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Às vezes se faz necessário caminharmos contra a corrente para descobrirmos a nós mesmos. O exercício se resume em olhar nos olhos daquele que vem ao nosso encontro!

sexta-feira, 11 de junho de 2010

ECONOMIA DE COMUNHÃO E O PERFIL DO EMPRESÁRIO

Artigo semanal de Dom Anuar Battisti* publicado em O Diário




A Economia de Comunhão, idealizada por Chiara Lubich, do Movimento dos Focolares, tem como propósito a distribuição do lucro, de modo a construir e apresentar uma sociedade que possa ser semelhante à primeira comunidade de Jerusalém, onde “entre eles não havia necessitados”.

Para tanto, envolve empresários, trabalhadores, gestores, consumidores, cidadãos, estudiosos.

A espinha dorsal do projeto são as empresas que, livremente, decidem colocar em comunhão seus lucros, segundo três finalidades de igual importância, quais sejam:

1 – Ajudar as pessoas que estão em dificuldade, criando novos postos de trabalho, e satisfazer as suas necessidades básicas por meio de ações de desenvolvimento, começando com aqueles que partilham o espírito do projeto.

2 – Difundir a “cultura do dar” e da reciprocidade, sem a qual é impossível realizar uma Economia de Comunhão. 3 – Desenvolver a empresa, que deve permanecer eficiente e competitiva enquanto se abre à gratuidade.

Do ponto de vista da sociedade, ao longo do tempo, a palavra “empresário” concentra vários sentimentos. Ele é observado de modos opostos: há quem o considere um benfeitor social, que cria empregos, riquezas e bens. Em palavras simples, se diria “de direita”, ou seja, vê qualquer forma de empreendedorismo como positiva, capaz de levar ao desenvolvimento e à riqueza.

Por outro lado, há outra linha de pensamento que vê o empresário como o opressor que expropria a força de trabalho dos seus colaboradores e enriquece por meios ilícitos.

É no primeiro contexto que o empresário ganha importância fundamental ao se tornar um agente econômico que, percebendo oportunidades de lucro, toma a iniciativa de reunir fatores de produção numa empresa com o objetivo de sua continuidade e crescimento de suas atividades.

De um modo geral, podem-se reconhecer dois aspectos característicos do empresário: primeiro, o de empreendedor, por conviver bem com o risco e com a incerteza, ou seja, é uma pessoa que tem uma estrutura psicológica que o torna capaz de conviver com esses fatores e, segundo, o de especulador ou oportunista, ao visar lucros.

Para diferenciar esses aspectos, surge o empresário de EdC, do qual se podem citar quatro características básicas: é sempre membro de uma comunidade, ou dentro da empresa ou com outros empreendedores; tem como principal objetivo a fraternidade, mas não é ele somente que vive essa fraternidade, e sim alguém que a ativa ao seu redor, pois a EdC não é um projeto apenas de empresários ou somente uma ética que se propõe a tornar melhores os empresários; só se dá por satisfeito quando vê a sua comunidade empresarial se tornar um local de comunhão, e, por último, tem por fim a fraternidade, ou seja é um irmão de todos.

Portanto, se alguém leva a sério isso, desencadeia uma revolução. Por quê? Porque o modo normal de compreender o papel do empreendedor – seja ele de direita, de esquerda, de centro, liberal, democrático etc – é considerá-lo como o gestor da empresa.

Cabe acrescentar que o propósito principal do empresário de EdC não é “fazer assistência aos pobres”, mas proporcionar meios que diminuam a desigualdade social.

Deve-se orientar no sentido de criar uma comunidade onde se diminua a existência de pobres no sentido econômico, porque todos são pobres no sentido cristão e estão trilhando um caminho de fraternidade.

Para que seja possível exercer tudo isso, quatro pontos fundamentais podem ser destacados no desempenho da função de empresário da EdC: primeiro, é essencial tratar todos com estima, com escuta profunda.

Se as pessoas – trabalhadores, dependentes, executivos – não se sentirem estimados, mas simplesmente um número na empresa, eles não respondem aos estímulos; segundo, a dignidade. Quem recolhe o lixo deve sentir-se tão importante como o banqueiro.

