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Às vezes se faz necessário caminharmos contra a corrente para descobrirmos a nós mesmos. O exercício se resume em olhar nos olhos daquele que vem ao nosso encontro!

terça-feira, 7 de dezembro de 2021

COMPANHEIRA DE VIAGEM


 

Quero sempre poder reescrever estas linhas com a minha vida!

Nivaldo Mossato


Querida companheira de viagem.

Os caminhos que juntos percorremos fizeram nossa história, e nós fizemos nossos caminhos. Os construímos passo a passo, enquanto eles nos construíam e nos permitia, respeitando nossa individualidade e nossa unicidade, construirmo-nos mutuamente: eu em ti, e tu em mim. Fomos nos moldando, sendo um, lapidando nossas arestas, nos conhecendo... Sendo! Quantas vezes desfrutamos juntos das alegrias que nossa estrada nos proporcionou, e, quantas vezes, cegos por afetos doentios beiramos o precipício. E caímos! E como a fênix que ressurge das cinzas, recomeçamos... recomeçamos... recomeçamos! Este é um dos pontos fortes da nossa relação: a nossa capacidade de recomeçar.

Costumo dizer que nossa história já estava escrita nas estrelas. Entretanto, sei que são nossas escolhas que definem seu enredo e que há um ‘fio de ouro’ que nos conduz ao ‘como’ dessa experiência que fazemos juntos e que nos permite olhar para uma mesma direção, mesmo que por formas diferentes de ver; e esse é o nosso segredo: deixar o outro ver! Permitir que o outro seja!

Sei que nem sempre é possível aceitar-te como és. Porém, escolho-te assim, todos os dias, pois esforças para aceitar-me como sou, mesmo quando não sou como pretendias que eu fosse. E quantas vezes a fiz chorar por isso! E quantas vezes chorei por fazer-te sofrer! Mas companheiros de viagem são assim mesmo: às vezes nos dizem verdades que preferíamos não ouvir, mas que são necessárias para permanecermos no caminho. E permanecemos! Persistência é outro aspecto que desenvolvemos.

     Entretanto, nossa história não é feita só de nós dois. Há tantas pessoas envolvidas que não caberiam nessas linhas. Há pessoas que chegaram. Há pessoas que partiram. Há pessoas que ficaram. Mas todas nos marcaram! Dos entes queridos ao mais distante. Do nobre amigo  àquele que simplesmente passou. Dos filhos que eu trouxe na bagagem aos seus familiares que os receberam como seus; o que lhes sou imensamente grato. Essa é outra característica da nossa viagem: não apagamos as marcas do caminho. As pegadas na areia fazem sentido tanto quanto as freadas no asfalto: elas nos ensinam a viver. Estamos aprendendo!

 Não apagar as marcas do caminho, ao contrário do que possa parecer, não é guardá-las na lembrança ou remoê-las em mágoas. É ressignificá-las. Dar a elas o sentido do momento presente e deixar que tomem seu devido lugar. Passado é passado quando o deixamos livre, sem apego, para que, ao seu tempo, tome seu devido espaço em nosso existir. Respeitar o passado do outro é valorizar sua história e confirmar sua essência. Só assim podemos aprender cada lição que a vida nos dá sem termos fantasmas rondando nosso momento presente. Este é outro ponto forte do nosso encontro: deixas-me livre, pois confias no que há entre nós. A liberdade de ser eu mesmo me faz querer voltar para casa todos os dias. Ah! Como é bom ter para onde voltar! Ah! Como é bom saber que estás à minha espera! Sou-lhe grato por isso, e, o sentido de gratidão é outro aspecto da nossa relação.

 Talvez seja reticente dizer-lhe o quanto a amo, pois esforço-me cotidianamente para que dizer não seja preciso. Sei que talvez já estejas cansada de ouvir. Mas algo de mágico acontece quando, de um nada, conversamos horas a fio. Não precisamos motivos, desculpas ou ocasiões especiais. O diálogo é um dom que nasceu e se desenvolveu entre nós. Creio ser este outro ponto forte da nossa relação: fazer-se presente à fala do outro. Fazer-se ouvidos e penetrar na experiência daquele(a) que caminha ao nosso lado, com interesse e intencionalidade. Estar ali faz toda diferença. Escolhemos estar ali. Queremos estar ali. Afinal, esta é a nossa viagem. A santa viagem que decidimos fazer juntos. 

