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Às vezes se faz necessário caminharmos contra a corrente para descobrirmos a nós mesmos. O exercício se resume em olhar nos olhos daquele que vem ao nosso encontro!

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

NOITE DE AUTÓGRAFOS


O AMOR É UMA ARTE - A Fraternidade como Instrumento Pedagógico
Uma experiência fantástica, que vivenciada por trinta e cinco alunos de uma escola no interior do Paraná, está transformando suas vidas e suas comunidades.
Mas este é só o começo desta grande aventura!
A prática da Arte de Amar, proposta por Chiara Lubich, através do seu instrumento de socialização, o Dado do Amor, tem comprovado entre as crianças de várias partes do mundo que a Fraternidade Universal não é uma Utopia!
Vem viver com a gente esta experiência e comprove sua veracidade.
Dia 12 de dezembro de 2009
Às 19:30h
No Anfiteatro Santo Carraro, em Mandaguaçu-PR.
ESPERAMOS VOCÊ DE BRAÇOS ABERTOS!

O AMOR É UMA ARTE



Este não é um livro comum, desses que se encontra em livrarias, bancas de revistas e supermercados. Este é um livro muito especial, diferente em todos os aspectos que o envolve, e que envolve seus escritores.
Para escrevê-lo, antes de tudo, se fez necessário vivê-lo. Experienciar a veracidade dos fatos. Submetê-los à prática do cotidiano, de tal modo que não houvesse mais dúvidas (não que houvesse!) quanto à sua eficácia na vida dos autores e das pessoas com as quais se relacionam.
Esta é uma obra que nasceu da vida para a vida. Uma experiência que ficará marcada para sempre na memória daqueles que, crianças(*) ou não, tiveram a coragem de dar o seu sim e comprovar que o amor é um instrumento poderosíssimo, capaz de transformar as pessoas e o meio onde vivem.

Portanto, não o convido a lê-lo somente. Convido-o a experienciá-lo, a vivê-lo, tal qual fizeram seus autores: derramando sobre o mundo que o cerca pequenas gotas de amor, que para muitos, significará um oceano.


Ouça o silêncio daqueles que te cercam;
Há nele um grito que ecoa.
Ao ouvi-lo, entenderás como deves proceder em teu auxílio.
Caso não o ouças, faças tu o silêncio necessário’.

Nivaldo Donizeti Mossato
Coordenador e organizador


(*) Todas as crianças (co-autores) que participam desta obra foram devidamente autorizadas pelos seus respectivos pais, e/ou responsáveis, preservando assim, seus direitos e cidadania.


Transformar a escola num lugar de aprendizado para a vida é o grande desafio de todo educador. O ‘Projeto Dado do Amor’, criado por Chiara Lubich e desenvolvido nesta escola pelo empresário e acadêmico em psicologia Nivaldo Donizeti Mossato e sua equipe, é uma ferramenta pedagógica que resgata a capacidade do ‘relacionar-se com o próximo’ de forma a restituir a dignidade, o amor próprio e o direito ao aprendizado.
O presente livro é um mosaico de experiências díspares, sobre “atos de amor” realizados por alunos da 5ª série G, do período vespertino, da Escola Estadual Professor Francisco José Perioto.
Os textos aqui reunidos acentuam as marcas do já vivido, dos percursos feitos e do resgate a valores esquecidos ou pouco praticados como respeito e amor ao próximo.
Trata-se de uma obra que não deixará leitor algum indiferente, pois mostra que é possível estimular o amor ao próximo através de ações simples, a fim de traçar com firmeza os caminhos do futuro, superando desafios que fortaleçam a conquista de uma pedagogia que preconize a união, o afeto e a grandeza de viver para além do individualismo.
Esperamos que apreciem o resultado.


Professora Sandra Freitas de Carvalho
Diretora da Escola Estadual Prof. Francisco José Perioto
Município de Mandaguaçu - Paraná

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Algumas percepções dos professores que atuam na sala de aula do projeto
No início do ano letivo nos deparamos com uma realidade muito difícil
entre os alunos (...).
Eles eram agressivos, indisciplinados, desobedientes, não tinham limites e recusavam contatos físicos: carinho, abraços ou um simples toque.
Gritavam, falavam muito alto e podíamos perceber que havia sentimentos de muita rejeição e auto-imagem negativa.
Era quase impossível falar com eles, dar um recado, e dar aula com qualidade.
Tanto que as notas do 1º bimestre foram um arraso, muito baixas.
No início do 2º bimestre, já havíamos conquistado um pouco da confiança de muitos, e eles já estavam mais acessíveis, começando a ouvir.
Após o inicio do ‘Projeto Dado do Amor’,
fomos percebendo grandes melhoras nas notas,
na confiança e o comportamento em sala mudou consideravelmente.
Eles estão mais amorosos, carinhosos e também mais estudiosos.
É visível a melhora no desempenho,
nos relacionamentos e no comportamento de muitos alunos.

