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Maringá, Paraná, Brazil
Às vezes se faz necessário caminharmos contra a corrente para descobrirmos a nós mesmos. O exercício se resume em olhar nos olhos daquele que vem ao nosso encontro!

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

COMUNIDADES ESTIGMATIZADAS


Quem de nós, não carregou consigo durante parte da sua vida, ou ainda carrega o peso de uma marca indesejada? Quantas vezes, deliberadamente, não julgamos uma ação, rotulamos, manipulamos, deixamos marcas profundas, conscientes ou inconscientes naquelas pessoas que convictamente amamos?
Um simples apelido que para muitos poderia ser até carinhoso, para outros pode carregar um peso insuportável, uma marca profunda que inevitavelmente irá abalar de alguma forma seu estado psíquico. Fatos como esses ocorrem diariamente na vida de muitas pessoas.
Não muito diferente, a estigmatização de uma comunidade, pode ocorrer a partir da confirmação, consciente ou não, de algum fator, que por um motivo ou outro, a marque ou distinga negativamente das demais. Marcas que podem transformar-se na sua própria identidade: um estigma que dificilmente poderá ser anulado.
Há incontáveis comunidades espalhadas pelo mundo que carregam consigo estigmas sociais que as marcam e identificam negativamente, promovendo a exclusão social e rotulando seus habitantes. Diariamente inúmeras manchetes escritas, faladas ou televisionadas, expõem inescrupulosamente essas feridas, reafirmando coletivamente esses estigmas, criando uma incontestável barreira social para as pessoas que, escolhendo ou não, residem nesses bairros.
Muitas vezes, ao buscar somente uma solução política para uma realidade social não é o suficiente para transformá-la, principalmente quando, mergulhado neste problema, encontra-se estereótipos, paradigmas, crenças populares que sustentam a manutenção dessa realidade.
Uma visão ampla do processo de estigmatização pode, entre outras coisas, traçar um mapa da mesma realidade comungada por outras comunidades, visto que, na base deste processo estão os baixos índices de escolaridade, a falta de preparo para o mercado de trabalho, a exclusão por anos a fio da comunidade dos programas de reabilitação do poder público, e, acima de tudo, como resultado da soma destes fatores, o alto índice de criminalidade envolvendo crianças, jovens e adultos. Índices estes que, expostos diariamente pela mídia, demonstram que mesmo a maioria dos crimes ocorrendo em outras regiões da cidade, grande parte dos envolvidos residem em bairros estigmatizados.
Outro fator relevante para a manutenção do estigma de uma comunidades, além da exposição diária dos seus pontos fracos pela mídia, é a continuidade, a repetição do processo já existente, pelas novas gerações que despontam como filhos da exclusão social. Um processo que avança de geração em geração e que precisa ser contido de imediato, não só pelo poder público, mas primordialmente pelo engajamento da própria comunidade em programas de resgate cultural, de alfabetização, preparação para o mercado de trabalho através de treinamentos específicos e de inclusão digital e o resgate da dignidade através de projetos promoção humana e de auto-estima.
A união de esforços entre o poder público, entidades assistenciais e empresas privadas, com uma participação maciça da sociedade parece ser o caminho mais curto para reverter a condição social dos bairros mais carentes. No entanto, o estigma que os acompanha só poderá ser vencido com a mudança do enfoque dado pela própria população residente nesses bairros ao resultado dos programas implantados e à forma com que são divulgados nos meios de comunicação de massa.
Projetos existem, mas precisam ser levados a sério tanto pelo poder público quanto pela população a quem se destina. Muitas vezes a falta de profissionais compromete o programa, outras, a própria comunidade não o valoriza em sua plenitude. Sem apoio e participação adequada qualquer projeto perde seu sentido e deixa de prover resultados satisfatórios. É necessário conhecer e participar para poder dar o devido valor às iniciativas que já existem e que buscam transformar essa triste realidade de estigmatização e exclusão social.
O primeiro passo da transformação pode ser dado na própria família, quando a mesma voltar o olhar sobre si, descobrindo e trabalhando suas próprias necessidades e, remeter seu apoio ao ambiente escolar e aos projetos sociais.
Romper com um estigma, com um paradigma social significa transformar a referida comunidade, em sua totalidade, em uma nova concepção comunitária. Vai muito além de asfaltar ruas, dar condições de transporte, trabalho, escola e saúde. O estigma está enraizado na mente e na cultura do povo.
Faz-se necessário mudar o olhar com o qual vemos tal comunidade de forma a fazê-la atuar com um novo olhar sobre si mesmo. É preciso fazer cicatrizar suas feridas psíquicas rompendo o círculo vicioso que promove a reprodução de um estado de estagnação e repetição da mesmice cultural que a aliena e a identifica. É necessário prover a cada indivíduo a condição ideal que o faça ver-se como pessoa humana, resgatando sua dignidade.
No entanto, os estigmas continuam. As manchetes de jornal continuam a mostrar a realidade nua e crua, através da visão ideológica que o convém: é preciso vender a notícia. Enquanto isso, as comunidades estigmatizadas tentam ocultar as veias expostas das suas feridas, na esperança que um dia cicatrizem. É preciso virar a página deste jornal.

Autores:
André Seles
Marilene Salviano
Miriam Franco Santos
Nivaldo Donizeti Mossato
Raquel Borges
(Acadêmicos de Psicologia da Faculdade Ingá – Uningá).
Orientação e supervisão:Profª Ms. Joselene Miriani

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