos de vida despertaram em nós um novo olhar e a determinação em transformar o dia-a-dia em algo melhor”.

A escritora Clarice Lispector, em sua obra “A paixão segundo G.H.”, transcende a percepção do óbvio do cotidiano que nos envolve e nos leva a refletir sobre o ‘não dito’, aquilo que se esconde entre uma palavra e outra, entre um número e outro, entre um fato e outro fato, buscando compreender o ‘entre’, a alma que envolve o encontro de duas ou mais pessoas, o divino mistério que envolve um verdadeiro encontro. 
Assim descreve: “(...) entrei no inexpressivo que sempre foi minha busca cega e secreta (...). Entrei naquilo que existe entre o número um e o número dois (...). Entre duas notas de música existe uma nota, entre dois fatos existe um fato, entre dois grãos de areia por mais juntos que estejam existe um intervalo de espaço, existe um sentir que é entre o sentir – nos interstícios da matéria primordial está a linha de mistério e fogo que é a respiração do mundo (...).”
Esta é a missão de cada educador: penetrar no ‘entre’, naquele espaço misterioso que transcende a relação professor/aluno e descobrir o ‘novo’, que não é um, nem outro, que não é o professor nem o aluno, mas que os contém em perfeita relação. Um encontro capaz de fazer fluir o amor pelo ‘querer saber’, pela necessidade de aprender que não brota do ‘querer ensinar’, mas do encontro entre pessoas que se confirmam e se respeitam.
Essa missão parece brotar na avaliação da Professora Ailder Sofia Toaldo Cunha de Lobato-PR: “As dinâmicas contribuíram para auxiliar nas decisões enquanto professora, onde tenho que rever minhas atitudes frente ao aluno com dificuldades. Também saber até onde devo ir para não invadir o espaço dos que me rodeiam dentro da escola e no meio em que estou inserida”.
Para Matilde Cesnik do Colégio Estadual Professora Denise Cardoso de Albuquerque o encontro foi marcado por uma profunda “reflexão sobre o nosso trabalho como profissionais da educação. Despertou-nos para procurarmos inovações buscando assim novas metodologias de ensino, contribuindo para o êxito do processo de ensino e aprendizagem”.
O psicólogo humanista Carl Rogers ao descrever o vínculo necessário para que haja a  aceitação do Outro, com toda sua desigualdade e unicidade, revela que: “entrar realmente no mundo do outro, com aceitação, cria um tipo de vínculo muito especial que não se compara a nenhuma outra coisa que eu conheça”. O caminho encontrado para que se construa um vínculo com tamanha magnitude, passa, com toda certeza, pela compreensão de um dos principais dilemas da existência humana: somos únicos, porém, semelhantes.
Compreender e aceitar o Outro em sua unicidade é, portanto, o caminho primeiro para estabelecer um forte vínculo que nos possibilite penetrar sua experiência e alcançá-lo em sua verdadeira necessidade de aprender e se relacionar. O espaço do aprendizado é aquele que, ainda vazio, pode ser preenchido pelo ‘novo’, pelo diferente, de forma criativa e motivante.

Entretanto, o vazio do aprendizado não se refere ao vazio do ‘nada’. Refere-se a um ‘vazio criativo’ onde o novo não só preenche uma lacuna, como também transforma o ‘já dito’ em uma nova experiência repleta de possibilidades e potencialidades. É a redescoberta do sabor do saber. É como se fôssemos um copo com um terço de seu volume abastecido com água. Os outros dois terços do copo representam nosso ‘vazio criativo’. Ao receber um conteúdo novo, como por exemplo, algumas gotas de tintura, não só recebemos o ‘conteúdo tinta’, mas também ressignificamos o conteúdo já existente: agora água colorida. Este novo conteúdo, além de ressignificar o ‘já dito’, abre-nos novas possibilidades de ser e existir no mundo.
Para a professora Andressa Bilha Guari além de motivador o encontro “ fez com que eu tivesse um olhar diferente para os meus alunos. Assim posso conhecê-los melhor e ajudá-los em suas dificuldades. O encontro me ajudou a ter um bom relacionamento com o próximo”.
Um conteúdo novo, quando compartilhado com sabedoria, transforma não só a forma de entender do Outro, como também transcende o seu ‘ser pessoa’ e alcança novas dimensões onde ela está inserida: sua família e seu meio social. É a percepção deste ‘novo todo’ que nos impulsiona a promover mudanças, como relata a professora Ana Gabriela Diniz: “O encontro foi maravilhoso. Através dele, adquiri conhecimentos muito relevantes para a minha prática na sala de aula e a partir desse dia, comecei a trabalhar mais dinâmicas para conhecer melhor os meus alunos. Aprendi também a separar a vida pessoal da profissional”.
Rosana de Paiva Leoni relata que “o encontro foi marcante. Aprendi muito com o meu “eu” e me senti muito amada. Descobri o quanto sou especial para minha família, meus amigos e alunos”.
Para construir um conhecimento e transmiti-lo de forma a ser receptivo pelo educando o educador precisa transcender o conteúdo, fazê-lo novo. A única forma de consegui-lo é fazendo-se presente na relação, é tornando-se ‘parte integrante’ do conteúdo trazendo este para o mundo real, palpável, usual, no aqui-agora do aluno. E o aqui-agora do aluno é o seu momento presente, a sua realidade nua e crua, com todos seus sonhos e pesadelos, com todo seu potencial, e também, com toda sua falta.
Para que isso ocorra faz-se necessário ultrapassar os muros da escola e alcançar as famílias dos alunos, formando parcerias possíveis que possam dar sustentação às reais necessidades emergentes de cada lado da operação escola/família, onde, cada parte, possa comprometer-se com um objetivo comum: dar ao aluno a educação (família) e o conhecimento (escola) necessário para seu desenvolvimento.

Fomentando esses propósitos, pautados na compreensão que somos seres afetivo-relacionais, interdependentes, somos impulsionados a nos desprendermos de uma visão tão somente consumista e materialista para nos embrenharmos num saber holístico, coletivo e dialético, onde o todo é maior que a soma das suas partes, e que, tudo está interligado a tudo e nada acontece por acaso. 
É como comentou a Professora Leny Prado F. Gondolfo “(...) fomos impulsionados a uma proposta de transformação, a um viver em comunhão com Deus e com o próximo, buscando uma vida mais plena e feliz”.
Este é, portanto, o real objetivo deste workshop: levar as pessoas à compreensão de que a vida nada mais é que dois grandes encontros, onde um não ocorre sem que o outro ocorra, dialeticamente – Eu-comigo e Eu-contigo!


Nivaldo Mossato - CRP 08/17541é escritor e psicólogo
clínico, escolar e organizacional. Atende no
CEADI    -   Centro de Estudos e Apoio ao
Desenvolvimento Integrado, situado na Rua
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