Cilene Gomes Bonilha e Claudete Marques Arnout
Equipe pedagógica
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O projeto “Dado do Amor” tem como objetivo melhorar a auto-estima dos alunos e promover a socialização mínima necessária para uma convivência harmoniosa, em que a pratica pedagógica seja eficiente.
As mudanças comportamentais esperadas virão a longo prazo, mas algumas atitudes favoráveis já foram percebidas, tais como companheirismo, solidariedade e a cooperação no trabalho em grupo.
E com certeza com a continuidade do projeto todas as perspectivas serão alcançadas.


André Alexandre Valentini
Professor de História
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Algumas experiências que marcam as páginas deste livro e a vida dos seus autores
Moro com minha avó há dez anos.
Eu não sabia o valor de um ato de amor até que comecei a praticá-los.
Percebi que estava acordando muito tarde, e não sobrava tempo para ajudar minha avó.
Resolvi então acordar mais cedo.
Confesso que foi um pouco difícil, pois sou um pouco preguiçosa.
Mas por outro lado está sendo muito bom para mim e para ela,
pois estou conseguindo ajudá-la.
Toda vez que a ajudo, sinto uma paz imensa no meu coração.
Foi então que percebi que um pequeno ato de amor pode mudar muitas coisas em nossas vidas.
*********
Todo ano eu ganho muitos brinquedos e roupas da patroa da minha mãe
e não tinha o costume de ‘partilhar’.
Compreendendo a necessidade de colocar as coisas ‘em comum’,
resolvi fazer diferente.
Peguei duas sacolas e coloquei as roupas em uma e os brinquedos em outra
e doei para uma menina que sempre encontro na igreja.
Ela gostou muito e eu pude exercitar na prática o ‘amor ao próximo’,
principalmente por que dei o que mais gostava para Jesus naquela menina.
*********
Minha mãe trabalha na casa de uma vizinha dois dias na semana.
Para ajudá-la vou buscar minha irmãzinha na escola, e às vezes, também vou buscar o leite. Sempre que vou ajudar meus pais eu me lembro de fazer por amor.
Faço tudo com muita alegria sabendo que isso é um ato de amor para com eles.
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Moro num sítio com meus pais e vou à escola de ônibus.
Conheci dois irmãos, um de dois anos e um de cinco.
O mais novo sempre acaba caindo quando vai descer do ônibus.
Então, todos os dias eu pego o menino no colo e desço com ele.
Fazendo este ato de amor para Jesus naquele menino, me sinto muito bem.
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Eu havia comprado dois pacotes de Chips,
um para comer na escola e outro para levar para casa.
Quando abri o primeiro pacote vi que um menino ficou olhando.
Ofereci a ele com a intenção de fazer um ato de amor.
Ele aceitou rapidinho, mas pegou um ‘pouquinho de nada’.
Disse-lhe que poderia pegar mais porque eu não conseguiria comer sozinho. Ele gostou da ‘idéia’ e acabamos por repartir o pacote todo.
Acredito que esse ato de amor tenha sido muito ‘gostoso’ para ele.
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Meu irmão estava com dificuldades em fazer as tarefas da escola.
Resolvi ajudá-lo, pois queria fazer um ato de amor para ele.
Foi muito difícil por que ele não aceitava minha ajuda.
Minha mãe falou com ele, então deu tudo certo.
Às vezes precisamos ‘insistir muito’ para poder amar.
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O LIVRO
A idéia de escrevermos um livro, relatando as experiências propostas pela Arte da Amar, vivenciadas pelas crianças da escola, reascendeu a chama do amor no coração dos alunos. Resgatou a possibilidade de realizarem um projeto que, até então, em seus pensamentos, só era possível para ‘gente grande’, ou seja, pessoas adultas com um certo grau de estabilidade econômica/financeira, que pudessem bancar a edição, ou aqueles que, de um jeito ou de outro, eram patrocinados.