Todos são tratados como verdadeiros irmãos. terceiro, a participação, ou seja, não se pode dizer pela manhã “vamos viver a comunhão” e durante o dia não fazer existir nenhuma forma de participação. Não é possível que a comunhão não se traduza em práticas participativas de todos os atores em algum nível.

Por último, a decisão da destinação da riqueza produzida pela empresa deve ser tomada em conjunto entre empresário e colaboradores. Dessa forma, espera-se que as relações humanas nas empresas de EdC possam proporcionar elevação de competitividade e, principalmente, harmonia entre proprietários e colaboradores, no sentido de que todos pratiquem a fraternidade como princípio de reciprocidade

*Don Anuar Battisti é arcebispo da Arquidiocese de Maringá-Pr.

Para saber mais sobre EdC - Economia de comunhão acesse:

www.edc-online.org

quinta-feira, 10 de junho de 2010

O CÂNTARO E A LUZ


A noite cai dentro de mim:
Meu cântaro transborda!
O fel que habita meu eu
Jorra sobre meus ideais.
O que seria de mim
Sem a misericórdia de Deus?!
Quem, além Dele, acolheria
Um vinho velho
Num odre novo?!
O sol desponta:
A aurora refaz o júbilo.
Meu eu descança,
Exaurido do mundo.
Tudo é novo
Aos olhos do Senhor!

segunda-feira, 7 de junho de 2010

O QUE É EXISTENCIALISMO - João da Penha



O QUE É EXISTENCIALISMO - João da Penha


RESENHA CRÍTICA -Nivaldo Mossato


PENHA, João da. O que é existencialismo. São Paulo: Brasiliense, 2004.