Obrigado, companheira de viagem, por um dia ter cruzado meu caminho e decidido caminhar comigo sem mesmo saber qual seria o destino. Obrigado por fazer-me acreditar que o caminho se faz caminhando... Caminhando! 


Caminhar ao seu lado é a minha escolha, querida companheira de viagem!



ad eternum:


Nivaldo e Inês Mossato

Desde 09/12/1989

 


segunda-feira, 29 de março de 2021

ENTRE AS CRUZES DO CAMINHO

 




Encontrei-O entre as cruzes que durante toda minha vida, relutei em aceitar. Cristo enviava-me as cruzes e eu, teimosamente ia depositando-as à beira dos caminhos. Uma a uma. Uma após outra. E Ele, no seu Amor, pacientemente insistia:

 - Toma sua Cruz e siga-me! 

Olhava eu, para dentro de mim e tentava não entendê-Lo, para não assumir que o peso de minhas cruzes não estava no outro, estava em mim. Aceitar isso era demais! Ele queria muito. Ele queria tudo! Quanto mais eu tentava fugir, mais Ele se aproximava:

 - Toma sua cruz! 

Olhava eu, novamente para dentro de mim e, fugindo do impossível, renegava-O naqueles que Ele mesmo me escolhera como companheiros de viagem. Renegava-O na minha esposa, renegava-O em meus filhos, renegava-O em mim mesmo.

Santamente Ele tomava meus pecados e devolvia-os a mim, em forma de cruz, para que eu, retomando-os, cada vez mais, com maior intensidade, pudesse gerar em mim mesmo a consciência do seu inexorável Amor:

- Amor jorrado na Cruz! 

Saí de casa ainda garoto, imaturo, apaixonado pela vil liberdade e pelas coisas do mundo. Impulsionado pelo motivo de que meu pai bebia muito e brigava com minha mãe, traí quem mais me amava. Cristo deu-me então de presente uma esposa alcoólatra, a qual não soube entender, amar e respeitar. E nessa dor, vieram os filhos, e veio a morte. E o Cordeiro suplicava:

- Toma sua cruz...! 

Preso em meu egoísmo e tomado pelas coisas do mundo, não queria ouvir as verdades a meu respeito. Paciente, Ele tomou-me outra vez pelas mãos e deu-me como segunda esposa aquela que seria capaz de colocar-me frente-a-frente com o espelho, levando-me a enfrentar meus piores pesadelos. No entanto, eu ainda não estava pronto. Sabiamente devolveu-me meu pai, já velho e doente, e, novamente impetrava:

- Toma sua cruz...! 

Por fim, quando pensava eu ser feliz por ter encontrado na minha filha mais nova o retrato perfeito da família com a qual sempre sonhara e reaprendido com ela e seus irmãos a função de um pai na vida dos seus filhos, Ele tomou-a de meus braços e arrebatou-a aos céus. Veio então a loucura do não-ser, o abismo de alma, a noite mais escura, o deserto dos esquecidos, a dor de todas as dores, o abandono do Pai: Élôï, Élôï, lema sabachthani” – Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste? Converteu-me então em seu amor.


- Amor jorrado de sua cruz!

 

Dobrei-me, e compreendi:

- Não devo fugir das cruzes de minha vida, pois é impossível fugir de mim mesmo. Sou eu as pedras do meu caminho, o peso das minhas cruzes, as sombras de minha escuridão. Os outros, aqueles que Cristo sabiamente coloca na nossa frente, são os espelhos que fazem refletir o que realmente somos! 

Reencontremo-nos! Recomecemos sempre, mergulhados no pensamento de que Deus nos ama imensamente. Coloquemo-nos de frente ao espelho e não tenhamos medo do que possamos ver. Deixemos refletir corpo e alma, sem medo, pois todo aquele que crê, jamais sofrerá por ter crido. Todo aquele que O encontrar entre as cruzes do caminho usufruirá da luz que brilha do outro lado da cruz. O amor de Cristo se faz presente nas nossas cruzes e, Nele, o divino se faz humano e o humano se diviniza, inundando nossa alma de luz e sabedoria.

 

 Ressuscitemos,

Sejamos novos.

Sejamos luz no mundo!