Encontrei-O entre as cruzes
que durante toda minha vida, relutei
- Toma sua Cruz e siga-me!
Olhava eu, para dentro de
mim e tentava não entendê-Lo, para não assumir que o peso de minhas cruzes
não estava no outro, estava
- Toma sua cruz!
Olhava eu, novamente para
dentro de mim e, fugindo do impossível, renegava-O naqueles que Ele mesmo me
escolhera como companheiros de viagem. Renegava-O na minha esposa, renegava-O
em meus filhos, renegava-O em mim mesmo.
Santamente Ele tomava meus
pecados e devolvia-os a mim, em forma de cruz, para que eu, retomando-os, cada
vez mais, com maior intensidade, pudesse gerar em mim mesmo a consciência do
seu inexorável Amor:
- Amor jorrado na Cruz!
Saí de casa ainda garoto, imaturo,
apaixonado pela vil liberdade e pelas coisas do mundo. Impulsionado pelo motivo
de que meu pai bebia muito e brigava com minha mãe, traí quem mais me amava.
Cristo deu-me então de presente uma esposa alcoólatra, a qual não soube
entender, amar e respeitar. E nessa dor, vieram os filhos, e veio a morte. E o
Cordeiro suplicava:
- Toma sua cruz...!
Preso em meu egoísmo e
tomado pelas coisas do mundo, não queria ouvir as verdades a meu respeito. Paciente,
Ele tomou-me outra vez pelas mãos e deu-me como segunda esposa aquela que seria
capaz de colocar-me frente-a-frente com o espelho, levando-me a enfrentar meus piores
pesadelos. No entanto, eu ainda não estava pronto. Sabiamente devolveu-me meu
pai, já velho e doente, e, novamente impetrava:
- Toma sua cruz...!
Por fim, quando pensava eu ser feliz
por ter encontrado na minha filha mais nova o retrato perfeito da família com a
qual sempre sonhara e reaprendido com ela e seus irmãos a função de um pai na
vida dos seus filhos, Ele tomou-a de meus braços e arrebatou-a aos céus. Veio
então a loucura do não-ser, o abismo de alma, a noite mais escura, o deserto
dos esquecidos, a dor de todas as dores, o abandono do Pai: “Élôï, Élôï, lema sabachthani” –
Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste? Converteu-me então em
seu amor.
- Amor jorrado de sua cruz!
Dobrei-me, e compreendi:
- Não devo fugir das cruzes de minha vida, pois é impossível fugir de mim mesmo. Sou eu as pedras do meu caminho, o peso das minhas cruzes, as sombras de minha escuridão. Os outros, aqueles que Cristo sabiamente coloca na nossa frente, são os espelhos que fazem refletir o que realmente somos!
Reencontremo-nos! Recomecemos
sempre, mergulhados no pensamento de que Deus nos ama imensamente. Coloquemo-nos
de frente ao espelho e não tenhamos medo do que possamos ver. Deixemos refletir
corpo e alma, sem medo, pois todo aquele que crê, jamais sofrerá por ter crido.
Todo aquele que O encontrar entre as cruzes do caminho usufruirá da luz que
brilha do outro lado da cruz. O amor de Cristo se faz presente nas nossas
cruzes e, Nele, o divino se faz humano e o humano se diviniza, inundando nossa
alma de luz e sabedoria.
Ressuscitemos,
Sejamos novos.
Sejamos luz no mundo!
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