Tal como a boa semente plantada em terreno fértil, em uma semana as experiências começaram a brotar: pequenos atos de amor eram vivenciados, e a luz, comunicada através de pequenos escritos. Viver e comunicar passaram a ser as palavras de ordem. Em pouco mais de sessenta dias já tínhamos o material suficiente para organizarmos o livro. Material colhido de inúmeras experiências de amor ao próximo, vivenciadas pelos alunos da quinta série ‘G’, que foram aos poucos transformando a realidade da sala de aula, proporcionando um ambiente mais tranqüilo e organizado, propício ao aprendizado.

Experiências que, muito além das paredes ou muros da escola, emergindo entre os familiares, amigos e até mesmo inimigos, fizeram surgir um novo estilo, uma nova forma de se relacionar com o outro: vê-lo como um igual, com novos olhos, sob um novo prisma. O próximo deixou de ser um obstáculo, um empecilho, um inimigo a ser vencido. Passou agora a ser uma meta, um objetivo a ser alcançado. Não mais um obstáculo, mas um instrumento de amor. Não mais um empecilho, um fardo a ser carregado, mas um trampolim, uma alavanca, uma força que nos impulsiona em direção ao nosso objetivo maior: realizar a unidade entre os homens.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

UM DADO, UM MENINO E O PERDÃO

Copyright Movimento dos Focolares / Direitos reservados

Bato a porta.
A penumbra do quarto do meu filho reflete bem meu estado de espírito: árido e escuro. Há um silêncio mórbido. As paredes impõem os limites do meu universo. Estou só. Meus pensamentos restringem-se à caixa preta de minha própria ‘aeronave’, onde divido o comando comigo mesmo.
Ligo a tv. O som alto faz estremecer as janelas e as notícias do mundo incomodam meus ouvidos: ‘carro-bomba explode no Líbano, trinta e seis pessoas morrem’. Abaixo o som. As notícias continuam: ‘sem-terras invadem propriedade improdutiva. O tumulto acaba em tragédia. Duas pessoas morrem’. A voz do ‘âncora’ do telejornal é agora minha companheira de quarto. Mais duas notícias. Desligo a tv. De novo o silêncio. O computador está ligado. Na tela de LCD alguém chama no MSN: ‘oiêêeeee! Vc ta aí?’ Não respondo. Olho fixamente para a tela na esperança de não mais ver o recado. Ele insiste: ‘Oooiiiii, tem alguém aí?’ Novamente o silêncio. Pego o controle. Ligo a tv. O telejornal continua. Mudo de canal. Abaixo ao máximo o volume. A luz das imagens faz colorir o quarto. Ligo o aparelho de som. A música tênue dá ao ambiente um pouco de paz. As imagens da tv agridem meus olhos: ‘polícia e traficantes trocam tiros na favela. Bala perdida atinge criança de oito anos’. A notícia é muda, mas as imagens falam por si. O desespero se reflete nos olhos dos entrevistados, embalado pelo ‘Jazz’ que escorre do cd. Desligo a tv. Dos olhos, duas lágrimas ganham o infinito espaço até alcançarem o chão.
Ouço passos. Desligo o som e apuro os ouvidos. Aproximam-se. Enxugo meus olhos e caminho em direção à porta, que se abre abruptamente. Uma voz gritante rompe o silêncio: ‘vôôo! Ô vôo’!
A mochila vai ao chão, enquanto a criança corre em minha direção e alça vôo em meu colo. O abraço é apertado e o beijo molhado. Numa das mãos, um pequeno dado colorido deixa transparecer uma frase escrita em seu vértice: ‘amar a todos’. Os joelhos vão ao chão. O abraço continua. Agora mais frouxo, embora não com menor avidez. A pequena mão desliza sobre a barba branca. A criança se vira e aconchega a cabeça em meu colo, assentando-se sobre meu joelho. Beijo-lhe os cabelos. As pequeninas mãos se juntam sobre o dado. Um só balanço e o brinquedo toma altura e desce. A criança pula do meu colo, apanha o dado e exclama: ‘amar por primeiro, vô! Agora é a sua vez’!
Tomei o dado nas mãos. Meus olhos se ergueram e a branca pintura do teto me fez lembrar uma tela de cinema. Numa fração de segundos as notícias do mundo tomaram vida. Olhei o dado e joguei-o longe. A criança tomou o corredor de acesso aos quartos e aproximando-se do brinquedo gritou: ‘amar os inimigos, vô’. Nossos olhos se encontraram. O silêncio se fez palavras.
As pernas trêmulas se levantaram. O corpo parecia pesar toneladas. Com passos lentos desci as escadas que davam para a cozinha. O garoto segurava minha mão, molhada pelo suor frio que escorria. Meu coração carregava o peso do remorso. À minha frente, ‘meu inimigo’ aguardava meu pedido de perdão. A criança não se deu por vencida. Soltou o dado no chão, e segurando-lhe a mão exclamou: ‘vó, o vô quer falar com você’!
Com um último esforço, a criança uniu nossas mãos, e apanhando o dado gritou: ‘vôôo, vóóo, amor recíproco! Vamos jogar de novo’?!



