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Maringá, Paraná, Brazil
Às vezes se faz necessário caminharmos contra a corrente para descobrirmos a nós mesmos. O exercício se resume em olhar nos olhos daquele que vem ao nosso encontro!

segunda-feira, 7 de maio de 2012

A RAINHA QUE MATOU A MÃE





Muito me apraz uma recordação que trago da infância, desde os meados de 1969, quando, por ocasião das comemorações do dia das mães, assisti, maravilhado, a encenação da música ‘Mamãe, mamãe, mamãe’, gravada por Agnaldo Timóteo e Ângela Maria. (Abaixo).

Mamãe, mamãe, mamãe
Composição:
(Herivelto Martins/David Nasser/Washington Harline)

Ela é a dona de tudo,
Ela é a rainha do lar,
Ela vale mais para mim,
Que o céu, que a terra, que o mar,
Ela é a palavra mais linda,
Que um dia o poeta escreveu,
Ela é o tesouro que o pobre,
Das mãos do senhor recebeu,
Mamãe, mamãe, mamãe,
Tu és a razão dos meus dias,
Tu és feita de amor e esperança,
Ai, ai, mamãe,
Eu te lembro chinelo na mão,
O avental todo sujo de ovo,
Se eu pudesse,
Eu queria outra vez mamãe,
Começar tudo, tudo de novo...

Lembro-me emocionado. Lágrimas escorrendo pela face, enquanto o coração se fazia pequeno frente a tanta gratidão, amor e benevolência que a cena protagonizava. Não poderia ser diferente: perpetuou-se em mim a imagem da imaculada mãe, continente incansável das augruras da família; confidente dos amores filiais; amiga das horas difíceis; algóz dos sofrimentos; colo caliente das ‘febres inesistentes’ da minha infância.

Guardo ainda, no fundo do peito, a sensação de acolhimento e aceitação, quando, na encenação, a criança se aproximou da mesa de doces onde a mãe confeitava um bolo e, sorrateiramente, colocou o dedinho dentro da massa; o que de imediato despertou a resposta da mãe, que, com olhar terno e sorriso acolhedor, passou-lhe o dedo sujo de massa de bolo na ponta do nariz (cena essa repetida incansávelmente hoje nas propagandas de margarina).

A cena continha em si tamanha plenitude de ‘troca’ entre os atores que a criança em mim ficou tocada com o olhar penetrante e o sorriso avassalador daquela mãe fictícia, porém, real na maioria dos lares que comumente eu frequentava naquela época.

Não me refiro aqui à ‘mãe-avental-sujo-de-ovo’ como aquela que, submissa, arraigava-se sob os tratos machistas, esquentando a barriga no fogão e esfriando no tanque de lavar roupas (como retrata o jargão popular), por pura obrigação ou falta de opções na vida. Refiro-me àquela que, por amor e livre escolha optava por ser mãe, e como tal, assumia seu papel de ‘mãe-rainha-do-lar’ onde se realizava na plenitude da pessoa humana e humanizadora.

Hoje, tentando reviver a cena, ou mesmo a emoção que dela exauria, descubro decepcionado que aquela ‘mãe-com-o-avental-sujo-de-ovo’, já não existe mais! Foi substituida pela mãe-tudo-pronto, pela mãe-tecnológica ou mãe-microondas; ou pior: pela ‘mãe-fast-food’.

Os tempos mudaram, e com ele, nós mudamos! Ou seria o inverso: nós mudamos e transfomamos o mundo a nossa volta? Não! Nem um, nem outro. Nós mudamos o mundo a nossa volta, e este, transformado, nos transforma, num contínuo movimento dialético. Somos seres no mundo, e como tal, o transformamos, criando contínuamente novas necessidades que exigem cada vez mais o ‘aperfeiçoamento’, a transformação de nós mesmos.

