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Maringá, Paraná, Brazil
Às vezes se faz necessário caminharmos contra a corrente para descobrirmos a nós mesmos. O exercício se resume em olhar nos olhos daquele que vem ao nosso encontro!

segunda-feira, 29 de março de 2021

ENTRE AS CRUZES DO CAMINHO

 




Encontrei-O entre as cruzes que durante toda minha vida, relutei em aceitar. Cristo enviava-me as cruzes e eu, teimosamente ia depositando-as à beira dos caminhos. Uma a uma. Uma após outra. E Ele, no seu Amor, pacientemente insistia:

 - Toma sua Cruz e siga-me! 

Olhava eu, para dentro de mim e tentava não entendê-Lo, para não assumir que o peso de minhas cruzes não estava no outro, estava em mim. Aceitar isso era demais! Ele queria muito. Ele queria tudo! Quanto mais eu tentava fugir, mais Ele se aproximava:

 - Toma sua cruz! 

Olhava eu, novamente para dentro de mim e, fugindo do impossível, renegava-O naqueles que Ele mesmo me escolhera como companheiros de viagem. Renegava-O na minha esposa, renegava-O em meus filhos, renegava-O em mim mesmo.

Santamente Ele tomava meus pecados e devolvia-os a mim, em forma de cruz, para que eu, retomando-os, cada vez mais, com maior intensidade, pudesse gerar em mim mesmo a consciência do seu inexorável Amor:

- Amor jorrado na Cruz! 

Saí de casa ainda garoto, imaturo, apaixonado pela vil liberdade e pelas coisas do mundo. Impulsionado pelo motivo de que meu pai bebia muito e brigava com minha mãe, traí quem mais me amava. Cristo deu-me então de presente uma esposa alcoólatra, a qual não soube entender, amar e respeitar. E nessa dor, vieram os filhos, e veio a morte. E o Cordeiro suplicava:

- Toma sua cruz...! 

Preso em meu egoísmo e tomado pelas coisas do mundo, não queria ouvir as verdades a meu respeito. Paciente, Ele tomou-me outra vez pelas mãos e deu-me como segunda esposa aquela que seria capaz de colocar-me frente-a-frente com o espelho, levando-me a enfrentar meus piores pesadelos. No entanto, eu ainda não estava pronto. Sabiamente devolveu-me meu pai, já velho e doente, e, novamente impetrava:

- Toma sua cruz...! 

Por fim, quando pensava eu ser feliz por ter encontrado na minha filha mais nova o retrato perfeito da família com a qual sempre sonhara e reaprendido com ela e seus irmãos a função de um pai na vida dos seus filhos, Ele tomou-a de meus braços e arrebatou-a aos céus. Veio então a loucura do não-ser, o abismo de alma, a noite mais escura, o deserto dos esquecidos, a dor de todas as dores, o abandono do Pai: Élôï, Élôï, lema sabachthani” – Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste? Converteu-me então em seu amor.


- Amor jorrado de sua cruz!

 

Dobrei-me, e compreendi:

- Não devo fugir das cruzes de minha vida, pois é impossível fugir de mim mesmo. Sou eu as pedras do meu caminho, o peso das minhas cruzes, as sombras de minha escuridão. Os outros, aqueles que Cristo sabiamente coloca na nossa frente, são os espelhos que fazem refletir o que realmente somos! 

Reencontremo-nos! Recomecemos sempre, mergulhados no pensamento de que Deus nos ama imensamente. Coloquemo-nos de frente ao espelho e não tenhamos medo do que possamos ver. Deixemos refletir corpo e alma, sem medo, pois todo aquele que crê, jamais sofrerá por ter crido. Todo aquele que O encontrar entre as cruzes do caminho usufruirá da luz que brilha do outro lado da cruz. O amor de Cristo se faz presente nas nossas cruzes e, Nele, o divino se faz humano e o humano se diviniza, inundando nossa alma de luz e sabedoria.

 

 Ressuscitemos,

Sejamos novos.

Sejamos luz no mundo!