Texto inspirado na ‘Arte de Amar’, de Chiara Lubich, onde o ‘Dado do Amor’ é seu instrumento de socialização. O Dado traz impresso em seus vértices os principais aspectos desta maravilhosa Arte.

domingo, 15 de novembro de 2009

UM GRANDE TESOURO



Eis um grande tesouro: a sabedoria!
Por si, a sabedoria é sábia; provém de Deus.
Nem todo homem a possui, por mais inteligente que seja, por mais cultura que tenha.
A sabedoria é um dom gratuito do criador, e, para possuí-la, não basta conhecer o caminho;
é preciso estar a caminho.
A sabedoria é sábia, é a própria essência do Divino imersa no humano.
Quem a possui é o escolhido entre os escolhidos. É o iluminado, é aquele que ama!
É um tesouro inesgotável. Uma riqueza incalculável. O poder dos poderes.
O sábio é humilde, conhece seu próximo e o ama como ama a si mesmo.
Vive as dores do outro como se fossem suas próprias chagas.
Alegra-se com a alegria do irmão e é servo de todos.
Não desdenha a vontade alheia e não a sobrepuja com sua própria vontade.
Sabe que a vida está naquele que ama, e, quem ama, dá a vida pelo irmão.
A sabedoria é sábia. O sábio é assim: conhece a si, tal qual conhece cada um dos seus.
Não mede o amor com suas medidas, nem o ódio com seus próprios pesos.
Não julga para não ser julgado; ama, para não ser amado; ama, por que é amor.
Ama para santificar o outro. Ama para construir um mundo melhor.
Ama para gerar a unidade entre os homens, e, no outro, saciar-se a si próprio, imagem de Deus.
A sabedoria é sábia. Humildade das humildades. Tesouro dos tesouros.
Quem a possui não envelhece, não tem depressão, não adoece, não morre do coração.
A sabedoria é assim: eterna como o Eterno. Justa como o Justo. Calma como o Cordeiro.
Íntegra como a semente que dá-se à Terra, em silêncio de morte, para gerar a vida!
A sabedoria é sábia. O sábio é assim: homem que ama, que ama, que ama.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

NA RESSURREIÇÃO


Deus, ao conceber-nos em sua criação, tornou-nos sua imagem e semelhança e nos deu a postura de filhos do criador. Filhos D’Aquele que no amor, constituiu todas as coisas e nos permitiu chamá-lo de ABBA, que significa Pai, Paizinho. Posteriormente, vendo que a família não estava completa e que o homem distanciava-se da sua origem, presenteou-nos com seu Unigênito, Trino de Amor.
Jesus por sua vez, momentos antes de nos doar sua vida, aos pés da cruz, deu-nos a mais sublime das criaturas: Maria. Olhando para o apóstolo que amava exclamou: “- Mãe eis seu filho. Filho, eis aí sua Mãe”. Neste momento, a família universal estava constituída.
Cristo abdicava-se de toda sua santidade e entregava-se como homem nos braços do Pai. Preparava-se para o abandono total que consumou-se no grito: “Pai, porquê me abandonaste?”. Momentos depois suspirou para a morte, mostrando o quanto foi Deus-Homem e o quanto foi Homem em Deus.
Mas, Cristo não é a morte. Cristo é a vida, a ressurreição. As cruzes são como o fogo que purificam o ouro. A pedra bruta guarda sua beleza em suas entranhas. O ser humano, também precisa ser lapidado para mostrar sua beleza. Não somos perfeitos em nossa fé, mas podemos ser lapidados pelas cruzes que transpassam nosso ser e fazem morada em nosso coração.
A escolha de Cristo é sem dúvidas a escolha da vida. Não se escolhe Cristo, sem escolher a cruz. O Crucificado estará sempre na cruz pagando por todos e por tudo. Cabe a cada um de nós, entendermos nossas cruzes e valorizá-las no amor. Não se ama a cruz, ama-se o crucificado. Não se valoriza o pecado, ama-se o pecador. Ele nos quer santos, refletidos e mergulhados no irmão.
Santos naqueles que impossibilitados pela dor, não conseguem transpassá-la para encontrá-lo vivo, ressuscitado e livre, do outro lado da cruz.
Lancemo-nos nesta via de amor. Façamos jorrar na cruz de cada um que passa ao nosso lado, doados por Cristo, uma fonte de amor que aos poucos cobrirá a terra e frutificará.
Devemos crer nesta promessa e esperar no salvador. Com toda nossa fraqueza, com todo nosso pecado, com todo nosso orgulho de homens, pois assim o seremos até a consumação dos tempos.
Mergulhemos então, no sabor da Paz, no verdadeiro sentido da vida, buscando a santidade mesmo que tenhamos que recomeçar a cada segundo, descobrindo nossas fraquezas e nos fortalecendo na fonte de vida, que brota do outro lado da cruz, no ressuscitado.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