Somos seres relacionais que, sem percebermos, estamos nos transformando em seres-tecnológicos-individuais, influenciados pela nova rainha-do-lar: a televisão! Companheira de horas insólitas; mãe-eletrônica-dos-nossos-filhos; indicadora de moda e costumes; banalizadora de padrões culturais; demolidora de tabus; instigadora do sexo; agente de adultificação da criança e da infantilização do adulto; massificadora da violência; instrumento de manobra da consciência humana; usurpadora do primeiro afeto.

Eis a rainha: a televisão aberta do brasil! Instalada em seu trono, no melhor local da casa: na sala de visitas, impedindo o diálogo familiar; no quarto do casal, usurpando atenção e afeto; no quarto dos filhos, deseducando e instigando o individualismo de suas ações e sentimentos.

Eis a rainha-do-lar: venerada em suas 42 polegadas ou mais! Promotora de necessidades inúteis e, como camaleoa, camufladora dos seus verdadeiros interesses: manobrar os fracos sob a tutela econômico-financeira dos fortes, subjugando-os e reduzindo-os a escravos de si mesmos e a consumidores compulsivos e inescrupulosos dos recursos naturais, que já clamam por socorro.

Abram alas para a rainha-do-lar; e chorem pasmos o futuro medíocre dos seus filhos, que, infelizes e atrofiados mental e afetivamente, não terão nem mesmo o que recordar!

domingo, 8 de abril de 2012

SOBRE A VIDA E A MORTE 2



O grande e inevitável encontro da nossa vida é com a morte. Deveríamos tê-lo como meta! Assim, morreríamos melhor; sem medo, sem angústia, em paz e plenitude.


A vida e a morte são duas faces da mesma moeda. Portanto, ambas tem o mesmo valor. Deveríamos, cotidianamente, nos preparar divinamente para este grande encontro. Assim, viveríamos melhor; sem medo, sem angústia, em paz e plenitude.

Viver bem é acolher com plenitude tudo que a vida nos oferece a cada momento. Cada instante é único e traz na sua essência tudo que necessitamos para sermos felizes.

A felicidade não consiste em vivermos um momento eternamente, mas em eternizarmos, em nós mesmos, os momentos felizes que vivenciamos.

Quando compreendemos que ao nascer caminhamos, inevitavelmente, em direção à morte, entendemos e aceitamos a finitude do nosso corpo; isso nos possibilita cuidarmos melhor deste instrumento, desta casa onde habita nosso espírito.

Devemos educar nossos sentidos para a vida, e isso requer enxergarmos o que não vemos; ouvir o próprio silêncio para podermos acolher o silêncio alheio; falar o necessário, pois o desnecessário invade a privacidade do outro; sentir a vida à flor da pele, para podermos saboreá-la em plenitude.

Educar os sentidos em favor da natureza, pois esta está, intrinsecamente em nós, muito mais que imaginamos. Nada é por si mesmo, perdido no espaço e no tempo. Tudo faz sentido, até mesmo a morte, pois, a vida e a morte são eternidades que se completam!

www.nivaldomossato.com.br

quinta-feira, 5 de abril de 2012

SOBRE A VIDA E A MORTE







É o medo da morte
Que nos faz morrer;
É o medo da cruz
Que nos impede de ressuscitar.
A dor da lança que transpassa meu corpo
É finita;
Infinita é a escuridão que assalta nossa alma!

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

ALMA E ESCURIDÃO







ALMA E ESCURIDÃO
Nivaldo Mossato


Pobre daquele que traz em sua alma a escuridão do Outro:
Far-se-á escuridão em seus dias,
E suas noites serão eternas.
O Outro é candeeiro em estradas sombrias,
É farol a iluminar canções tardias,
É colo ‘caliente’ a embalar.

O Outro é aquele que doa a mim, meu próprio eu:
É o Verbo, a palavra;
O limite, a concisão:
Meu sim e meu não;
Minha aridez, minha confirmação!

É aquele que me permite ‘ser’
e me constitui humano.
Sem o Outro, sou insano:
Um morto que caminha sem direção!

Pobre da alma que não traz em si a luz do Outro.



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