João da Penha, tradutor de poetas russos, como Lessiênin e Armátova, colaborou com várias publicações culturais em revistas especializadas, tais como a “Sociologia e Democracia” e “Encontros com a Civilização Brasileira”, abordando temas filosóficos e ensaios sobre filosofia. Escreveu vários livros, alguns ainda inéditos, sobre Sartre, Hegel, Gramsci e outros filósofos, além do “Ensaio sobre filósofos Pré-Socráticos”.
Neste texto, o autor aborda de forma expositiva, não só a história do existencialismo como “um fenômeno do pós-guerra”, como também a origem do termo “existencialismo”, suas correntes de pensamento, em primeiro e segundo plano, e, o defronta finalmente com uma linha “marxista” sob a visão de Sartre, filósofo francês, tido como o maior influenciador do existencialismo.
A transformação pela qual passou a humanidade após a segunda guerra, deixou vastas cicatrizes não só na Europa, eixo central do conflito, como em todo o mundo, originando um descontentamento geral, deixando descréditos em relação à capacidade humana de resolver os problemas sociais da época.
Mergulhada neste contexto, as idéias existencialistas ganharam força e se propagaram rapidamente, não só como uma corrente de pensamento, mas também como um estilo de vida.
Muito criticado pela igreja, que o julgava como uma doutrina que ameaçava os fundamentos da fé cristã, o existencialismo apoiava-se na reflexão de que a existência humana precisava ser considerada em seu aspecto particular, individual e concreto, ou seja, o homem precisava ser visto como um indivíduo único, separado em si mesmo, embora mergulhado na sociedade. Esta individualização do ser humano mostra-se presente na contribuição dos pensadores que filosoficamente antecederam ao existencialismo; Uma contribuição impregnada de eventos intrínsecos, particulares. Uma contribuição que se divide entre duas linhas de pensamento existencialista: o cristão, que aborda as idéias de Kierkegaard, Marcel e Kall Jaspers, e o ateu, que preconiza as idéias de Heidegger, Satre e outros filósofos franceses, além da incorporação da “fenomenologia” de Edmund Husserl.
Utilizando-se de uma metodologia comparativa, o autor permeia os caminhos do existencialismo, traçando paralelos entre as linhas de pensamento filosóficas que agregavam conhecimento ao movimento que “dominava” as páginas dos jornais do mundo todo e se consagrava nas palavras Sartre, em uma linha atéia de pensamento, e, de Kierkegaard, pensamento religioso, (de onde os existencialistas extraíram os temas básicos de sua reflexão) que afirmava que a existência individual não precisava ser explicada, mas vivida. Que o espírito humano é seu próprio “eu” que não estabelece relação com nada que lhe é alheio, e que, a existência concreta do indivíduo não pode ser ignorada. Segundo o autor, para Kierkegaard, a existência humana se estabelece em três estágios: o estético, o ético e o religioso.
No estágio estético o homem busca um sentido para sua existência, atuando sob um total domínio dos sentidos e sentimentos, ao bel prazer, fazendo suas “escolhas” embasado em suas próprias regras, e, que, no íntimo, descobre que em vez de se libertar, aprisiona-se numa existência vazia, desesperando-se.
No entanto, esse desespero, que para Kierkegaard é o que distingue o ser humano do animal, o impulsiona para a fase ética, acreditando que isso o libertará do marasmo existencial, pois a vida não é um jogo e cada um deve responsabilizar-se por seus atos. No entanto, a ética realiza o homem somente quanto “sociedade” e não como “pessoa humana”, pois limita-se as regras estabelecidas pela sociedade.
Somente no estágio seguinte é que o homem se realiza plenamente: no religioso. Somente nesta fase é que o homem alcança uma relação íntima com o ‘Absoluto”. Deus torna-se a “regra” do indivíduo, única fonte de realização plena, pois a razão humana é impotente para guiar suas próprias ações.
Embora Kierkegaard tenha contribuído com os temas básicos da reflexão existencialista, foi Edmund Husserl, filósofo alemão, que forneceu seu método de análise: a fenomenologia. Para Husserl, a filosofia deveria ser fundamentada cientificamente, conferindo-lhe um estatuto de saber, onde nada ficaria fora do seu campo de investigação. No entanto, essa nova ciência deveria ser embasada dentro de um processo de humanização, onde se cria uma nova relação entre o sujeito e o objeto, o homem e o mundo, o pensamento e o ser: a intencionalidade. Por ela, a intencionalidade, dentro do processo fenomenológico, a consciência e o fenômeno não existem separados um do outro, e a realidade deve ser descrita tal qual se apresenta à nossa observação, através do pensamento (noese) e do objeto desse pensamento (noema).
Como instrumento de análise, o método fenomenológico foi usado pela primeira vez pelo filósofo alemão Martin Heidegger, ex-aluno de Husserl, muito embora repudiasse veemente a idéia de ser classificado como existencialista, afirmando que sua doutrina de pensamento diferenciava-se do existencialismo em sua essência, pois o existencialismo trata da existência humana, centrado numa análise do homem em particular, individual e concretamente; enquanto que sua doutrina, a “Analítica Existencial” não denota nenhum interesse nesse aspecto, nem ao menos aos problemas que dela se originam. Busca sim, a autenticidade do homem na sua radical dualidade entre o “humano e o não-humano”.