COMUNIDADES ESTIGMATIZADAS


Quem de nós, não carregou consigo durante parte da sua vida, ou ainda carrega o peso de uma marca indesejada? Quantas vezes, deliberadamente, não julgamos uma ação, rotulamos, manipulamos, deixamos marcas profundas, conscientes ou inconscientes naquelas pessoas que convictamente amamos?
Um simples apelido que para muitos poderia ser até carinhoso, para outros pode carregar um peso insuportável, uma marca profunda que inevitavelmente irá abalar de alguma forma seu estado psíquico. Fatos como esses ocorrem diariamente na vida de muitas pessoas.
Não muito diferente, a estigmatização de uma comunidade, pode ocorrer a partir da confirmação, consciente ou não, de algum fator, que por um motivo ou outro, a marque ou distinga negativamente das demais. Marcas que podem transformar-se na sua própria identidade: um estigma que dificilmente poderá ser anulado.
Há incontáveis comunidades espalhadas pelo mundo que carregam consigo estigmas sociais que as marcam e identificam negativamente, promovendo a exclusão social e rotulando seus habitantes. Diariamente inúmeras manchetes escritas, faladas ou televisionadas, expõem inescrupulosamente essas feridas, reafirmando coletivamente esses estigmas, criando uma incontestável barreira social para as pessoas que, escolhendo ou não, residem nesses bairros.
Muitas vezes, ao buscar somente uma solução política para uma realidade social não é o suficiente para transformá-la, principalmente quando, mergulhado neste problema, encontra-se estereótipos, paradigmas, crenças populares que sustentam a manutenção dessa realidade.
Uma visão ampla do processo de estigmatização pode, entre outras coisas, traçar um mapa da mesma realidade comungada por outras comunidades, visto que, na base deste processo estão os baixos índices de escolaridade, a falta de preparo para o mercado de trabalho, a exclusão por anos a fio da comunidade dos programas de reabilitação do poder público, e, acima de tudo, como resultado da soma destes fatores, o alto índice de criminalidade envolvendo crianças, jovens e adultos. Índices estes que, expostos diariamente pela mídia, demonstram que mesmo a maioria dos crimes ocorrendo em outras regiões da cidade, grande parte dos envolvidos residem em bairros estigmatizados.
Outro fator relevante para a manutenção do estigma de uma comunidades, além da exposição diária dos seus pontos fracos pela mídia, é a continuidade, a repetição do processo já existente, pelas novas gerações que despontam como filhos da exclusão social. Um processo que avança de geração em geração e que precisa ser contido de imediato, não só pelo poder público, mas primordialmente pelo engajamento da própria comunidade em programas de resgate cultural, de alfabetização, preparação para o mercado de trabalho através de treinamentos específicos e de inclusão digital e o resgate da dignidade através de projetos promoção humana e de auto-estima.
A união de esforços entre o poder público, entidades assistenciais e empresas privadas, com uma participação maciça da sociedade parece ser o caminho mais curto para reverter a condição social dos bairros mais carentes. No entanto, o estigma que os acompanha só poderá ser vencido com a mudança do enfoque dado pela própria população residente nesses bairros ao resultado dos programas implantados e à forma com que são divulgados nos meios de comunicação de massa.
Projetos existem, mas precisam ser levados a sério tanto pelo poder público quanto pela população a quem se destina. Muitas vezes a falta de profissionais compromete o programa, outras, a própria comunidade não o valoriza em sua plenitude. Sem apoio e participação adequada qualquer projeto perde seu sentido e deixa de prover resultados satisfatórios. É necessário conhecer e participar para poder dar o devido valor às iniciativas que já existem e que buscam transformar essa triste realidade de estigmatização e exclusão social.
O primeiro passo da transformação pode ser dado na própria família, quando a mesma voltar o olhar sobre si, descobrindo e trabalhando suas próprias necessidades e, remeter seu apoio ao ambiente escolar e aos projetos sociais.
Romper com um estigma, com um paradigma social significa transformar a referida comunidade, em sua totalidade, em uma nova concepção comunitária. Vai muito além de asfaltar ruas, dar condições de transporte, trabalho, escola e saúde. O estigma está enraizado na mente e na cultura do povo.
Faz-se necessário mudar o olhar com o qual vemos tal comunidade de forma a fazê-la atuar com um novo olhar sobre si mesmo. É preciso fazer cicatrizar suas feridas psíquicas rompendo o círculo vicioso que promove a reprodução de um estado de estagnação e repetição da mesmice cultural que a aliena e a identifica. É necessário prover a cada indivíduo a condição ideal que o faça ver-se como pessoa humana, resgatando sua dignidade.
No entanto, os estigmas continuam. As manchetes de jornal continuam a mostrar a realidade nua e crua, através da visão ideológica que o convém: é preciso vender a notícia. Enquanto isso, as comunidades estigmatizadas tentam ocultar as veias expostas das suas feridas, na esperança que um dia cicatrizem. É preciso virar a página deste jornal.

