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Maringá, Paraná, Brazil
Às vezes se faz necessário caminharmos contra a corrente para descobrirmos a nós mesmos. O exercício se resume em olhar nos olhos daquele que vem ao nosso encontro!

domingo, 24 de abril de 2011

TÁCITA PENA EM BRANCAS PÁGINAS






TÁCITA PENA EM BRANCAS PÁGINAS

Uma fétida espada transpassa meu ser, e o árido deserto se faz em minha alma.
Imerso nas coisas do mundo, já não vivo. Sou o retrato da multidão que não ama: um morto que caminha*.
A tácita pena jaz sobre a página em branco; enquanto no tinteiro a vida se cala, sem palavras.
O frágil corpo ainda resiste, mas a alma se queima: sou algoz de mim mesmo.
O último golpe! O corpo estremece, enquanto os joelhos se dobram. As forças se esvaem por entre as linhas da página em branco, que se impõe. E a pena, dá pena de se ver!
A luminária, no canto da escrivaninha pisca, como se em curto retratasse aquele momento: doa à vida seu último facho de luz.
Silêncio e penumbra.
Da alma proscrita, o último fôlego de vida se faz pensamento: “amarás teu Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a ti mesmo”.

No silêncio, o pulsar do coração cansado se faz reticências...(...)...(...)...e da alma, a aridez se esvai.
Na penumbra, a vida retoma sua luz. O pensamento embotado rompe o deserto e proclama: “És Tu Senhor meu único bem!”
A mão trêmula retoma a pena, e do tinteiro pulsa a vida em doces palavras; enquanto a página em branco doa seus signos às almas que jorram por entre suas linhas.


(*Expressão utilizada por Igino Giornadi . Diário de fogo. Editora Cidade Nova. São Paulo, 1986).

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