Para Heidegger, a única certeza é a de que o homem existe, e, que é o único ser capaz de se angustiar. A angústia é resultante das suas limitações temporais e da falta de controle sobre o futuro. É na angústia que ele revela a autenticidade do seu ser: “- A angústia revela o ser autêntico, e a liberdade leva o homem a escolher a si mesmo e governar a si mesmo. E é na morte – última situação limite do homem - que ele se totaliza, não podendo jamais experimentar a morte alheia”.
Para Jean-Paul Sartre, o mais combatido dos existencialistas, ao contrário dos animais, no homem, a existência precede a essência, pelo simples fato de que ele é livre. A cada momento ele tem que escolher o que será no instante seguinte. Não há como fugir dessa escolha, pois a recusa em escolher, já é uma escolha. O homem deve ser inventado todos os dias.
Se a essência do homem precedesse sua existência, ele não seria livre, seria um ser predeterminado. A liberdade não é uma qualidade que se acrescenta ao homem, ela é o que o constrói como homem. Essa liberdade, no entanto, difere-se do contexto que a identifica como “livre arbítrio” e assume a dimensão da capacidade que o indivíduo tem de decidir sua vida e se responsabilizar por ela.
No entanto, ao escolher para si, o homem ultrapassa o limite de uma escolha individual e acaba escolhendo para os outros. A liberdade deixa de ser absoluta, ao passo que o homem vive em comunidade e a sociedade a qual pertence lhe impõe regras que em determinado momento geram situações de conflito: a guerra, o sofrimento, a morte. Diante desse fato o homem se angustia, reconhecendo-se livre e percebendo que já não é só o que escolheu ser, mas o que escolheu para si, escolheu também para a humanidade. A angústia da liberdade é a angústia das escolhas. A consciência se angustia mediante o medo de algo externo que ameaça sua existência.
O existencialismo ateu, segundo Sartre, não quer provar a inexistência de Deus. Concebe sim, a convenção de que é necessário que o homem creia que nada pode salvá-lo de si próprio, nem mesmo uma prova incontestável da existência de Deus. O existencialismo é uma doutrina de ação, onde a angústia, o desespero é um ativo que impulsiona o homem a agir, não pretende desvendar ao homem a infelicidade oculta em sua condição, mas ajudá-lo a enfrentá-la, já que é impossível ignorá-la. De tanto se debater contra ela, o homem acaba se esgotando.
Segundo a posição existencialista de Sartre, o mundo adquire significado através da consciência, pois sua característica principal é a intencionalidade e a sua tendência é estar voltada ao mundo exterior. A reconstituição mental das coisas, quando elas não se fazem presentes, é propriedade da imaginação que auxilia o trabalho da consciência.
Outra posição existencialista Sartreana, é em relação ao inconsciente. Para Sartre ele não existe. Se existisse, ele impossibilitaria ao homem ser responsável pelos seus atos. Todos os atos humanos e a origem dos complexos são conscientes: “o indivíduo acredita na mentira que prega, mas nem por isso desconhece a verdade que busca ocultar”. Para ele, a consciência divide-se em “ser e não ser”. Tudo que se passa na consciência tem explicação nela mesma. Tudo se revela. O indivíduo se revela através de seus atos.
Os pensamentos de Sartre, irradiados por todo mundo, demonstram claramente ter ocorrido através dos seus dotes filosóficos e de escritor. A grande influência exercida sobre a classe intelectual caracteriza-se pela diversidade, qualidade e quantidade de seus escritos, não só no campo da filosofia, como também no teatro, no jornalismo e na crítica literária. Suas obras transcenderam os objetivos filosóficos e impregnaram o cotidiano das pessoas levando o mundo a uma imensa reflexão.
Combatido direta e abertamente por vários segmentos da igreja e da sociedade, Sartre, contribuiu ainda com a poderosa reflexão entre o existencialismo e o marxismo, defendendo a fusão de idéias em vários de seus aspectos, entre eles, a de que o existencialismo e o marxismo tendem a exaltar a singularidade do indivíduo em seu contexto histórico, embora o marxismo tenha absorvido o homem na idéia e o existencialismo procura-o em todo seu convívio: em casa, na rua, no trabalho.
O autor mostra ainda, que outras correntes de pensamento fizeram-se representar fortemente no existencialismo, de tal forma, a que alguns, até erradamente, como o caso do fenomenólogo francês Maurice Merleau-Ponty e do escritor Albert Camus. No entanto, os que mais se destacaram foram Karl Jaspers e Gabriel Marcel, pela escolha individual e concreta da existência humana como base de suas reflexões.
Completando o incurso que o autor promove em seu texto sobre o existencialismo e suas correntes de pensamento, observamos a performance literária descrita de forma a se posicionar a um público mais específico, restrito à formação superior, embora iniciante, embasada em uma linguagem não popular, que requer uma visão reflexiva para seu entendimento.
Embora não traga em si, uma linguagem de senso comum, o autor não permite que a temática se perca ao longo do texto, e, procura justificá-la com embasamento científico, deixando transparecer a idéia central do pensamento a quem se refere, citando de forma original parte de seus escritos, contidos em suas principais obras.
Desta forma, há uma seletiva em seu enfoque, sendo a leitura destinada a “iniciantes da filosofia” que através do estudo de um contexto histórico, num processo de formação complementar, onde o leitor, de forma a agregar em si o conhecimento, possa ampliar sua visão de mundo, percebendo-o sob a luz da filosofia.
Um olhar que nos faz compreender que o “verdadeiro conhecimento” requer mais que uma simples leitura; requer um estudo reflexivo da sua essência.