Autores:
André Seles
Marilene Salviano
Miriam Franco Santos
Nivaldo Donizeti Mossato
Raquel Borges
(Acadêmicos de Psicologia da Faculdade Ingá – Uningá).
Orientação e supervisão:Profª Ms. Joselene Miriani

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

COM OS OLHOS DA ALMA


Quando olhamos o ser humano com os olhos da carne, o vemos despido de suas qualidades, de suas virtudes. Em relevo, destaca-se todas suas imperfeições. Mas, se o olhamos com os olhos da alma, vemos transbordar um turbilhão de motivos para amá-lo. A alma rejubila com a criação divina. Quando privada do mal, a alma abandona-se na beleza do divino, essência da criatura. Criador e criatura reencontram-se, formando um elo de amor em duas vias: - O criador ama. E por seu amor, gera a vida. A criatura, sentindo-se amada, retribui. Um vai-e-vem de amor se estabelece e proporciona o encontro com o próprio vínculo, que é o amor.Deus é amor!
Ninguém é perfeito. O próprio Cristo ao interceder pela mulher adúltera disse: “- Quem não tiver pecado algum que lhe atire a primeira pedra”.As veias do bem e do mal circundam nosso corpo levando o mesmo sangue. Sangue este, que alimenta nossas escolhas.Temos em nós dois eternos lobos. Sobreviverá aquele que melhor alimentarmos. Alimentando o lobo bom, este se sobrepujará sobre o mal. Toda vez que alimentarmos o mal, ele aniquilará o bom.Olhemo-nos com novos olhos; com olhos de Cristo. Sintamos o sabor da alma de quem nos é dado gratuitamente por Deus. Sejamos aquele que separa o pecado do pecador. Sejamos aquele que ama, sem importar-se com qual lobo se deparará.Olhemos profundamente cada criatura com os olhos do Criador. Assim, veremos refletir em nossa alma toda a essência do verdadeiro relacionamento embasado no amor. Um vai-e-vem de amor, capaz de gerar uma nova vida. Capaz de transformar a própria criatura.
www.nivaldomossato.com.br

terça-feira, 3 de novembro de 2009

ADOLESCÊNCIA: IDADE DA SOLIDÃO



ADOLESCÊNCIA: IDADE DA SOLIDÃO

É muito difícil para um jovem atravessar a adolescência sem deixar que a solidão impregne profundas marcas em seu psíquico, contribuindo negativamente na construção do seu caráter. As cicatrizes deixadas pela solidão no psiquismo do adolescente, distanciam-no das suas raízes familiares destruindo, na maioria das vezes, uma construção psíquica e cultural proposta desde os primeiros dias da infância, pelos pais e pela sociedade a qual pertence.
Entre as tantas fases do desenvolvimento humano, a adolescência é a mais conflitante. Inicia-se por volta dos dez ou onze anos, estendendo-se até a pós-puberdade, que tem sua conclusão aproximadamente aos vinte anos. No entanto, a adolescência pode ser vista em seus múltiplos vértices: psicológico, cultural, social, biológico e tantos outros que se inserem em um processo que assume peculiaridades de acordo com a cultura vigente.
Para Ariès (1981) a infância, como período evolutivo e com necessidades específicas, é uma invenção da modernidade, tendo cerca de 150 a 200 anos: a adolescência é ainda mais recente referindo-se a um período entre a Primeira e a Segunda Guerra Mundial (1918 e 1939). Até então se passava da infância para a idade adulta em um curto espaço de tempo, após breves rituais de iniciação, tanto que Freud, pai da psicanálise, nunca usou a palavra adolescência, pois esse termo não existia na língua alemã de seu tempo. Referia-se a esse período como juventude ou puberdade.
As variantes deste desenvolvimento humano, através dos séculos, oscilaram em suas visões e necessidades, culminando em uma nova definição, onde a adolescência surge como um importante período de transição entre a infância e a fase adulta, tanto no fator psíquico, como também físico, no aspecto de amadurecimento dos órgãos genitais e do aparecimento de caracteres sexuais secundários.
Para Outeiral (2008), a adolescência é composta de três etapas que se misturam em suas características enquanto se processam e se alteram, num constante vai e vem, determinando-se como: adolescência inicial (entre 10 e 14 anos), tendo como características básicas as transformações corporais e alterações psíquicas derivadas destes acontecimentos; adolescência média (dos 14 aos 17 anos) tem como seu elemento importante as questões relacionadas à sexualidade, em especial, a passagem da bissexualidade para a heterossexualidade, e adolescência final (de 17 a 20 anos), sendo caracterizada pelo estabelecimento de novos vínculos com os pais, a questão profissional, aceitação do novo corpo e dos processos psíquicos do mundo adulto.
Já para D’Andrea (2006), considerando os aspectos fisiológicos como ponto de referência, estas etapas são definidas como pré-puberdade, puberdade e pós-puberdade, registrando que uma divisão por idade é totalmente arbitrária, pois defrontamos com adolescentes antes dos 10 anos, assim como após os 20 anos.
Essa difícil fase do desenvolvimento humano encontra suas barreiras em conflitos emocionais relacionados à reorganização do aparelho psíquico e ao reencontro deste ser na sociedade a que pertence, visto que deixou de ser criança e ainda não atingiu a sua maturidade, deparando-se com o medo da nova realidade a ser assumida: um novo padrão de comportamento e relacionamento que o projete no mundo adulto. Esse período de contestação gera uma situação conflitante que por sua vez pode levar esse jovem a reprimir-se ou isolar-se num sentimento de solidão.
Este sentimento relacionado aos conflitos provenientes do medo do novo, do desconhecido caminho a seguir, pode ser visto sob dois aspectos: o positivo, quando promove o crescimento e o desenvolvimento do ser humano como pessoa; e o negativo, quando o leva a um sentimento de rejeição tanto de si mesmo, quanto do mundo que o cerca, projetando-o ao egocentrismo e a auto piedade, culminando na autodestruição.
A infância é um período onde se constrói o companheirismo, a confiança e o respeito entre pais e filhos. A comunicação é de extrema importância nesta construção. Quando esses fatores falham ou ocorrem de maneira inadequada, essa criança chega à adolescência desestruturada, podendo assim, proporcionar motivos para levá-lo à solidão.
A indecisão entre a vontade da independência e o medo da responsabilidade, faz com freqüência exigências e reivindicações ambivalentes. Os pais sentem-se desconcertados e confusos por suas imposições e protestos contraditórios, gerando assim, certa incompreensão e sensação de estranheza, freqüentemente recíprocos. O adolescente sente-se inseguro em papéis que não lhe correspondem, percebe imposições intoleráveis, sente alteradas as suas mensagens e suas exigências.
Para Miceli (2006) na adolescência o jovem se projeta fora da família. O pai e a mãe deixam de ser referências para este jovem. Os personagens e ídolos servem agora como modelos para ele. Por outro lado, os relacionamentos com os colegas se tornam mais destacados: o adolescente tem necessidade extrema de ser acolhido pelo grupo do mesmo sexo, e começa a se firmar também nos relacionamentos com o sexo oposto.
Entretanto, o sentimento de solidão pode estar presente em qualquer lugar ou situação. Ocorre até mesmo durante uma festa com os amigos, no trabalho ou dentro de casa com a própria família. Pode existir o medo da intimidade, de deixar-se conhecer, de ser rejeitado, por haver timidez, incompreensão e desejo de possuir um relacionamento que muitas vezes não acontece.
Para Levy (2001), o adolescente oscila entre quatro ambientes que funcionam como refúgios psíquicos que podem ajudá-lo a organizar seus sentimentos de forma construtiva ou fazê-lo mergulhar na solidão e no abandono. Estes ambientes, a família, o mundo adulto, os grupos de adolescentes e o isolamento, são caminhos que quando percorridos na normalidade promovem um amadurecimento mais tranqüilo. No entanto, quando percorridos de forma que o adolescente promova uma fixação rígida em uma dessas comunidades torna-se uma psicopatologia.
Esses grupos são caminhos pelo qual o adolescente terá que passar para concluir sua caminhada rumo à maturidade. A forma pela qual será conduzido por eles é que fará a diferença entre ser um individuo normal ou problemático.
No adolescente mais próximo à normalidade, observa-se a utilização desses grupos como refúgios psíquicos que o auxiliam a conquistar um espaço mental com maior adequação que poderá induzi-lo a sobrepujar a ansiedade, amenizando o sentimento de solidão. Por outro lado, quando fixa-se em demasia, em qualquer um desses grupos, pode absorver experiências que o conduzirá com freqüência a uma expectativa solitária.
Outro fator relevante que conduz à solidão é a baixa estima, pois tendo pouca confiança em si mesmo é difícil sentir-se apto para criar relacionamentos com outros de sua idade. Esse sentimento surge muitas vezes das avaliações físicas, sendo a aparência e o comportamento questões protuberantes na sociedade, provocando assim um retraimento.
O aumento nas atividades e a obsessão pela eficiência geram sentimentos de inferioridade e inutilidade. A modernidade e a tecnologia levam o jovem a alienar-se do mundo cada vez mais, incapacitando-os de amadurecer através das experiências que o contato social proporciona.
Contudo, ao invés de enfrentar a solidão, há uma busca desenfreada para afastá-la, na ilusão de que algo ou alguém possa livrá-lo desse sentimento. Essa busca acaba levando-os a caminhos negativos e, muitas vezes, querem libertar-se através de bebidas, drogas, ou até mesmo tornando-se dependentes de alguém próximo. Os adolescentes, muitas vezes, descrêem da sua capacidade de cuidar da própria vida emocional e esperam que os outros supram suas necessidades; e estes, por sua vez, sentem-se sufocados e tendem a se afastarem ainda mais destes jovens.
Nesta fase da vida o adolescente promove, devido aos seus sentimentos ambivalentes, uma verdadeira busca do outro, fora do seu ambiente familiar. No entanto, sempre retorna às suas raízes para certificar-se de que não houve um rompimento definitivo com seus pais e para reabsorver seus padrões de relacionamento.
Quando a família estrutura-se de forma a promover esse relacionamento de confiança com o jovem adolescente, dá a ele condições de, na medida em que evolui em seus questionamentos, encontrar subsídios para enfrentá-los de forma condizente a um amadurecimento adequado, fazendo com que o sentimento de solidão, tão presente nesta fase do desenvolvimento, seja amenizado, interferindo de forma menos agressiva no ambiente psíquico deste jovem.
Não é nada fácil, tanto para o jovem adolescente quanto para sua família lidar com estes conflitos, pois, ambas as partes perdem-se em meio a estes paradigmas e sentimentos, de forma a, muitas vezes, desestruturar-se em suas crenças e convicções.
No entanto, quando a troca de experiências entre o jovem e a família tende a estruturar, ao longo dos anos, uma relação de confiança mútua, criará no adolescente a certeza que, mesmo em meio a tantos questionamentos e à vontade de buscar lá fora, longe do seio da família, o conhecimento do mundo dos adultos, mais cedo ou mais tarde poderá retomar esta relação sem que as perdas sejam tão significativas para seu mundo psíquico, reiterando para si mesmo um amadurecimento mais seguro, onde a solidão terá uma breve e natural passagem.
Pesquisa realizada pelos acadêmicos em Psicologia da UNINGÁ -Unidade de Ensino Superior Ingá:
Franciele Monik Zanutto
Isabela Cristina Bonadia Veroneze
Nivaldo Donizeti Mossato
Rodrigo Robson Lolatto
Orientados e supervisionados pela Professora - Ms. Patrícia M. de Lima Freitas

A SOLIDÃO DO MUNDO


Hoje,alguém estendeu-me a mão.
Pude perceber, transfigurada em sua face,
a solidão em que o mundo vive.
Ouvi o tilintar das moedas sucumbindo-lhe as mãos,
sem, no entanto, estancar-lhe o sangue das feridas.
É Jesus, crucificado e abandonado que grita:
Tenho fome,
Tenho sede,
Tenho frio!
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